Tebet teme que Centrão tire mulheres do ministério de Lula

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Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

A negociação de cargos com partidos de Centrão vem avançando sobre espaços ocupados por mulheres no primeiro escalão do governo, justamente um dos fatores exaltados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na sua composição ministerial. Além da iminente demissão da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, em um acordo com o União Brasil, Lula vem sendo pressionado a substituir a ministra do Esporte, Ana Moser, e a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, por indicados de PP e Republicanos. Aliados e integrantes do governo mostram descontentamento e cobram ao menos a manutenção da proporcionalidade de gênero.

No início do governo, Lula nomeou mulheres para chefiar 11 dos seus 37 ministérios, número superior à largada dos mandatos anteriores de Jair Bolsonaro, de Dilma Rousseff e do próprio Lula. Em caso de substituições por homens no Turismo e no Esporte, a presença feminina cairá para nove ministérios, número similar ao do primeiro mandato de Dilma, em 2011, que começou com oito ministras. O nome mais cotado para o lugar de Ana Moser é o do deputado federal Silvio Costa Filho (Republicanos-PE); já o substituto de Daniela será o deputado Celso Sabino (União-PA)

Nesta quarta-feira, na chegada a uma cerimônia no Palácio do Planalto, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse “torcer” pela manutenção da representação feminina.

— Se porventura tiver uma mudança ministerial, vamos torcer para que sejam colocadas mulheres. O importante é a proporcionalidade, a representação de mulheres — disse Tebet.

Outro gesto de Lula por maior protagonismo feminino na gestão está prestes a ser desfeito. Seis meses após ter nomeado duas mulheres para as presidências do Banco do Brasil — neste caso, de forma inédita — e da Caixa, o presidente vem sinalizando a interlocutores que considera difícil manter o atual desenho. A presidente da Caixa, Rita Serrano, é alvo de insatisfações de parlamentares e dentro do governo, conforme reconhecem integrantes do PT.

Funcionária de carreira, Serrano é vista como quadro técnico, mas que apresenta dificuldades no trato com políticos, que recorrem à Caixa para liberar financiamentos de obras e repasses para bases eleitorais. Interlocutores do PT, por sua vez, criticam uma suposta demora para trocar diretores herdados da gestão de Pedro Guimarães, aliado de Bolsonaro e alvo de denúncias de assédio sexual.

Em meio aos percalços na Caixa e numa tentativa de ampliar a base no Congresso, o governo avalia nomear Gilberto Occhi, ligado à bancada do PP e ex-ministro nos governos Dilma e Temer, na presidência do banco. Occhi ganhou força por ser considerado um nome com trânsito na classe política, inclusive no PT.

Nesta quarta-feira, de olho em uma sobrevida no cargo, Serrano esteve ao lado de Lula na assinatura de um convênio para obras de infraestrutura e saneamento em Pernambuco. O presidente já havia se reunido anteontem com Ana Moser, outro alvo do Centrão.

“Estamos cumprindo nosso dever e isso, obviamente, tem a ver com a orientação do presidente Lula de que nos dediquemos na melhoria da vida da população brasileira, em sinergia com estados e municípios”, publicou Serrano nas suas redes sociais após o encontro.

Serrano também recebeu apoio no movimento sindical. Em nota, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), que avalizou sua nomeação, criticou a “pressão do Centrão para assumir a presidência da Caixa” e disse que a “instituição não pode ser usada como moeda de troca”.

Como mostrou o colunista Lauro Jardim, do GLOBO, Serrano também fez uma série de publicações nas redes sobre a importância da representatividade feminina.

— A proporcionalidade é um argumento para que talvez Lula possa bater o pé. Mas sabemos que a pressão é muito forte — afirmou o deputado Reimont (PT-RJ), interlocutor dos sindicatos de bancários.

O Globo