Confira tática de Boulos para se eleger em SP

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Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Líder na disputa pela Prefeitura de São Paulo, segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) aposta nos investimentos do governo federal na cidade e no empenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua pré-candidatura para ampliar seu eleitorado na periferia e se contrapor às ações do prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB).

Estrategistas da pré-candidatura de Boulos avaliam que o governo Lula poderá ajudar também na aproximação com empresários na cidade. O desafio, no entanto, não será fácil. Boulos enfrenta a resistência do setor produtivo e vê o prefeito avançar sobre o eleitorado dos bairros carentes, redutos da esquerda em eleições passadas.

A pouco mais de um ano das eleições municipais de 2024, integrantes da pré-candidatura de Boulos avaliam que é preciso ampliar o apoio na periferia, ao mesmo tempo em que o deputado deve “furar a bolha da esquerda” e construir uma frente ampla, com setores da classe média e empresários, a exemplo de Lula em 2022.

Para isso, o parlamentar busca o apoio do governo Lula. Na semana passada, o ministro Rui Costa (Casa Civil) levou o pré-candidato a um evento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Fiesp. Único deputado convidado pelo ministro, Boulos foi destacado por Costa na reunião com dezenas de empresários, entre eles o presidente da Fiesp, Josué Gomes.

Os ministros petistas Alexandre Padilha (Relações Institucionais) – que ajudou Lula no contato com investidores na campanha presidencial de 2022-, e Fernando Haddad (Fazenda) são vistos por dirigentes da pré-candidatura de Boulos como integrantes do governo federal que poderão atuar no diálogo com o setor produtivo.

Boulos ganhou o apoio de Lula em março de 2022 e a aliança com o PT foi formalizada há um mês. Os petistas ficarão com vice do pré-candidato do Psol. Além de contar com a capilaridade do PT na cidade, sobretudo para ampliar os votos nas regiões mais carentes, o pré-candidato do Psol avalia que a atuação de integrantes do governo Lula deve ajudá-lo a avançar sobre uma parcela do eleitorado da classe média, que ainda resiste em apoiá-lo.

Na eleição municipal passada, Boulos foi para o segundo turno contra o então prefeito e candidato à reeleição Bruno Covas (PSDB), e perdeu por 40,62% dos votos a 59,38% do tucano. Covas avançou sobre bairros periféricos e venceu em 50 das 58 zonas eleitorais da cidade. Quatro anos antes, em 2016, o então candidato do PSDB João Doria também teve boa adesão na periferia e venceu em 56 das 58 zonas eleitorais da cidade, derrotando já no primeiro turno o petista Fernando Haddad, então prefeito e candidato à reeleição.

Agora, Boulos avalia que a situação é mais favorável à sua vitória, apesar de o prefeito Ricardo Nunes, que assumiu o cargo em 2021 depois da morte de Bruno Covas, ter o peso da máquina pública a seu favor e cerca de R$ 36 bilhões em caixa – com aproximadamente R$ 11 bilhões para investimentos neste ano.

A vantagem registrada por Nunes na pesquisa Datafolha entre eleitores de baixa renda, de até dois salários mínimos, e com baixa escolaridade, no entanto, acendeu o sinal de alerta entre aliados do pré-candidato do Psol. Deputado estadual do PT, Antonio Donato avalia que o maior desafio de Boulos não será o de avançar sobre setores da classe média e empresários. “A disputa vai ser na periferia. É lá que a máquina pública pesa”, diz. “É lá que precisa concentrar os esforços.”

Coordenador da pré-candidatura, Josué Rocha diz que a campanha deve fazer dois movimentos: dar prioridade e atenção à periferia e, ao mesmo tempo, tentar reduzir a resistência dos empresários e da classe média a Boulos. “Vamos mostrar que ele está aberto ao diálogo com todos”, diz Rocha.

O pré-candidato do Psol lidera a disputa pela capital paulista com 32% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (31). É seguido por Nunes, com 24%. A deputada Tabata Amaral (PSB) tem 11% e está empatada tecnicamente com o deputado Kim Kataguiri (União) com 8%. Vinicius Poit (Novo) tem 2%. Votos em branco e nulos somam 18% e eleitores que não responderam, 5%. A pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos, e foi realizada presencialmente com 1.092 eleitores, entre os dias 29 e 30 de agosto.

Lideranças da pré-campanha de Boulos lembram que em 2020 a esquerda estava desgastada, depois do impeachment da ex-presidente petista Dilma Rousseff e da prisão de Lula. O PT não quis apoiar Boulos e lançou candidato próprio, o deputado Jilmar Tatto, que ficou em sexto lugar. Agora, Lula é o melhor cabo eleitoral da capital paulista e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apoiador de Nunes, o pior. Segundo o Datafolha, 23% dos entrevistados votariam no candidato apoiado por Lula e 37% não votariam em um nome com o aval do presidente. Já o apoio de Bolsonaro seria considerado por apenas 13% dos pesquisados. Dos entrevistados, 68% não votariam de jeito nenhum em um nome ligado a Bolsonaro.

Diante do desgaste de Bolsonaro, a pré-candidatura de Boulos deve reforçar o vínculo de Nunes com o ex-presidente, em busca do voto antibolsonarista. O prefeito, no entanto, tem feito um movimento ambíguo: ao mesmo tempo em que busca o apoio de Bolsonaro para ser o candidato único da direita em São Paulo, tenta se distanciar do ex-presidente, para se descolar da alta rejeição que Bolsonaro tem na cidade. Em 2022, o ex-presidente e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) foram derrotados na capital, apesar da vitória no Estado.

Boulos busca equilibrar o peso entre seu partido e o PT na pré-candidatura. Na segunda-feira, deve começar a definir as funções do PT e do Psol na pré-campanha. Seu chefe de gabinete e aliado dos tempos de militância do MTST, Josué Rocha, deve coordenar a pré-campanha, ao lado do presidente do PT paulistano, Laércio Ribeiro. O marqueteiro deve ser Lula Guimarães, que fez a campanha de João Doria à prefeitura paulistana em 2016.

Uma interrogação que permanece é qual será o real nível de engajamento de lideranças locais do PT na campanha de Boulos. Parte dos petistas da capital resistiu a abrir mão da cabeça de chapa para o deputado do Psol. O presidente municipal do PT afirma que as divergências foram superadas e que o partido se engajará na campanha de Boulos.

Valor Econômico