Celular de Mauro Cid denuncia militares golpistas

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Foto: AFP

Perícia realizada pela Polícia Federal (PF) no celular do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, constatou que o tenente-coronel André Luís Cruz Correia, que integrava o Gabinete de Segurança Institucional — organismo diretamente envolvido na segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, participava de um grupo no WhatsApp no qual se defendia a aplicação de um golpe de Estado e se atacava o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O militar foi exonerado da função no GSI.

Entretanto, apesar de o tenente-coronel ter sido destituído da função que ocupava no Gabinete, ele já estava nomeado para outro cargo no Comando do Exército. A demissão de Correia do GSI, como divulgou o site G1 e confirmou o Correio, foi publicada no Diário Oficial da União em 10 de agosto.

Mas, dois dias antes, em 8 de agosto, ele já estava designado para a função de oficial de gabinete do comandante do Exército, Tomás Paiva — como atesta o DOU. A assessoria da Força informou que a nomeação do tenente-coronel ocorreu devido a uma “permuta de servidores”, já que o GSI havia solicitado um militar que atuava na Comunicação do Exército.

Correia acompanhou Lula para a reunião dos países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), na Bélgica. A última viagem na segurança do presidente foi para Puerto Iguazu, na Argentina, ambas em julho.

O militar teria sido transferido da Bahia para Brasília, após pedir ajuda a Mauro Cid. A nomeação de Correia ocorreu em março. O ministro do GSI, Marcos Antonio Amaro dos Santos, negou saber da constatação da PF e não deu detalhes da exoneração. Ele afirmou apenas que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro não teria poder para atender a solicitação feita por Correia.

Documentos enviados à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos de 8 de janeiro já haviam divulgado que o GSI enviou à Mauro Cid informações sobre a segurança das viagens de Lula. O tenente-coronel recebeu, entre 6 e 13 de março, documentos classificados como “urgentíssimos”, detalhando agendas em Xangai (China), Brasília, Foz do Iguaçu e Boa Vista. O período coincide com a época em que Bolsonaro e Cid estavam nos Estados Unidos.

O episódio envolvendo Correia reaquece o conflito entre a PF e o GSI pelo comando da segurança presidencial. No início do ano, a responsabilidade foi passada às mãos dos agentes federais, mas retornou ao Gabinete em junho em formato “híbrido” — com a participação de civis, policiais e militares.

A participação de Correia no grupo de militares que pregavam o golpe de Estado foi confirmada pela PF, que explicou que o tenente-coronel não é investigado no inquérito que apura atos antidemocráticos. Isso, porém, se dará se for comprovada uma “efetiva participação” do militar no compartilhamento de mensagens com teor antidemocrático.

Porto Alegre celebrará, a partir do próximo ano, o Dia do Patriota, em 8 de janeiro — data em que radicais bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, numa tentativa de golpe de Estado. O presidente da Câmara Municipal da capital gaúcha, vereador Hamilton Sossmeier (PTB), promulgou um projeto de lei de autoria do vereador Alexandre Bobadra (PL) — que foi cassado —, uma vez que o prefeito Sebastião Melo (MDB) não sancionou nem vetou a lei nos 15 dias de prazo que tinha para fazê-lo.

O governador Eduardo Leite (PSDB) não se manifestou, apesar de ter publicado nas redes sociais, em 8 de janeiro, que “as cenas criminosas que vemos em Brasília, com barbárie e terrorismo no Congresso, STF e Planalto são absolutamente inaceitáveis em nossa democracia”.

Correio Braziliense