Presidente do PP quer Lira na oposição a Lula

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Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) enfatizou que o partido dele não está negociando cargos com o governo e que, se depender dele, não integrará a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O papel do Progressistas continuará sendo o de um partido completamente de oposição”, destacou, em entrevista ao programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília.

O senador destacou que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já “pagou a conta” que tinha com o PT, por apoiá-lo na recondução ao comando da Casa, e que, a partir deste segundo semestre, espera uma postura independente do deputado.

Ciro Nogueira também fez duras críticas à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, classificada por ele como “ultrapassada”. Na avaliação do senador, a titular da pasta não continuará no cargo até o fim do governo. “Lula foi praticamente obrigado a colocá-la, por conta da imagem positiva que ela tem internacionalmente, mas ela só atrapalha este país”, disparou. A seguir, os principais trechos da entrevista:

O PP negocia cargos com a gestão Lula. Já tem até nome de ministro, que seria o líder do partido na Câmara, André Fufuca (MA). A legenda caminha para o governo?

Se depender de mim, não. Até esclareço: o partido, com certeza, não está negociando cargos. Existem — não vou negar — parlamentares, especialmente do Nordeste, que têm essa sintonia maior com o governo, mas, no que depender da maioria do partido, continuaremos na oposição. Oposição não ao Brasil, mas ao governo. É um governo com o qual não temos identificação, sintonia. Não fomos eleitos a nada deste governo. Então, o papel do Progressistas continuará sendo o de um partido completamente de oposição.

Mas o presidente da Câmara, Arthur Lira, é do PP e tem mostrado posição amistosa com o presidente Lula. O senhor aprova a relação dos dois?

O presidente Arthur Lira foi candidato à reeleição e contou com o apoio do PT. Lembro que, na época, Arthur já estava reeleito. Se dependesse do PT no início, não seria candidato. Mas, quando eles viram que Arthur já estava eleito, vieram para apoiar. Não vou negar que é melhor para um candidato ser candidato único, como aconteceu com Arthur, mas acho que tudo que Arthur fez agora, no primeiro semestre, já pagou essa conta. Espero que, agora, a postura dele, que tem de ser de presidente da Câmara, seja de independência. Acho que Arthur não vai fazer nada que possa atrapalhar o país. Nós temos de ajudar. Eu mesmo, no que puder ajudar o governo para que ele dê certo, para que as pessoas possam melhorar suas vidas, que venham a acontecer um progresso, crescimento econômico, pode contar comigo.

Ele ajudou de que forma?

Antes mesmo de Lula assumir, quando aprovamos a PEC de Transição, aquilo foi decisivo para o atual governo. Temos um governo que só pensa em gastar. Desafio vocês a procurarem, aí nas notícias deste semestre, se teve algum corte de gastos, alguma preocupação com excessos. Nada. Temos, agora, de discutir as medidas que este governo manda, e temos feito isso em tudo. Não somos aquela oposição como a do PT, que era contra tudo e contra todos. Queremos melhorar. Um exemplo claro disso foi o arcabouço (fiscal). Chegou à Câmara com uma pedalada fiscal e foi melhorado por um membro do nosso partido: o deputado Cláudio Cajado fez um bom trabalho, e estamos procurando melhorar.

O texto foi para o Senado, onde houve alterações…

Foi e voltou, agora, para a Câmara. Hoje (quinta-feira), estávamos recebendo Campos Neto (Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central), e demonstrei uma preocupação muito grande com o que está acontecendo com esse arcabouço. Foi feita uma série de situações, que são medidas que têm de ser rígidas de equilíbrio fiscal. E toda hora temos notícias do governo querendo burlar essas normas, criar mecanismos para que elas não sejam cumpridas, numa totalidade louca. Isso vai afetar. O próprio presidente Campos Neto falou que isso pode afetar a credibilidade e a economia brasileira.

O deputado Cláudio Cajado insiste em mudar o Fundo Constitucional, que é muito importante para o DF. Por que essa persistência?

Temos um respeito enorme pela vice-governadora do DF, Celina (Leão), que é uma figura muito influente dentro do nosso partido. Não tenho dúvidas de que, com o trabalho de Celina, o poder de convencimento que ela tem, Cajado não vai resistir, não. Pode ter certeza: ela vai conseguir segurar.

