O olhar míope das agências de análise

Opinião do blog

A agência de consultoria e de análises Arko Advice divulgou ontem mais um relatório de conjuntura política demonstrando confiança nas chances de Dilma Rousseff de vencer a eleição presidencial deste ano. Aliás, mesmo se não me lembrasse desse fato a própria empresa se encarregaria de me lembrar, pois em seu site diz o seguinte:

Mesmo quando Dilma caminhava muito atrás de José Serra e de Ciro Gomes, entendíamos que as condições estruturais da campanha e o ambiente psicossocial iriam beneficiar a candidata governista

Mas calma, leitores tucanos. Antes que digam que a Arko Advice é uma empresa petista, leiam-lhe as credenciais:

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A Arko Advice é uma empresa de consultoria baseada em Brasília, fundada como Murillo de Aragão Consultoria em maio de 1982. Seu primeiro cliente foi a Associação Nacional de Jornais – ANJ e, posteriormente, outras empresas e entidades como IBM, Shell, Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária – CONAR, Federação Nacional das Agências de Propaganda – Fenapro, entre outras.

A partir de 1989, já sob a denominação Arko Advice, incorporou clientes como a Câmara Americana de Comércio de São Paulo, da qual somos consultores políticos desde então, e dezenas de bancos, empresas nacionais, multinacionais e entidades associativas.

No campo da análise política, a Arko Advice é reconhecida como uma das mais influentes consultorias políticas brasileiras no mercado financeiro, nacional e internacional.

Na Análise de Políticas Públicas, a Arko Advice é reconhecida como fonte de informação e análise fidedignas, tanto pelo setor público quanto pelo setor privado.

Basicamente, os serviços da Arko Advice são:

  • Análise de Conjuntura Política
  • Análise de Políticas Públicas
  • Assessoria Estratégica Institucional
  • Monitoramento Regulatório e Parlamentar.

Além dos serviços mencionados, a Arko Advice mantém parcerias com os serviços de noticias da Bloomberg, Brasília em Tempo Real e Câmara Americana de Comércio de São Paulo.

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Como se vê, não se trata de nenhum ninho petista.

O mais interessante é a análise que a empresa faz. Não chega a ser de todo má. Aproxima-se muito dos fatos. Mas tem um defeito que a compromete, em parte. Leiam a análise da Arko Advice e, ao fim, conto qual é.

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Fechando o mês de julho, nossa avaliação é de que Dilma Rousseff (PT) consolida seu favoritismo, ainda que José Serra (PSDB) mantenha-se competitivo e com chances de surpreender. O favoritismo de Dilma baseia-se em três premissas.

A primeira é a de que a mídia eletrônica – que pode arbitrar as eleições – tende a não entrar na campanha. Ou seja, não deve apoiar abertamente nenhum candidato, o que ajuda a candidata governista. Caso a mídia eletrônica adotasse o mesmo comportamento da grande mídia impressa, Dilma poderia enfrentar problemas junto ao eleitorado.

Como os vieses anti e pró-governo tendem a ficar limitados aos arraiais da mídia impressa e da internet, que ainda não é lá grande coisa em termos de formação de tendências políticas, o efeito sobre a campanha é pequeno.

No entanto, quando se trata de mídia de massa, o noticiário é desodorizado, pasteurizado e raso. Tende a mostrar as eleições como um matter of life, tal qual outros eventos do dia a dia. Talvez, adiante, o noticiário esquente um pouco, mas aí a propaganda eleitoral já estará no ar para favorecer os líderes.

A segunda premissa é a de que quem lidera a campanha no início da corrida tende a ganhar as eleições. Tem sido assim desde 1994. Dilma lidera, de acordo com o Vox Populi e o Ibope. No Ibope divulgado no dia 30 passado, Dilma lidera com cinco pontos de vantagem em relação a Serra (39% X 34%).

A terceira premissa é a de que Dilma cresceu onde Serra era favorito e seus candidatos ao governo lideram nos principais colégios eleitorais do país. No Sudeste, onde estão os três colégios eleitorais mais importantes, Serra só ganha em São Paulo, com Geraldo Alckmin (PSDB).

Em Minas Gerais, aparentemente sem grande empenho de Aécio Neves (PSDB), Serra já perdeu a dianteira para Dilma. Suspeita-se que o acordo “Dilmasia” esteja funcionando e tirando votos de Serra. Na disputa estadual, Hélio Costa (PMDB) também libera, com 18 pontos.

No Rio, Sérgio Cabral (PMDB) lidera e pode ganhar no primeiro turno. Considerando os principais colégios eleitorais do país, candidatos que apoiam Dilma estão liderando em Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul. Serra leva vantagem, como frisamos, em São Paulo.

Considerando as três premissas apontadas, Dilma encerra o primeiro mês de campanha oficial com uma vantagem importante (5%), ainda que não confortável. E, com o início da campanha na televisão – na qual Dilma terá quase 40% a mais de tempo -, sua vantagem tenderá a se consolidar por conta de outras circunstâncias: aprovação do governo, popularidade de Lula, melhor desempenho nos palanques estaduais etc.

No início de agosto, os prognósticos de que Dilma tende a liderar a disputa no primeiro turno são os mais prováveis. No entanto, o prognóstico para a sua vitória definitiva em primeiro turno ainda não se configura como tendência predominante. Dependerá de seu desempenho na propaganda eleitoral e do tom emocional da despedida de Lula.

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Alguém já descobriu que defeito vejo na análise? Estou certo de que alguns já “pescaram”, mas outros não, de forma que vale explicar.

A certa altura, o texto diz que “a mídia eletrônica – que pode arbitrar as eleições – tende a não entrar na campanha. Ou seja, não deve apoiar abertamente nenhum candidato, o que ajuda a candidata governista. Caso a mídia eletrônica adotasse o mesmo comportamento da grande mídia impressa, Dilma poderia enfrentar problemas junto ao eleitorado”.

A Arko Advice está com a memória meio fraca. Em 2006, por exemplo, a mídia eletrônica não arbitrou a eleição, mesmo jogando aquela montanha de dinheiro dos aloprados no colo do telespectador durante o Jornal Nacional.

Aliás, o trabalhinho que uma Globo vem fazendo contra Dilma, Lula e o PT, com seus noticiários sobre sucessivos escândalos nestes anos todos, nem sequer arranhou a popularidade de Lula ou ao menos impediu Dilma de disparar nas pesquisas e ultrapassar Serra.

Se a dona Judith Brito e o resto da turma que usa os serviços da Arko Advice (alô, alô, instituto Millenium!) quiser, dou-lhes algumas “consultorias” bem mais barato e só quererei receber meus honorários depois do pleito de outubro, caso, é claro, eu acerte nos meus prognósticos.