Bolsonaro vai destruir a direita paulistana

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

“São Paulo mostrou que restam poucos dias para o negacionismo e para o obscurantismo. São Paulo disse sim à democracia, à ciência, à moderação, ao equilíbrio.” Reeleito em 2020 como prefeito da capital paulista, Bruno Covas (PSDB) marcou no primeiro discurso depois da vitória o distanciamento e as diferenças em relação ao então presidente Jair Bolsonaro (PL). Dois meses depois, em estágio avançado de um câncer, Covas foi atacado por Bolsonaro por ter ido ao Maracanã, durante a pandemia, em um dos últimos passeios que o tucano fez com o filho antes de falecer, em maio de 2021.

As diferenças de pensamento e da gestão de Covas em relação a Bolsonaro, além dos ataques de bolsonaristas durante o tratamento contra o câncer, são lembrados pelo dirigente do PSDB Orlando Faria ao criticar a aproximação do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), ao ex-presidente. Eleito como vice, Nunes assumiu com a morte de Covas. Em busca da reeleição, negocia o apoio de Bolsonaro e pode dar ao PL a vice.

“Covas tinha posicionamento contrário ao que estava acontecendo no país [com Bolsonaro]”, diz Faria, braço direito de Covas na prefeitura e ex-secretário de João Doria, Covas e Nunes. “O desenho do governo hoje é diferente do que imaginamos lá atrás”, diz ao falar do espaço dado por Nunes ao Republicanos e PP, e do acordo com Bolsonaro.

A provável aliança de Nunes com o ex-presidente aprofunda a crise do PSDB em São Paulo. Sem um nome forte para disputar a capital, o partido diverge sobre o apoio ao prefeito.

Responsável pelo grupo eleitoral da federação PSDB-Cidadania em São Paulo, Orlando Faria questiona qual será o programa de Nunes em um eventual novo governo: à centro-esquerda, como o de Covas, ou mais à direita e à extrema direita, para agradar bolsonaristas.

Assim como Faria, lideranças tucanas rejeitam a aproximação com Bolsonaro e defendem a candidatura própria ou uma aliança com um nome da centro-esquerda, como a deputada Tabata Amaral (PSB). O diretório municipal, no entanto, diz que o apoio a Nunes está selado.

Em meio a divergências, foram apresentadas denúncias contra o presidente do diretório paulistano, Fernando Alfredo, e o comando estadual do PSDB suspendeu a convenção da capital, marcada para setembro. Alfredo é acusado de desfiliar tucanos e fazer filiações em massa para garantir apoio a Nunes. O dirigente nega irregularidades e diz que a eleição partidária está mantida. “É um processo político”, afirma. No fim de semana, diretórios zonais fizeram convenção, em preparatório para a municipal. Em setembro, Alfredo tentará um novo mandato.

Aliado de Nunes, o dirigente minimiza o acordo com Bolsonaro. “[Nunes] tem que se aproximar de todo mundo”, diz Alfredo. “Apoio a gente não recusa. Mas não significa que Bolsonaro estará no palanque.”

A aliança com Nunes ainda vai depender dos novos dirigentes. Em setembro, o PSDB fará convenções municipais; em outubro, estaduais, e em novembro, a nacional.

Valor Econômico