A decisão de Lira de cancelar a ida do ministro da Casa Civil, Rui Costa, à CPI do MST é uma ajuda ao país ou uma prova de amor ao governo do presidente Lula?

Pedi para minha assessoria dar uma estudada nessa questão, o que levou Arthur a fazer. Espero que ele esteja agindo conforme o regimento, e não tomando uma atitude dessa para ajudar o governo, porque, aí, não seria bom.

O que Lira vai fazer depois de deixar a Presidência da Câmara? Porque está todo mundo dizendo que ele pode virar ministro. Como vê o futuro do deputado?

Lira é uma grande liderança do Progressistas, e acho que este país deve muito a ele. Tanto no atual governo quanto no governo anterior. Muito do que foi aprovado naqueles momentos difíceis de pandemia — tínhamos de enfrentar uma série de situações para cuidar das pessoas, tivemos de gastar R$ 700 bilhões, e é uma coisa impressionante esse número — foi fruto do trabalho que Arthur teve. Como presidente da Câmara ou não, será uma liderança expressiva, que vai influir muito no processo legislativo, independentemente ou não de estar à frente da Câmara.

Todo mundo já pensa em 2026, e vi que o senhor pretende convidar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para seu partido. Ele é uma liderança forte para competir com o grupo do presidente Lula?

Temos uma relação muito próxima com o Republicanos. Marcos Pereira talvez seja um dos presidentes mais próximos que eu tenho. Jamais ia convidar o governador de São Paulo sem estar em sintonia com Marcos. Caso Tarcísio de Freitas venha resolver sair do Republicanos, quem não sonha em ter o governador de São Paulo? Principalmente um nome como o Tarcísio, que, para mim, com a inelegibilidade do presidente Bolsonaro, é o número um para ser o nosso candidato a presidente da República. Mas eu não vejo motivos para Tarcísio sair do Republicanos. Se viermos a ter candidato à Presidência da República, no caso de Tarcísio ser candidato, vamos precisar do Republicanos, do PL, do Progressistas, do PSD, que é muito próximo ao Tarcísio, e de diversos outros partidos que já estamos conversando. Vamos, se tudo der certo, fazer um grande arco de alianças para enfrentar este desgoverno que aí está.

Que outros nomes vê despontar para enfrentar um candidato do PT, que pode ser o ministro da Fazenda, Fernando Haddad? O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, seria uma aposta, mesmo depois das declarações sobre o Nordeste?

Vejo quatro nomes. Tarcísio, em primeiro lugar. Zema é um grande governador de um estado importantíssimo, foi reeleito em primeiro turno, teve papel importantíssimo no segundo turno — se não fosse Zema, teríamos um resultado muito pior do que tivemos. A ministra Tereza (ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina), que é uma referência para todos nós. Quem sabe até a gente tenha uma mulher comandando este país. Ela foi a melhor ministra da história deste país na Agricultura. Acho que Ratinho talvez esteja em último lugar, porque tem a questão partidária, e eu não sei se o partido dele daria legenda para a sua candidatura presidencial. Mas acho muito difícil fugir desses quatro nomes. Agora, a gente vai tentar atrair outros nomes, como Eduardo Leite e ACM Neto. Caiado também está colocando o nome dele, um grande governador. Se tivermos — e estou acompanhando as pesquisas, sou um apaixonado por pesquisas — essas pessoas unidas, é muito difícil não ganharmos a próxima eleição para a Presidência da República.

Qual vai ser o papel de Bolsonaro, que está inelegível?

Não tenho dúvida de que vai ser o maior eleitor. Vocês vão acompanhar o que vai acontecer no Brasil nas eleições de 2024. Anotem aí: o PT não vai eleger um prefeito de capital.

E Guilherme Boulos?

Boulos não é PT. Pode ser que ele tenha o apoio. Seria uma desmoralização para o presidente da República a sigla dele não eleger um prefeito na capital. E eles vão perder em todas as grandes cidades. A direita vai eleger o maior número, de 70% dos prefeitos, no mínimo. A gente vai ter uma vitória muito grande nas eleições, e o grande responsável por isso, não tenha dúvidas, vai ser o apoio do presidente Bolsonaro.

Mas ele tem esse perfil? Vai se engajar na campanha?

