Viçosa é a campeã de erros de correção do Enem
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Há 30 anos, Ademir Ricart Alves é professor e coordena escolas e cursos preparatórios para o Vestibular em Viçosa, no interior de Minas Gerais. E afirma que nunca presenciou uma situação como a atual: uma série de queixas de alunos de sua região sobre erros na correção das provas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) que tiveram os resultados divulgados na última sexta-feira (17).
Apesar de o Ministério da Educação (MEC) ter confirmado as falhas e dito que tudo está sendo corrigido, Ademir continua preocupado com as notas dos alunos.
“Ficamos muitíssimo preocupados quando vimos que alunos excelentes estavam com notas muito baixas. Mesmo o posicionamento do MEC sobre a recorreção, continuamos apreensivos porque não sabemos se todos tiveram as provas revistas. Na verdade, não tem como saber”, lamenta o professor.
A maioria dos cerca de 6.000 candidatos prejudicados pelos erros na correção das provas fez a prova em Minas Gerais, de acordo com levantamento do MEC.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, explicou que a cidade, junto com Ituiutaba e Iturama, também em Minas, e Alagoinhas, na Bahia, concentram 95% dos problemas identificados.
Bolsista no Pré-Vestibular Anglo Viçosa, Bianca da Silva Andre, de 23 anos, foi uma das alunas que teve a “prova rosa corrigida com base no gabarito cinza”. Ela conta estar se preparando há três anos para ingressar no curso de Enfermagem na Universidade Federal de Viçosa.
“Quando vi as minhas notas de Matemática e Ciências da Natureza, que estavam pouco mais de 200 pontos abaixo, chorei muito de indignação. Fiquei incrédula. Não tinha como ser aquela nota. Sei o quanto foi um ano puxado nos estudos, lembro de todas as noites mal dormidas, o esforço e incentivo da minha mãe”, diz a estudante.
Bianca conta que o “alívio” só veio depois de checar novamente as notas, na segunda-feira (20). Esse também foi o caso de Gabriela de Almeida Paula, de 19 anos. Aluna do curso Ômega, ela conta que estuda há dois anos para o Enem e pretende cursar Odontologia ou Psicologia, também na Universidade Federal de Viçosa.
“Ao ver minhas notas, entrei em desespero porque a média em todas as áreas foi baixa, menos na redação. Fiquei extremamente preocupada com a situação porque sabia q tinha ido bem nas provas. Com a recorreção, minhas notas que estavam em 379 em Ciências e 431 em Matemática foram para a casa dos 600”, explica.
Formada em escola pública, Gabriela critica a confusão ocorrida na divulgação dos gabaritos pelo MEC.
“Eu vejo o descaso do governo com a nossa Educação e sei que tem muitos estudantes que necessitam da nota do Enem para ingressar numa universidade e realizar o sonho de mudar a vida das suas familias. Acho uma tremenda falta de respeito o nosso governo não rever todas as notas no geral, por que deve ter pessoas que sequer perceberam os erros”.
O ministro Abraham Weintraub garantiu que as notas já estão corrigidas e disse que o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) já foi aberto hoje, conforme programado previamente. Todavia, agora, o prazo para que os vestibulandos inscrevam suas notas do Enem para pleitear vagas nas universidades do país foi estendido em dois dias e pode ser feito até domingo.
Quarto titular responsável pelo Inep em um ano, Alexandre Lopes garantiu que a reavaliação das notas já foi realizada. “Pegamos todos os quase 4 milhões de participantes e corrigimos as provas deles com todos os gabaritos deles – e calculamos todas as inconsistências possíveis. Então, já olhamos todos os casos, todas as situações em que pudesse ter modificação de nota”, disse ele, na segunda-feira.