PSDB deve ser pulverizado em 2024

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Foto: Jose Cruz/ABr

Fora do comando do governo de São Paulo depois de sete gestões consecutivas, o PSDB calcula perder até o próximo ano metade dos prefeitos que elegeu em 2020 no Estado. O principal destino dos ex-tucanos tem sido o PSD, partido comandado por Gilberto Kassab, secretário de Governo da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O partido de Kassab deve se consolidar neste ano como a legenda com o maior número de prefeitos paulistas, tirando o posto do PSDB. No governo, o secretário tem entre suas atribuições a articulação de convênios e emendas para os municípios. O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, o Republicanos do governador Tarcísio, o PSB do vice-presidente e ex-governador Geraldo Alckmin, e o PP do senador Ciro Nogueira também têm feito uma ofensiva em busca dos prefeitos filiados ao PSDB, com vistas às eleições municipais de 2024.

A debandada do PSDB deve ter forte impacto no partido, sobretudo pela filiação em massa de prefeitos em 2021, quando João Doria era governador e atraiu dezenas de mandatários para a legenda antes de disputar a prévia nacional do PSDB contra o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, atual presidente nacional da sigla.

Em 2020, o PSDB elegeu 172 prefeitos em São Paulo. Com a articulação de Doria, ficou no comando de 238 prefeituras, quase 40% dos 645 municípios. Agora, o partido calcula chegar a 80 prefeitos e trabalha para eleger no próximo ano entre 80 e 100 prefeitos no Estado. Nem todos devem ser do PSDB, já que o partido está federado com o Cidadania.

Nos cálculos do PSDB paulista, o PSD poderá chegar a 230 prefeituras no Estado – mais do que o triplo das 65 eleitas em 2020.

O prefeito não pode fazer do partido uma legenda de aluguel”
— Orlando Faria

Com dificuldade para a renovação de quadros, o partido deve apoiar nomes do Cidadania em grandes cidades paulistas. Em Campinas, terceira maior cidade do Estado, com 881 mil eleitores, deve se aliar ao deputado estadual Rafa Zimbaldi (Cidadania). Em São Bernardo do Campo, quarta maior cidade, com 641,4 mil eleitores, apoiará o deputado federal Alex Manente (Cidadania). Na capital, com 9,3 milhões de eleitores, deve apoiar o prefeito Ricardo Nunes (MDB) (leia mais nesta página).

Presidente da federação PSDB-Cidadania em São Paulo, o prefeito de Santo André, Paulo Serra, avalia que os tucanos estão sem identidade, distanciaram-se dos eleitores e ainda buscam qual rumo seguir. “O partido ficou ideologicamente sem bandeiras e as pessoas não reconhecem mais no PSDB o que reconheciam em um passado não tão distante”, afirma Serra.

“Hoje não tem identidade, o que é até pior do que se posicionar na esquerda ou na direita”, diz o prefeito. Ligado a Eduardo Leite e cotado para comandar o PSDB paulista, Serra afirma que o “grande desafio” é as pessoas “voltarem a identificar no PSDB alguma identidade”. “Isso se perdeu ao longo do tempo. Não adianta citar como culpado ‘A, B ou C’. Foi um processo ao longo do tempo.”

Tesoureiro nacional do PSDB, o prefeito pondera que o partido está em busca dessa reconexão com a sociedade e deve voltar às suas origens. Na semana passada, a sigla fez em Brasília um seminário para falar sobre as bandeiras que deve seguir. Entre as diretrizes, está a de ser de centro e uma alternativa à polarização entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O protagonismo obtido no evento pelo deputado federal e ex-presidente do PSDB Aécio Neves, no entanto, gerou um mal-estar entre tucanos. Em São Paulo, o grupo ligado ao ex-prefeito Bruno Covas, morto em 2021, classificou o destaque de Aécio como um “retrocesso” e teme que o deputado volte a ter influência nos rumos do PSDB e desgaste a imagem da legenda. Covas lutou pela expulsão de Aécio, depois de denúncias contra o tucano. O parlamentar foi acusado de supostamente pedir propina para pagar sua defesa na Lava-Jato, mas foi absolvido.

Até o fim do ano, o partido deve passar por novos embates e desgastes, até a definição dos novos presidentes dos diretórios municipais (em setembro), estaduais (em outubro) e do comando nacional (em novembro). Em busca de pavimentar uma possível candidatura presidencial em 2026, Leite tentará se manter no comando da sigla.

Os embates sobre o comando partidário já começaram. O diretório estadual suspendeu as convenções da capital. No entanto, o presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo, diz que a eleição na capital será realizada e fez as convenções dos zonais no sábado.

Com a perda de prefeitos, o PSDB paulista deve suspender a convenção em mais de 65 municípios, onde o prefeito que era filiado ao partido migrou de legenda. Segundo o responsável pelo grupo eleitoral da federação PSDB-Cidadania em São Paulo, Orlando Faria, a ideia é impedir que os ex-tucanos façam com que o PSDB apoie candidatos de outros partidos. “O partido era do prefeito nessas cidades e agora o prefeito não pode fazer do PSDB uma legenda de aluguel. Vamos avaliar caso a caso”, disse.

Valor Econômico