ONU vê “escravização” de mulheres na pandemia
Foto: Licia Rubinstein/Agência IBGE Notícias
A Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou em relatório publicado nesta quinta-feira (26) que a pandemia da Covid-19 fez com que a igualdade de gênero retrocedesse em anos, com mulheres de todo o mundo assumindo a maior parte das tarefas domésticas extras surgidas.
Um dia antes, a ONU já havia apontado que a pandemia está agravando as violências cometidas contra mulheres e meninas refugiadas, deslocadas internamente e apátridas.
O relatório da ONU Mulheres, batizado de “Whose time to care?” (De quem é a vez de cuidar?, em tradução livre para o português), descobriu que, enquanto tanto homens quanto mulheres tiveram um aumento não remunerado de trabalho profissional, as mulheres enfrentam um fardo no cuidado.
A entidade analisou dados disponíveis de 38 países para coletar os panoramas sobre o trabalho não pago e realizou pesquisas em quase 50 países, alternando entre uma variedade de métodos, como pesquisa telefônica e online.
O levantamento descobriu que mulheres estão assumindo mais tarefas domésticas que os homens ao longo da pandemia e também são mais suscetíveis a deixar o mercado de trabalho.
Cerca de 60% das mulheres e 54% dos homens afirmaram aos pesquisadores ter visto crescer o tempo gasto em tarefas domésticas desde que a pandemia começou. No entanto, as mulheres relatam uma intensidade maior destas tarefas extras — e por períodos mais longos de tempo — do que os homens.
As mulheres questionadas estimam que elas estão gastando cerca de 5,2 horas a mais por semana de cuidados com os filhos, enquanto os homens relatam um acréscimo de 3,5 horas nesse trabalho doméstico.
Isso indica que, “na maior parte dos países, mulheres estão gastando mais de 30 horas por semana apenas para cuidar dos filhos — quase o equivalente ao tempo médio gasto em um emprego de tempo integral”, afirma o relatório.
A ONU Mulheres afirma que mais mulheres deixaram o mercado de trabalho ao longo da pandemia da Covid-19, possivelmente como resultado de um aumento da carga de trabalho doméstico.
No final do segundo trimestre de 2020, havia 76% mais mulheres que homens fora do mercado de trabalho. Eram 321 milhões de mulheres desempregadas, contra 182 milhões de homens fora da força de trabalho.
A análise das Nações Unidas considerou os dados de emprego de 55 países de renda alta e média, com as maiores disparidades na América Latina.
Mesmo antes da pandemia, a ONU estimava que mulheres já assumiam três vezes mais responsabilidades e tarefas domésticas que os homens, que somadas resultavam em bilhões de horas de trabalho todos os dias.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 16,4 bilhões de horas sejam gastas nessas tarefas todos os dias no mundo. O equivalente a dois bilhões de pessoas trabalhando diariamente por oito horas, sem ganhar nada por isso.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) alertou nesta semana que a pandemia também está intensificando a violência contra mulheres e meninas refugiadas e apátridas.
“Nós estamos recemento relatos alarmantes de aumentos grandes nos riscos de violência baseada no gênero, incluindo violência de parentes íntimos, tráfico de pessoas, exploração sexual e casamento infantil”, afirmou Filippo Grandi, alto comissário da ONU para os refugiados, em posicionamento divulgado na quarta-feira (25).
“Empregos foram perdidos, tensões estão crescendo, violência entre parceiros íntimos está escalando, oportunidades para angariar meios de vida estão escassas e as restrições de deslocamento estão tornando difícil para sobreviventes reportar abusos e buscar ajuda”, acrescentou Grandi.
O Acnur afirmou que um aumento na violência originada pelo gênero foi relatado em ao menos 27 países e a venda ou escambo do sexo como meio de sobrevivência foi também registrado em pelo menos 20 países.
A organização disse estar alarmada pelo risco crescendo de casamentos infantis e forçados em geral, que estão sendo usados como famílias deslocadas como uma estratégia para sobreviver em meio às pressões socioeconômicas.
Muitos países vivenciando situações de conflito derivado da migração forçada também são os que registram as maiores taxas desses incidentes, completa a entidade da ONU.
O Acnur está buscando ajuda de doadores para poder “preservar e fortalecer a prevenção essencial e os trabalhos de resposta”, que podem ser essencialmente cruciais durante lockdowns da Covid-19.
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