Acredito que ele elegeu, nessa última eleição, pessoas que ninguém esperava. Tarcísio, o astronauta (Marcos Pontes, senador), o Seif (Jorge Seif, senador). Veja a quantidade de senadores que ele elegeu também. Damares. Se pegar os últimos 27 senadores que elegemos, 17 são ligados a ele. Você vai ver o que ele vai fazer no Senado: vai eleger 2/3 do próximo Senado. A grande maioria dos deputados federais tem uma identificação maior com esse campo. O maior eleitor do país, hoje, é o anti-PT e o anti-Bolsonaro. Aquela pessoa que conseguir atrair o centro, em torno de 40%, consegue ter uma viabilidade muito grande na próxima eleição.

E essas denúncias que estão surgindo, sobre joias, a participação dele influenciando a PRF nas eleições? Colam na imagem dele?

O presidente Bolsonaro, não tem como colar essa imagem nele de corrupção, de desvio, porque as pessoas conhecem a história. Veja o que ele arrecadou de PIX, milhares de pessoas doando. Acreditam na seriedade dele. Não cola nele essa imagem, não tem como colar porque ele é um homem de bem, um homem simples. Quando terminou a eleição, ele não tinha onde morar em Brasília. Eu ofereci a casa da minha ex-mulher. Ela falou: ‘Olha, se ele quiser morar lá de graça, ele mora’. Ele foi ver a casa e disse que era muito, uma casa muito rica para ele e que não tinha o porquê de morar numa casa daquela. Ele é esse tipo de gente, uma vida simples. Você nunca o viu num restaurante caro, nunca o viu gastando. As pessoas têm identificação. Ele é o único líder deste país que sai em qualquer estado da Federação e as pessoas abraçam e beijam. Lula hoje tem de ficar em grupo no Nordeste ou ver índio lá em Rondônia. Vê se ele vai a São Paulo, Santa Catarina, vê se ele vai à rua.

O senhor tem dito que quem for ministro tem de se afastar do partido…

Não posso exigir de um deputado se desfiliar, porque, senão, ele perde o mandato. O que fala é que a pessoa não vai mais participar das decisões partidárias. Somos de um partido de centro-direita, completamente conservador, então não tem por que apoiarmos este governo. Hoje, grande parte do orçamento do país é do Congresso, não tem mais aquela necessidade de estar deputado com pires na mão, para ganhar emenda para poder apoiar.

O senhor se refere às emendas impositivas?

Exatamente. Antigamente, as pessoas não se lembravam nem de em quem tinham votado para deputado. Hoje, quando você vota — e isso foi muito por conta do presidente Bolsonaro, esse acompanhamento em rede social — uma matéria, nos minutos seguintes ou tem gente te criticando ou te apoiando. Não tem por que mudarmos de postura. Acho que precisamos ter partidos que façam uma oposição responsável, como estamos fazendo. Quando o governo tiver matérias boas, importantes, que venham ajudar a população, vamos votar favoravelmente. Não precisa entregar cargos. Antigamente, até o meu partido recebeu, nos próprios governos do PT, se entregava os ministérios de porteira fechada. Você fazia o que queria. Isso mudou. O presidente Bolsonaro não fez isso. Blindamos as nossas estatais. O governo do PT está voltando a querer distribuir estatais, bancos públicos, isso é muito ruim. Não é à toa que saímos de um prejuízo gigantesco das estatais para um maravilhoso do antigo governo, porque fizemos isso. Acho que a população tem de estar vigilante e não aceitar dos seus representantes esse tipo de postura.

O que mudou? Porque o partido, no passado, foi aliado do presidente Lula.

Acho que evoluímos. Estou dizendo que o nosso partido já fez isso no passado. Recebemos ministérios, cargos de estatais, mas não tem porquê disso. Temos de blindar nossas estatais, escolher pessoas mais técnicas para os ministérios, pessoas que possam representar bem o papel de administrar a coisa pública.

O senhor se arrepende de ter feito parte do governo Lula no passado? Porque houve ali o mensalão.

