CPMI vota hoje retenção do passaporte de Bolsonaro

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Integrantes governistas da CPMI do 8 de janeiro costuram acordo com o presidente do colegiado, o deputado Arthur Maia (União-BA), para que sejam colocados em votação, na sessão deliberativa desta terça-feira, requerimentos de retenção dos passaportes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). Também existe forte pressão para aprovação de quebras dos sigilos telemático e fiscal do casal.

Estão na mira ainda solicitações de convocação e quebras de sigilo relacionadas a oficiais das Forças Armadas, a exemplo do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, e a ex-integrantes da cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF), presos na sexta-feira em operação da Polícia Federal (PF).

A investida mais direta contra Bolsonaro ocorre após depoimento de Walter Delgatti, o hacker da Vaza Jato, e a possibilidade de uma confissão do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, sobre a venda de um relógio da marca Rolex recebido pelo ex-presidente.

Na CPMI, Delgatti afirmou que Bolsonaro pediu para ele forjar a invasão de urnas eletrônicas e ainda assumir, com a promessa de um indulto, a autoria de um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Delgatti revelou também que, após encontro com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, participou de cinco reuniões no Ministério da Defesa por ordem do ex-presidente. Uma delas teria sido com o então ministro Nogueira. De acordo com o hacker, o relatório das Forças Armadas com questionamentos à lisura das urnas eletrônicas – encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – foi feito com base em suas informações. Procurada pelo Valor, a defesa de Bolsonaro não respondeu. O ex-presidente tem classificado as declarações de Delgatti como “fantasiosas”.

O depoimento do hacker na semana passada, com acusações contra o ex-presidente, foi considerado um divisor de águas na comissão. O próprio Arthur Maia, que tem barrado sistematicamente tentativas governistas de envolver mais diretamente Bolsonaro nas investigações da CPMI, sinalizou uma mudança de posição.

“Perplexo com as gravíssimas declarações do Walter Delgatti. Acho que a CPMI precisa se debruçar sobre esse depoimento e investigar se esses absurdos de fato aconteceram”, publicou ele nas redes sociais logo após o término da sessão.

Poucos dias antes, Maia havia frustrado expectativas governistas em relação à apuração do caso das joias recebidas por Bolsonaro em viagens oficiais. “Aviso aos navegantes: CPMI tem o propósito de investigar acontecimentos do dia 8 de janeiro. Não admitirei que seja transformada em um palco de discussões estranha a esse objeto”, disse.

Ele havia destacado também que eventuais denúncias de corrupção não seriam tratadas na comissão.

“Há mais tempo, nós havíamos pedido para colocar a quebra de sigilo de Bolsonaro e da Michele na pauta de votação. Agora, ficou ainda mais evidente a necessidade. Por isso, vamos insistir. A retenção dos passaportes também é urgente”, declarou o deputado Rogério Correia (PT-MG).

A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI, deve pedir para que seja incluída na pauta de votação requerimento para convocação do general Mauro Lorena Cid, pai de Mauro Cid. Ele foi alvo de operação da PF por suspeita de ter participado do esquema de venda de joias no exterior. Uma parte dos recursos arrecadados com o crime teria transitado por sua conta.

A relatora também vai pedir que sejam votados pedidos para quebra de sigilo e convocação do coronel Klepter Gonçalves, ex-comandante-geral da PM-DF, além de outros três coronéis, um major e um tenente. Todos foram presos na sexta, também sob suspeita de se omitirem deliberadamente no dia 8 de janeiro para criar instabilidade no país, com o intuito de um golpe de Estado.

Valor Econômico