PF prepara nova bomba contra Bolsonaro

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Foto: Divulgação/Alesp

A operação deflagrada pela Polícia Federal (PF) na sexta-feira colocou Jair Bolsonaro (PL) no centro do escândalo das joias e fez aumentar a expectativa de que, em breve, novas denúncias atinjam o ex-presidente.

Batizada de “Lucas 12:2”, a ação mirou a suposta atuação de Bolsonaro e seus principais auxiliares para vender, nos Estados Unidos, pelo menos quatro conjuntos de bens que recebeu de delegações estrangeiras durante o seu governo.

Ainda na sexta-feira, após cumprir as diligências da operação, a PF pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle. Os pedidos ainda precisam ser autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF). A PF considera a medida necessária para avançar nas investigações. Uma das linhas será verificar se os valores decorrentes da venda e da recompra das joias – que podem ter superado R$ 1 milhão – passaram pelas contas do ex-presidente. A suspeita é de que o lucro obtido a partir da comercialização dos objetos tenha sido convertido em dinheiro em espécie para ingressar no patrimônio pessoal de Bolsonaro. Também há expectativa do que será encontrado no material apreendido com o general Mauro Lourena Cid, um dos alvos da operação. Ele é pai de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que foi preso em maio, na esteira de uma investigação que mirou um esquema de falsificação de certificados de vacina contra a covid-19. Desde que deixou a Presidência, em janeiro, Bolsonaro tem sido alvo de diversas investigações e já prestou quatro depoimentos à PF, inclusive sobre o recebimento das joias de presente da Arábia Saudita, depois de o caso ser revelado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. Uma fonte a par das investigações, porém, diz que novas frentes ainda podem ser abertas contra o ex-presidente, como apurações envolvendo supostas irregularidades durante a campanha eleitoral. Há ainda a possibilidade de a atuação de Lourena Cid na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Miami passar por um escrutínio. O envolvimento do general impactou a imagem do Exército e repercutiu negativamente entre militares. “As Forças Armadas já saem manchadas dessa associação com Bolsonaro. Mas venda de relógios e joias no exterior é muito grave. Ainda bem que temos um contraponto [outras instituições], senão as coisas continuariam debaixo do tapete”, comentou o historiador Jorge Ferreira. Por meio de nota, o Exército destacou que “não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus integrantes”. Aliados de Bolsonaro temem que uma medida mais drástica, como um pedido de prisão, seja adotado contra o ex-presidente. Mas isso não está neste momento no horizonte imediato de autoridades do Judiciário e do governo. Em entrevista exibida nesse domingo por um canal bolsonarista no YouTube, o ex-mandatário voltou a se colocar no papel de vítima diante do cerco aos seus aliados. Segundo a assessoria do ex-presidente, a conversa foi gravada antes da operação da PF. Em um dos momentos, ao falar de Mauro Cid, ele disse que a prisão do ex-ajudante de ordens foi para atingi-lo. “Uma delação premiada, vai delatar o quê? É para me atingir”, disse ao canal bolsonarista “Te atualizei”. No fim de semana, o ex-presidente usou as redes sociais, mas manteve silêncio sobre a operação. Até o momento, a única manifestação de Bolsonaro sobre o episódio ocorreu por meio de seus advogados, que divulgaram uma nota dizendo que o ex-presidente “jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos, colocando à disposição do Poder Judiciário sua movimentação bancária”. Paralelamente às investigações policiais, deputados da base governista também voltaram a coletar assinaturas para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o destino dos presentes recebidos pelo ex-presidente. Até agora, o requerimento possui o apoio de 111 dos 171 deputados necessários para que o pedido seja protocolado. Nos últimos dias, também chamou a atenção o silêncio de aliados de Bolsonaro, que evitaram sair em defesa do ex-presidente após a operação.

Valor Econômico