Deputada trans responde críticas do PT sobre candidatura

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Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados/Marcelo Theobald/Infoglobo

A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) reagiu às críticas de integrantes do PT sobre uma possível candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte no ano que vem. O movimento ocorreu após um dos vice-presidentes da sigla, Washington Quaquá (PT-RJ), e o deputado federal Odair Cunha (PT-MG) terem se colocado contrários a um apoio do partido à postulação da pedetista durante discussão em um grupo da sigla no WhatsApp.

Ao GLOBO, Salabert negou ser um nome voltado apenas para a agenda LGBTQIAP+ e explicou alguns de seus planos para a capital mineira, como redução da tarifa do transporte público e habitação para a população de rua:

— Não sou uma candidatura identitária, mas não cabe a mim discutir a posição de um partido ao qual não sou filiada. Minhas principais bandeira sempre foram educação, meio ambiente e mobilidade urbana, não faz sentido me reduzir à minha identidade de gênero — afirma a deputada.

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A parlamentar confirmou que deve concorrer à prefeitura da cidade por se considerar um nome competitivo, mas nega se tratar de desejo pessoal. Por ser uma mulher transexual, Salabert relata que durante as eleições se torna mais alvo de preconceito.

— No ponto de vista pessoal, participar sempre é muito sofrido, passo por muita violência política. Mas candidaturas extremistas têm se colocado e é preocupante. As pesquisas têm mostrado o meu nome como o melhor desempenho no campo progressista. Neste cenário, participarei do pleito — explica.

Os planos de Salabert, no entanto, não estão tão certos dentro dos dois partidos. Um apoio do PT pode ser inviabilizado pelo desejo de ter uma candidatura própria: o deputado federal Rogério Correia e as estaduais Macaé Evaristo e Beatriz Cerqueira são os nomes ventilados até o momento.

Já no PDT, sua atual sigla, o presidente licenciado Carlos Lupi vem dando declarações públicas de apoio à pré-candidatura, mas internamente o cenário é mais complexo:

— Duda Salabert tem manifestado interesse na pré-candidatura e aparece relevante nas pesquisas, mas fizemos o compromisso de continuar dialogando com o prefeito e viabilizar um caminho de poder para o PDT. É preciso discutir, ainda — disse o presidente do diretório municipal Bruno Miranda.

Miranda afirmou ainda que parte da militância do PDT se preocupa com uma possível desfiliação de Salabert. A deputada confirmou ao GLOBO que recebeu o convite para integrar o próprio PT, que não foi rechaçado de imediato, mas frisou que a prioridade é “construir uma frente progressista” para a eleição de Belo Horizonte.

A parlamentar se refere aos cotados do PL, Bruno Engler e Nikolas Ferreira, que obtiveram votação expressiva na capital nas últimas eleições. Para além da polarização com o bolsonarismo, o atual prefeito Fuad Norman tem se esquivado de questionamentos sobre uma possível reeleição. A expectativa é que o PSD lance candidato independentemente de Norman, que assumiu a prefeitura no ano passado, quando Alexandre Kalil renunciou para concorrer ao governo do estado.

Em conversa no grupo de WhatsApp do PT, Quaquá compartilhou uma reportagem que falava sobre a possibilidade de Salabert ter o apoio do PT na disputa do ano que vem. “Precisamos rediscutir nossa tática pra ganhar o eleitor da periferia. Tirar eleitorado lulista mas conservador nos costumes para voltar pro lulismo. E precisamos discutir seriamente isso. Essa coisa por exemplo de Duda Salabert numa das capitais mais importantes do país precisa ser bem discutida, porque tem efeito nacional”, afirmou o deputado.

A mensagem teve o apoio do deputado federal Odair Cunha, que afirmou que o partido deve lançar candidatura própria na capital mineira: “Essa história de Duda vai fazer com que o PT desapareça”, disse.

Ao GLOBO, o vice-presidente do PT reiterou ser “absolutamente contra” à possibilidade de Salabert ter o apoio do PT em Belo Horizonte:

— Acho que é uma candidatura ruim, tem audiência num pedaço do setor da classe média e acho que comportamento não deve nos guiar. As candidaturas ideológicas têm nos afastados do eleitor mais pobre, de periferia, que deve ser nossa prioridade. Lá em BH, temos pessoas mais capacitadas.

Apesar das críticas do PT nacional, uma possível filiação de Duda Salabert é vista com bons olhos internamente. O presidente do diretório municipal de Belo Horizonte, Guima Jardim, afirmou que a deputada seria “extremamente bem-vinda”, mas afirma não haver negociações em curso:

— Não existe nenhuma conversa. Ela nunca me procurou, nunca procurou o diretório municipal. Ela é uma personagem importante em Belo Horizonte, não temos objeção nenhuma. A trajetória dela honra a cidade, mas não há negociação — disse.

O Globo