Não pare de falar, Lula

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Lula é alvo de “conselhos” e “ordens” — da imprensa, do empresariado, dos banqueiros, dos adversários e até de aliados — para que pare de falar desde que despontou nas greves do ABC e se identificou com o movimento trabalhista — e, por associação, com o socialismo ou, na visão da extrema-direita, com o comunismo.

Peguemos alguns exemplos recentíssimos dessa natureza de “pedidos”:

Quando Lula diz que Ucrânia e Rússia têm a mesma responsabilidade pela guerra, pedem que se cale;

Quando Lula condena a invasão da Ucrânia, pedem que se cale;

Quando Lula diz que a Lava Jato foi gestada em comum acordo com os EUA, pedem que se cale;

Quando Lula diz que a taxa de juros está alta e critica o Banco Central, pedem que se cale;

Quando Lula fala em economia, dizem que ele não entende do assunto e pedem que se cale;

Quando diz que a democracia é “relativa”, pedem que se cale.

Muita gente anda dizendo que Lula está falando demais, que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”… Mas será que, em algum dos exemplos supracitados, não teria razão? Analisemos, pois, cada um dos tópicos usados como exemplo dos pedidos de silêncio ao mandatário:

Quando Lula iguala a responsabilidade dos dois países pela guerra em que se meteram, critica (também) a Ucrânia. E como a Ucrânia foi invadida e não cometeu ato de guerra, os defensores da Ucrânia chiam. Mas será que esse país não poderia ter evitado o que sabia que os russos veriam como ameaça não metendo a OTAN no meio da história? Afinal, a OTAN é uma organização militar…

Quando Lula condena a invasão da Ucrânia, critica a Rússia e os partidários dos russos querem que ele se cale. Mas será que invadir a Ucrânia foi mesmo uma boa ideia? A Rússia não poderia evitar a guerra — e seu consequente morticínio — tentando sanções econômicas ou até mesmo reforçando seu poder dissuasório?

Quando Lula acusa a Lava Jato de ter conspirado com os americanos contra si, dizem que ele não tem provas. Será que esqueceram da “conversa” entre Deltan Dallagnol e seus coleguinhas da Lava Jato divulgada em 2021, conversa na qual ele confessou que a prisão de Lula era um “presente da CIA”?

Quando Lula critica o Banco Central por manter a taxa básica de juros da Economia em 13,75% mesmo com o país tendo deflação em vez de inflação, dizem que ele está errado. Mas será que não enxergam que o empresariado e até economistas premiados com o Nobel de Economia também criticam o Banco Central pela mesma razão?

Quando Lula fala em economia, por exemplo sobre os preços da Petrobras ou sobre a privataria da Eletrobras, dizem que não entende nada de economia. Mas será que esqueceram que sua gestão vem sendo elogiada pelo FMI e pelas agências internacionais de classificação de risco, que aumentaram a nota de crédito do país?

Quando Lula diz que a democracia é relativa, é criticado até por aliados. Mas será que algum deles diria que a democracia no governo Bolsonaro era igual à democracia (vá lá) no governo Fernando Henrique Cardoso? Se a democracia não estava igual nos dois momentos, então ela não é, de fato, relativa?

Não dê bola aos censores, Lula. Não se cale. Na verdade, precisamos que fale. E muito, porque, do outro lado, o fascismo (com ou sem Bolsonaro) não para de falar. E, ao falar muito, conquistou corações e mentes ingênuos e/ou mal-intencionados. Lula deve falar claramente e todos podem gostar ou não, mas têm que ouvir.

Redação