Bolsonaro será indiciado por 4 crimes graves

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Foto: Ricardo Stuckert/PR

A repercussão da delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que revelou ter participado de reuniões do ex-presidente Jair Bolsonaro com comandantes militares para discutir um golpe de estado, pode fazer com que a CPI do 8 de janeiro acabe ouvindo outros militares além do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022.

Braga Netto falará na CPI no próximo dia 05. Até agora, os parlamentares haviam se programado para ouvir apenas ele – e não outros generais que atuaram no governo Bolsonaro, como Paulo Sérgio Nogueira, Augusto Heleno ou Marco Antônio Freire Gomes.

A decisão fazia parte de um acordo que envolveu o governo Lula e o Comando do Exército, segundo a equipe da coluna apurou com fontes que acompanham de perto as discussões no Congresso Nacional.

Depois de vir à tona que Mauro Cid relatou à PF ter participado de reuniões de Bolsonaro com comandantes militares em que o ex-presidente propôs um golpe de estado aos Comandantes das forças, membros da CPI querem ouvir pelo menos o almirante Garnier, chefe da Masunha, que segundo Cid teria apoiado a iniciativa.

O acordo entre os parlamentares da CPI foi selado depois de um apelo feito pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e pelo atual comandante do Exército, Tomás Paiva.

Venceu entre os governistas a avaliação de que era preciso adotar uma “postura prudente” na relação com as Forças Armadas. Os bolsonaristas, evidentemente, já eram contra a convocação dos militares.

A avaliação dos aliados de Lula foi que eventuais convocações e depoimentos poderiam tensionar ainda mais o clima na caserna ou dar munição para oficiais que veem nos trabalhos da CPI uma ofensiva para “desmoralizar” a imagem do Exército, já abalada nos quatro anos de governo Bolsonaro.

O próprio presidente Lula – que se opôs à instalação da CPI logo após os atentados – demonstra preocupação com o clima do Exército em relação as convocações de integrantes das Forças Armadas para depoimentos, de acordo com relatos obtidos pela equipe da coluna.

Contudo, para não passar a impressão de leniência com os militares, a CPI centrou seu foco em apenas um alvo – e o escolhido foi Braga Netto, pela relação umbilical com a administração bolsonarista.

“O Múcio, com o papel de ministro da Defesa, e qualquer um no lugar dele faria isso, quer jogar água na fervura”, disse à equipe da coluna um integrante da comissão. “A pressão bate muito nos comandantes quando algum general é convocado para depor. Os próprios generais, familiares, oficiais reclamam.”

Integrantes da base aliada do governo cogitaram chamar para depor o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira – que se engajou na ofensiva bolsonarista contra as urnas eletrônicas, ao cobrar do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aperfeiçoamentos nas urnas e exigir acesso “urgentíssimo” ao código-fonte dos equipamentos, que já havia sido disponibilizado.

Ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno entrou na mira dos parlamentares ao dizer em dezembro do ano passado, após a vitória de Lula, que “bandido” não sobe a rampa do Palácio do Planalto.

O gesto foi interpretado como uma forma de incitar a militância bolsonarista, que já protestava contra a eleição de Lula acampada na porta dos quartéis.

Os depoimentos desses generais estavam sendo deixados de lado. Mas a delação de Cid agora pode pôr a perder o acordo costurado pelo ministro da Defesa.

A CPI do 8 de Janeiro deve concluir seus trabalhos em meados de outubro com o pedido de indiciamento de Bolsonaro por pelo menos quatro crimes cometidos durante o mandato: golpe de Estado, escuta telefônica ilegal, incitação ao crime e autoacusação falsa.

Tanto aliados quanto adversários do ex-presidente da República dão como certo que o relatório a ser apresentado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) vai associar os sucessivos ataques de Bolsonaro à Justiça Eleitoral e às urnas eletrônicas aos atos de vandalismo que culminaram com a invasão e a depredação do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro pedido de indiciamento considerado inevitável no relatório final da comissão, tanto por parlamentares governistas quanto da oposição, é o do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias, por ter adulterado um relatório de inteligência enviado ao Congresso, conforme revelou a coluna.

Dias marcou a primeira demissão no primeiro escalão do governo Lula, em abril.

O Globo