Lula pode tirar ministério de Alckmin
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Apesar da resistência pública da cúpula do PSB à eventual redução do espaço da legenda no governo, um dos esboços da reforma ministerial submetido à análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contempla mudanças nas pastas comandadas pelo partido. Num dos movimentos considerados mais sensíveis, Lula teria que afastar o vice-presidente Geraldo Alckmin do comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). A se confirmar esse movimento, entretanto, o Mdic não entraria no lote de ofertas ao Centrão. Para reduzir o desgaste com o vice e com a legenda, a alternativa sugerida a Lula é de que o ministro Márcio França, também do PSB, assumisse a cadeira de Alckmin, abrindo espaço para que o Ministério de Portos e Aeroportos fosse negociado com Republicanos ou Progressistas (PP).
Inicialmente, o time de articuladores de Lula cogitou o afastamento de Alckmin do Mdic para confiar a pasta ao Republicanos, contemplando um dos pedidos da legenda, que já esteve à frente do ministério. O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), foi titular do Mdic na gestão de Michel Temer, entre 2016 e 2018. Outra opção encaminhada pelo Republicanos aos auxiliares de Lula para ingressar no governo foi a direção do Ministério do Esporte, pasta que o partido comandou na gestão Dilma Rousseff entre 2015 e começo de 2016, com o então deputado federal George Hilton (MG). Esse pleito, entretanto, ensejou forte reação da ala feminina contra a diminuição das mulheres no primeiro escalão, já que a campeã olímpica Ana Moser está à frente do ministério. Um auxiliar presidencial observou, em conversa reservada com o Valor, que diante da delicadeza da eventual requisição do Mdic ao vice-presidente, uma compensação seria manter a pasta na cota do PSB, de modo que nenhum dos quadros da legenda ficasse sem um posto de projeção no governo. Se essa hipótese se confirmar, Lula daria missões especiais a Alckmin, a fim de empoderar ainda mais o vice-presidente. Nesses últimos sete meses, em que acumulou a função com o Mdic, o vice viabilizou a retomada do diálogo de Lula com o setor produtivo, incluindo o agronegócio. Entre outros feitos, deu fôlego à indústria automotiva, com a entrega do pacote encomendado por Lula. Nos últimos dias, Alckmin tem cumprido uma intensa agenda de viagens, em visita às federações da indústria nos Estados. Na segunda-feira, tem agenda na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em paralelo, se for necessário entregar Portos e Aeroportos ao Centrão, Márcio França permaneceria no primeiro escalão. Lideranças do PSB têm lembrado o papel do ex-governador na campanha: além de aproximar Alckmin e Lula, renunciou à disputa ao governo paulista para apoiar a candidatura de Fernando Haddad (PT), num dos gestos mais relevantes da campanha. Mesmo com a preocupação de não tirar protagonismo de Alckmin e de manter França em um ministério, uma liderança do PSB disse ao Valor, em anonimato, que qualquer mudança seria muito ruim para a legenda, sobretudo porque os ministros do partido estão bem avaliados. “Ainda que não se tenha mais gratidão na política, a memória continua firme”, criticou esta liderança do PSB ao relembrar o papel de Alckmin e França na vitória de Lula. Ele acrescentou que remanejar França seria prejudicá-lo politicamente, porque ele está desenvolvendo um projeto estratégico ligado ao Porto de Santos, município que é um de seus redutos eleitorais. Até o momento, Lula não teve conversa definitiva sobre as mudanças no primeiro escalão com nenhum dos principais interlocutores, inclusive com Alckmin. A pauta, entretanto, tem sido monitorada de perto pela cúpula do PSB. No fim de semana, Alckmin encontrou-se com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que tem feito as críticas mais incisivas à eventual intervenção nos espaços do PSB para abrir espaço à entrada do Centrão no governo.