Não. Esse foi um momento. O governo Lula no passado foi bom. Lógico que muito do que aconteceu naquele governo foi por conta da questão internacional, um crescimento mundial que beneficiou aquele governo, mas o governo de hoje é lento, lamentável, as pessoas não estão acreditando. Foi um governo que prometeu demais: prometeu picanha, cerveja, e não está acontecendo nada disso. As pessoas estão com cada vez mais dificuldade, com problema de alimentação, que não melhorou em nada no nosso país. E a quase totalidade do que está acontecendo positivamente é reflexo do que fizemos no governo anterior, ou então do trabalho do presidente do Banco Central, para que a gente possa controlar a inflação. Mas nós temos problemas seríssimos. Eu estava lendo hoje, a principal empresa do nosso país, a Petrobras, vale dezenas de bilhões de dólares, a mesma que valia no ano passado, por quê? Falta de gestão. Começaram a contaminar a gestão da Petrobras, a utilizá-la para colocar sindicalistas despreparados na sua gestão. Essas coisas estão levando a um sério dano à população. Graças a Deus, temos um país que criou uma dependência do mundo na questão de alimentos, mas estamos perdendo a oportunidade enorme de transformar o nosso país em um grande celeiro de energia. Neste momento de crise, desta guerra, poderíamos estar aproveitando, e não estamos aproveitando por falta de foco e de gestão deste governo.

O presidente Lula mostra um rancor que não tinha antes. Carrega um passado de sofrimento, passou mais de 500 dias preso, se coloca como um injustiçado, ataca muito o senador Sergio Moro, o Deltan Dallagnol. Isso atrapalha a gestão dele?

Eu nunca mais estive com o presidente Lula. É um outro Lula, hoje. É um Lula que não se encontrou. Um Lula que tem hora que: ‘Vou ser o prêmio Nobel da Paz”, e é um desastre com o Zelensky. ‘Ah, vou cuidar da questão ambiental’, e vem o Petro aqui e desmoraliza, faz um discurso daquele na Cúpula da Amazônia. ‘Vou ser o líder da América Latina’, aí vem Boric, que é do mesmo campo dele, e o ataca na questão da Nicarágua e da Venezuela. Então, é um homem que não se encontrou. Acho que Lula não tem mais a vontade que tinha no passado de gerir o país. Fui ministro da Casa Civil, era uma loucura de problemas, eu via o sofrimento do presidente Bolsonaro, a tristeza. Às vezes, ele não fazia o que queria por conta dessas questões. E eu acho que o Lula não está querendo enfrentar os problemas do país.

Quais problemas ele não quer enfrentar?

Eu dizia, na época da campanha, que o Bolsonaro de 2022 era muito melhor do que o Bolsonaro de 2018. O Lula de 2022 era muito pior que o Lula lá atrás, porque ele vivia com esse rancor aí, que esteve na prisão. Tinha de ter superado, pegado o exemplo do Mandela, que foi um grande líder, para unificar o país. O Lula que veio agora foi para aumentar a divisão do país, em vez de ele unificar o país. Foi uma eleição muito traumática. Ele tinha de voltar para unificar, e não querer governar só para quem votou nele. Esse Lula não assumiu o nosso país.

Agora, no Congresso, ele aprovou tudo que quis, não?

Hoje, temos uma oposição muito mais responsável. A base do Lula é em torno de 150, 170 deputados, no máximo. Eu votei muito a favor de determinadas matérias, porque eram boas para o país. Costumo dizer que não sou aquele passageiro do avião que fica torcendo contra o piloto. Estou dentro do avião, quero que nosso país dê certo. Não adianta torcer para dar tudo errado, e vamos consertar daqui a três anos. Quantas pessoas vão deixar de se educar, de ser tratadas? Quero que o Brasil dê certo. Faço oposição radical a este governo, não vou fazer oposição jamais ao Brasil.

A senadora Tereza Cristina parece ter começado uma espécie de rebelião contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, por causa da questão de desmatamento zero. Como avalia o assunto?

Fiz uma previsão se Marina termina este mandato neste governo. Vai acontecer a mesma coisa que aconteceu no outro governo: ela vai ter que sair porque é uma pessoa completamente ultrapassada, que só pensa em atrapalhar o país. Lula foi praticamente obrigado a colocá-la, por conta da imagem positiva que ela tem internacionalmente, mas ela só atrapalhar este país. Se implementar o que ela está dizendo, vai paralisar o agronegócio. Temos de ter respeito ao meio ambiente, mas temos de desenvolver, alimentar as pessoas. Não precisamos agredir o meio ambiente, mas, por ela, vai voltar para as cavernas. É uma pessoa completamente fora do tempo que vivemos hoje.

Correio Braziliense