Bolsonaro muda para SP para eleger Nunes

Sem categoria

Eleito sete vezes deputado federal pelo Rio de Janeiro entre 1990 e 2018, Jair Bolsonaro vem ignorando o antigo reduto após deixar a Presidência da República. Desde que retornou ao Brasil de um autoexílio na Flórida (EUA), ele passou pelo menos 25 dias em terras paulistas em 11 viagens. No Rio, esteve três vezes.

Rompimento: organizador de motociatas de Bolsonaro se afasta do ex-presidente e convida Lula e Alckmin para passeio de moto
‘Ridículos’: Deltan Dallagnol admite erro sobre fundo da Lava-Jato e critica argumentos de Toffoli sobre Odebrecht
Exames, consultas e procedimentos cirúrgicos no Hospital Vila Nova Star, em razão da facada que levou durante a campanha de 2018, e as articulações para as eleições municipais de 2024 são as principais razões para as visitas constantes a São Paulo.

Em setembro, Bolsonaro passou nove dias no estado, entre uma internação e o repouso no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, liderado por seu aliado Tarcísio de Freitas. A residência oficial do governador tem sido uma espécie de “Airbnb de luxo” do ex-presidente.

Segundo aliados, as estadas na casa de Tarcísio são organizadas por Diego Torres, assessor especial do governador e cunhado de Bolsonaro. Ali, o ex-presidente goza de conforto, segurança e liberdade. Além de conversar com seu ex-ministro e governador, ele se reúne com lideranças do PL, incluindo o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.

Nesses encontros, Bolsonaro discute questões partidárias, ouve demandas dos deputados da base da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e avalia o cenário das próximas eleições municipais. Correligionários entendem que a vitória na maior cidade do país é fundamental para a direita recuperar a Presidência em 2026

— A eleição na capital é o principal pilar para o retorno da direita na eleição nacional. Precisamos evitar que o governador Tarcísio fique “ensanduichado” entre Lula e uma indesejável vitória da esquerda com Guilherme Boulos — afirma Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e ex-secretário especial de Comunicação de seu governo.

Possível apoio a Nunes
Isso explica a distância cautelar do Rio, onde o ex-presidente considera improvável uma vitória frente ao prefeito Eduardo Paes, aliado do PT. Por isso, ele vetou a candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL), seu filho, e não deve se empenhar na eleição.

Bolsonaristas X governistas: eleições para conselhos tutelares marcaram mais um episódio de polarização
Em São Paulo, Bolsonaro aposta na reeleição do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Nas últimas semanas, porém, há um mal-estar entre o emedebista e aliados do ex-presidente. As insatisfações incluem o distanciamento do prefeito da pauta bolsonarista e a falta de espaço do grupo na gestão.

O ex-presidente deve decidir sobre a aliança em março. Para apaziguar os ânimos, o prefeito visitou Bolsonaro no Hospital Vila Nova Star, no mês passado, após este passar por mais um procedimento cirúrgico.

Integrantes da pré-campanha de Nunes minimizam. Dizem que não há risco de ruptura e que prefeito e ex-presidente se falam normalmente.

Em terras paulistas, Bolsonaro tem ido a eventos que atraem seu perfil de eleitorado, principalmente o agronegócio. Já esteve na Agrishow (Ribeirão Preto) e na Festa do Peão de Barretos. Semana passada, foi ao SP Boat Show, na capital. Participações em agendas do PL, principalmente do setorial feminino, presidido por sua mulher, Michelle, também são frequentes.

Aliados e apoiadores relatam que Bolsonaro está diferente da figura beligerante dos anos de Câmara dos Deputados e Presidência. Acossado por investigações da Polícia Federal e fora da máquina pública pela primeira vez em quase 35 anos, está “mais leve” e “menos ofensivo”, dizem.

Bolsonaro foi indagado sobre a fase “zen” ao chegar ao Rio, em junho, em meio ao julgamento da Justiça Eleitoral que o condenou à inelegiblidade:

— A gente muda, pessoal. Se você achar que não pode se aperfeiçoar, tá errado, tá certo? Eu não respondo mais provocação — declarou na ocasião.

Além de São Paulo, Rio e Brasília, onde vive, ele esteve em Florianópolis, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre, todas cidades em que venceu Lula em 2022, com exceção da capital gaúcha.

O Globo