Povo primeiro, diz novo presidente argentino
Foto: Agustin Marcarian/Reuters
O peronista Alberto Fernández foi empossado nesta terça-feira, 10, como presidente da Argentina com uma mensagem pouco animadora ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e aos credores do país. “O governo que terminou deixou o país em situação de default potencial. Para poder pagar, primeiro vamos ter de crescer”, afirmou em seu primeiro discurso no cargo. Escudado por Cristina Kirchner, sua vice e principal cabo eleitoral, o novo líder foi leal a suas convicções ao defender como prioridade de seu governo a Justiça social.
O pacote econômico do novo governo, com o detalhamento do plano de reestruturação da dívida, será anunciado nos próximos dias pelo ministro da Economia, Martín Gusmán. Fernández antecipou que não cumprirá o orçamento nacional proposto pelo ex-presidente Maurício Macri e só o adequará depois de tratada a questão da dívida. “O país tem vontade de pagar. Mas carece de capacidade para fazê-lo”, insistiu.
Fernández pediu aos argentinos tempo para obter os resultados de sua política econômica heterodoxa. Mencionou com clareza a herança deixada por Macri de inflação acima de 50%, taxa de câmbio desvalorizada, de crescimento econômico mais baixo em 10 anos, de 20.000 indústrias fechadas desde 2015 e de desemprego de 30% entre os trabalhadores mais jovens. “A economia e o tecido social estão em extrema fragilidade”, resumiu.
Amparado no tradicional discurso peronista, Fernández foi aplaudido ao declarar que quer a “Argentina de pé” e ao refutar as missões técnicas do FMI, com “suas receitas fracassadas” de ajustes macroeconômicos.
Como medidas efetivas, anunciou a criação de um Ministério da Habitação e de outro para Meio Ambiente, bem como a reinstalação do Ministério da Saúde, área cujo orçamento sofreu corte de 40% nos últimos quatro anos. Prometeu ainda a abertura dos chamados “fundos reservados”, com alocação confidencial de recursos pela Presidência, e a destinação de seu orçamento para um plano de combate à fome. Antecipou que enviará um projeto ao Congresso de reforma do Judiciário e que haverá intervenção na Agência Federal de Inteligência. Nunca mais ao Estado secreto, aos porões da democracia”, declarou.
Fernández homenageou, em sua fala, Raúl Alfonsín, o primeiro presidente da redemocratização do país. Mas expressou gratidão, sobretudo, a Cristina Kirchner, parceira sem a qual dificilmente seria eleito em outubro, e ao ex-presidente Néstor Kirchner, que o manteve como chefe de gabinete e braço direito ao longo de seu mandato. Fes referência especial a Kirchner ao pedir a união nacional e o fim das divergências que dividem famílias no país.
“Não contem comigo para transitar o caminho do desencontro. Quero ser o presidente capaz de descobrir a melhor faceta de quem pensa diferente de mim”, afirmou.