Ex-ajudante de Bolsonaro assinou retirada de Rolex

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução/Sgt Gobo

A operação da Polícia Federal deflagrada na manhã desta sexta-feira sobre um suposto esquema de venda de presentes dados ao Estado brasileiro durante missões oficiais no exterior traz o tenente do Exércio Osmar Crivelatti como um dos alvos. Ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), Crivellatti seguiu com o ex-presidente após a sua saída do cargo de chefe do Executivo.

Os mandados foram determinados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e estão sendo cumpridos em Niterói, no Rio de Janeiro; em São Paulo e em Brasília. As ações ocorrem dentro do inquérito policial que apura a atuação do que se convencionou chamar “milícias digitais” em tramitação perante o STF.

O militar foi escolhido por Bolsonaro como um dos auxiliares pessoais a que tem direito como ex-presidente. Em 6 de junho de 2022, Crivelatti assinou a retirada de um Rolex do “acervo privado” para o gabinete dele. O relógio, avaliado em R$ 300 mil, foi doado pelo rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdul-aziz em uma viagem oficial e teria sido negociado por Mauro Cid.

De acordo com a PF, os alvos são suspeitos dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. “Os investigados são suspeitos de utilizar a estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior”, informou a corporação.

O inquérito apontou que os valores obtidos das vendas desses objetos teriam sido convertidos em dinheiro vivo e “ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”.

Como O GLOBO divulgou na semana passada, a Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI) do 8 de janeiro analisa e-mails de Mauro Cid negociando um relógio da marca Rolex recebido em uma viagem oficial. De acordo com o material em posse da comissão, em 6 de junho de 2022, Cid recebeu um e-mail em inglês de uma interlocutora. “Obrigado pelo interesse em vender seu Rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui”, disse ela. “Quanto você espera receber por ele? O mercado de Rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa”, escreveu.

Em resposta, Mauro Cid disse que não possuía o certificado do Rolex, pois “foi um presente recebido durante uma viagem oficial”, e que pretendia vender a peça por US$ 60 mil (cerca de R$ 300 mil, em cotação atual). Os e-mails não detalham o contexto do recebimento do relógio.

Em outubro de 2019, durante uma visita à Arábia Saudita, Bolsonaro recebeu um conjunto de joias, composto por um Rolex, um anel, uma caneta e um rosário islâmico, do rei Salman bin Abdulaziz Al Saud. Em 6 de junho de 2022, mesma data do e-mail em que Mauro Cid negocia um relógio, o Rolex recebido por Bolsonaro foi encaminhado para o gabinete da Presidência da República. Crivelatti assinou a retirada. O Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência, que cuida do acervo, recebeu o relógio em 27/03/2020.

O transporte e o armazenamento de mais de 8 mil itens de presentes que Jair Bolsonaro guardou para si e despachou para a fazenda de Nelson Piquet, em Brasília, contaram com o apoio direto de dois militares de confiança máxima do ex-presidente, de acordo com informações da colunista Bela Megale.

A dez dias de terminar seu mandato, Bolsonaro escalou Crivelatti e um ex-assessor do comando do Exército, Marcelo Câmara, para atuar diretamente na operação. O ex-ajudante de ordens apoiou o trabalho de Câmara, e entregou as joias e armas recebidas pelos regimes árabes, após os casos serem revelados e levarem à determinação de devolução dos itens pelo Tribunal de Contas da União.

Em abril, a atuação direta de Marcelo Câmara e Osmar Crivelatti foi confirmada à Polícia Federal por uma funcionária do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) que atuava no setor durante a gestão Bolsonaro.

O Globo