Ex ministros da Fazenda e presidentes do BC pedem desmatamento zero
Foto: Ricardo Moraes / Reuters
Ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central (BC) se uniram para assinar uma carta defendendo uma retomada econômica atenta ao meio ambiente e cobraram o desmatamento zero na Amazônia e no Cerrado.
A divulgação da carta veio após pressões de investidores internacionais e de empresários brasileiros que pediram um combate mais efetivo contra o desmatamento pelo governo brasileiro.
A carta foi assinada pelos ex-ministros da Fazenda, Eduardo Guardia, Gustavo Krause, Henrique Meirelles, Joaquim Levy, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Maílson da Nóbrega, Marcílio Moreira, Nelson Barbosa, Pedro Malan, Rubens Ricupero e Zélia Cardoso de Mello.
Entre os ex-presidentes do BC, Alexandre Tombini, Armínio Fraga, Gustavo Loyola, Ilan Goldfajn e Persio Arida assinaram a carta. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi ministro da Fazenda, também apoiou a manifestação.
No documento, eles alertam que os custos de “descuidar” do meio ambiente podem ser ainda maiores do que os da atual pandemia do coronavírus.
“Os efeitos de longo prazo da pandemia serão severos, inclusive devido ao contexto fiscal ainda mais desafiador. Superar a crise exige convergirmos em torno de uma agenda que nos possibilite retomar as atividades econômicas, endereçar os problemas sociais e, simultaneamente, construir uma economia mais resiliente ao lidar com os riscos climáticos e suas implicações para o Brasil”.
O ex-presidente do Banco Central no governo Temer, Ilan Goldfajn, afirmou que não há como ter crescimento sustentável sem considerar as questões do meio ambiente. Ele ressalta que atualmente os investimentos são importantes para o crescimento econômico.
— Tivemos recentemente vários investidores do norte da Europa condicionando o seu investimento ao dinheiro ser utilizado de forma responsável, de forma sustentável, ligando para o meio ambiente. A imagem do Brasil está relacionada a este tema e o investimento obviamente vai afetar o nosso crescimento no médio e longo prazo.
Os signatários da carta ainda destacam que a retomada econômica oferece oportunidade para promover uma economia “de baixo carbono e sustentável”. Eles também sublinham que o Brasil tem vantagens no campo da matriz energética, por exemplo, com “abundante radiação solar” , além de recursos hídricos e florestas.
“Por isso, nós, ex-ministros da Fazenda e ex-Presidentes do Banco Central do Brasil, subscrevemos este documento e defendemos que critérios de redução das emissões e do estoque de gases de efeito estufa na atmosfera, e de resiliência aos impactos da mudança do clima sejam integrados à gestão da política econômica”.
Os economistas apontam alguns princípios que poderiam nortear a retomada econômica. Entre eles, investimentos público e privado em desenvolvimento de tecnologias com baixa emissão de carbono, zerar o desmatamento na Amazônia e no Cerrado e um controle melhor do cumprimento às leis de proteção ambiental.
Armínio Fraga, ex-presidente do BC no governo Fernando Henrique, ressaltou que as mudanças climáticas em si podem ter um impacto “devastador”, inclusive para o setor do agronegócio, o mais produtivo do país.
Fraga afirmou que o governo precisa tomar medidas, como a repressão aos crimes ambientais e incentivar a redução do uso dos combustíveis fósseis e a pesquisa de novas tecnologias.
— Acredito que nós temos que colocar o tema como uma prioridade máxima da política econômica e nós temos as ferramentas.
O ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, Rubens Ricupero, fez críticas às políticas do governo Bolsonaro. Ricupero lembrou a exoneração da coordenadora do monitoramento do desmatamento no Inpe e da fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que queria “passar a boiada” nas regulamentações ambientais.
Ricupero classificou a resposta do governo às reclamações de investidores internacionais e empresários brasileiros como “relações públicas”.
— A essa altura dos acontecimentos é preciso ter uma credulidade, um ingenuidade ilimitada para ainda acreditar. É claro que começa a haver uma reação por causa dos danos que isso causa no exterior, mas até agora é uma operação puramente de relações públicas.
A ministra da Economia na gestão de Fernando Collor, Zélia Cardoso de Mello, apontou que a carta veio em um momento de “consciência da gravidade da situação”.
— Há de haver uma consciência por parte dos governos e agentes econômicos dos desafios que são postos e quais medidas têm que ser tomadas.