Atentado contra índios brasileiros mobiliza o mundo
Foto: VALTER PONTES/COPERPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
O segundo atentado contra indígenas da etnia Guajajara no Maranhão em menos de 40 dias aumentou a preocupação de estudiosos, ativistas e entidades de direitos humanos com a proteção desses povos e gerou reações dentro e fora do país. O governo do estado informou que irá reforçar o policiamento nas divisas com as terras indígenas, numa tentativa de monitorar e coibir a entrada de madeireiros e outras atividades ilegais na região.
Dentro da terra demarcada, a responsabilidade de fiscalização é do governo federal. O ministro da Justiça, Sergio Moro, deve decidir nesta semana se envia a Força Nacional de Segurança Pública para a região.
Estudiosos criticaram o discurso do governo federal a favor da exploração de recursos naturais em territórios indígenas.
— Há uma escalada absurda da violência. Se junta a isso uma política de desmonte de proteção de direitos indígenas, que acaba incentivando esse tipo de atitude — disse Camila Loureiro Dias professora da Unicamp e autora do livro “Os Índios na Constituição”. — É uma disputa por recursos naturais.
Adriana Ramos, secretária-executiva do Instituto Socioambiental, afirma que o quadro “reflete o descaso” do governo federal com a questão indígena:
— É fundamental que o governo do estado e o governo federal coloquem suas forças de segurança no território e façam intervenção urgente para garantir a proteção dessas terras.
No sábado, dois indígenas da etnia guajajara morreram e outros dois foram baleados, em um atentado no município de Jenipapo dos Vieiras (MA), a 506 km ao sul de São Luís. O crime aconteceu às margens da BR-226. Em protesto, os guajajaras bloquearam a rodovia — a pista foi liberado no fim da tarde deste domingo, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Fora do país, a jovem ativista sueca Greta Thunberg, um dos principais nomes pela luta contra os efeitos das mudanças climáticas, afirmou que os povos indígenas estão sendo assassinados por proteger as florestas.
“Os povos indígenas estão literalmente sendo assassinados por tentar proteger a floresta do desmatamento ilegal. Repetidamente. É vergonhoso que o mundo permaneça calado sobre isso”, escreveu numa rede social.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou os assassinatos e cobrou respostas urgentes das autoridades brasileiras: “A CIDH solicita ao Brasil que investigue esses fatos com rapidez e diligência e reitera a recomendação após sua visita in loco para tratar das causas estruturais relacionadas à luta pela terra e fortalecer os mecanismos de proteção à lideranças”.
O governo do Maranhão informou que uma das vítimas baleadas está internada em estado grave e o outro poderia receber alta ainda neste domingo.
Com as mortes, sobe para três o número de guajajaras assassinados neste ano. Em 1º de novembro, Paulino Guajajara, do grupo de fiscalização “Guardiões da Floresta”, foi morto com um tiro na Terra Indígena Arariboia.
Em nota, a Fundação Nacional Nacional do Índio (Funai) lamentou o ocorrido: “Indígenas foram atingidos por tiros originados de um veículo Celta, de cor branca, e vidros espelhados. A equipe da Funai está na região, com os indígenas, providenciando o registro da ocorrência”.