Cid fazia depósitos fracionados em intervalo de minutos

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Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Os arquivos dos e-mails de nove ajudantes de ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que estão nas mãos da CPI dos atos golpistas, no Congresso Nacional, mostram ainda mais o esquema peculiar de saques e pagamentos de despesas em dinheiro vivo. Em pastas de e-mails deletados há centenas de recibos de depósitos em dinheiro em diferentes contas. O conteúdo dessas mensagens foi repassado para a CPI e o Metrópoles teve acesso.

Além dos pagamentos de despesas pessoais da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, de salões de beleza e manicures, os documentos mostram que era comum a realização de depósitos fracionados em intervalo de minutos para uma mesma conta.

Dentre os recibos repassados à CPI este ano, constam pagamentos mensais de R$ 2.840, de forma fracionada, na conta de Maria Helena Graces de Moraes Braga, tia da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e ex-funcionária do gabinete de Bolsonaro na época em que ele era deputado.

No dia 18 de agosto do ano passado, por exemplo, ela recebeu a quantia dividida em três depósitos: um de R$ 1 mil às 09:24:56; outro também de R$ 1 mil às 09:26:20; e um terceiro de R$ 840 às 09:27:57. A realização de três depósitos se repetiu em novembro, e em outros meses o cenário variava, com dois depósitos, como foi o caso de novembro e outubro.

Outro caso é o do ajudante de ordem Adriano Alves Teperino, que recebeu quatro depósitos de R$ 1 mil cada no dia 26 de setembro do ano passado em um intervalo de quatro minutos.

Depósitos fracionados e em pequenos valores são utilizados normalmente para evitar o rastreio de autoridades financeiras, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), por atividade suspeita. A medida é usada na tentativa de dissimular o valor total das transações.

Há, ainda, ao menos um depósito de R$ 3,7 mil para Edenilson Nogueira Garcia, ex-marido da Wal do Açaí. Wal é suspeita de ter sido funcionária fantasma de Bolsonaro na época que ele era deputado federal. O pagamento a Edenilson foi feito em janeiro do ano passado.

A conta dele foi alvo do Ministério Público Federal (MPF) em investigação da ex-mulher, que era lotada em Brasília como servidora, mas vendia açaí na praia em Angra dos Reis e sacava a maior parte do salário.

Os depósitos em dinheiro também eram feitos de forma fracionada para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

No dia 10 de fevereiro, por exemplo, ela recebeu um total de R$ 4,7 mil em cinco diferentes depósitos em dinheiro, realizados em um intervalo de menos de 10 minutos, na tarde de 10 de fevereiro do ano passado.

No total, como mostrado pelo Metrópoles na última quarta-feira (9), em um intervalo de 11 dias a equipe de Mauro Cid depositou ao menos R$ 60 mil na conta de Michelle, em 45 operações bancárias.

Os recibos nos e-mails da equipe de Cid também mostram que pagamentos fracionados em intervalos curtos de tempo eram uma rotina.

Em janeiro do ano passado, o colunista do Metrópoles Rodrigo Rangel revelou com exclusividade que o Palácio do Planalto tinha uma espécie de caixa dois. A reportagem mostrava que havia uma estrutura, no Planalto, sob comando de Cid, que cuidava de pagar, muitas vezes em dinheiro vivo e na boca do caixa, despesas do clã presidencial.

Entre esses pagamentos havia até faturas de um cartão de crédito que uma amiga de Michelle emprestava à então primeira-dama. Cid, como mostrou a reportagem, operava o caixa que incluía recursos sacados de cartões corporativos.

O Metrópoles entrou em contato com as defesas de Cid, de Bolsonaro e com Adriano, e aguarda um retorno. O espaço segue aberto para manifestações. Por telefone, Edenilson disse que nunca trabalhou para Bolsonaro e não respondeu sobre o depósito em sua conta.

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