Haddad inicia por Salvador campanha oficial do PT

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Pouco conhecido entre os nordestinos e criticado por sua falta de habilidade no contato direto com eleitores, o ex-prefeito de São Paulo participou nesta terça-feira (21) de uma caminhada em Salvador com missão de divulgar sua imagem em meio a um eleitorado ainda ávido pela presença de Lula na disputa.

Nesse processo de transmutação de plano B para herdeiro do lulismo, um acento agudo vai simbolizar a iminente substituição do ex-presidente pelo ex-prefeito na disputa.

A partir do dia 31, com a estreia do horário eleitoral, a marca da campanha petista —“Lula e Haddad”— dará lugar ao lema “Lula é Haddad”. Essa transição será demarcada em jingles e material de campanha.
Condenado em segunda instância, Lula, segundo a Lei da Ficha Limpa, é inelegível. Mas a defesa do petista insiste e manter sua candidatura até uma decisão final do TSE.

Além de indicar a transferência de Lula a Haddad, o PT investirá na associação da candidatura petista ao povo. Com objetivo de efetivar essa transferência de votos, uma vinheta frisará: “Lula e Haddad e o povo. Lula é Haddad. É o povo. É o Brasil feliz de novo”.

A fusão da imagem dos dois foi iniciada já nesta terça, com a divulgação de um vídeo em que cenas de ambos são sobrepostas ao som de discursos do ex-presidente. “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera”, é uma das frases selecionadas.

No vídeo, exibido na página oficial do ex-presidente, aparições de Lula são entrecortadas por comentários de Haddad. Lula fala que não adianta tentarem evitar que ele ande pelo país porque existem milhões de Lulas.

Haddad conclui: “Somos Lula. Somos milhões de Lula”, diz o ex-prefeito, acrescentando que andará por todos os cantos do Brasil levando a palavra e os sonhos do ex-presidente. No vídeo, Haddad afirma também que a força do povo já fez o Brasil sorrir uma vez. “Juntos vamos fazer o Brasil feliz de novo”, acrescenta o ex-prefeito.

Mesmo com o registro cassado por inelegibilidade, Lula também deverá ocupar 25% do tempo do PT em rádio e TV. Esse é o limite fixado pelo TSE para manifestações de apoio de terceiros em programas eleitorais. A defesa do ex-presidente entende que não há empecilhos à participação dele.

Até o início da campanha na TV, no final deste mês, Haddad passará por um período de “aclimatação” em território lulista —regiões e estratos sociais onde o ex-presidente mantém alta popularidade. Ainda sem poder dizer que tomará o lugar de Lula na urna, a ideia é colar no ex-prefeito o número da legenda, do PT, o 13.

Conduzido nas ruas de Salvador por Rui Costa, um dos que defende que “a ideia se consagra no 13”, Haddad deixou o habitual blazer de lado e vestiu uma camiseta estampada com o rosto de Lula para tirar selfies e acenar aos cerca de 3.000 eleitores que ocupavam as ladeiras da Liberdade, bairro da periferia da cidade.

O ex-prefeito caminhou por quase uma hora, de início ainda um pouco assustado com o tumulto, mas se recusou a subir no carro de som. Preferiu ir no chão, embalado pelo jingle do “Correria”, apelido dado ao governador.

Na Bahia, dizem os petistas, “correria” é aquele que faz acontecer. “O cara provou, tem que continuar, a correria não pode parar”, diz a música de Costa, em ritmo de axé, e nesta terça amplificado pelo batuque do bloco Ilê-Aiyê, um dos mais tradicionais do carnaval de Salvador.

Na reta final do ato, Haddad estava mais relaxado, com os cabelos molhados de uma mistura de chuva e suor, e até dançou. “Haddad nunca viu uma coisa dessa”, disse uma petista que acompanhava a caminhada.

Ali, os correligionários de Costa e Jaques Wagner, candidato do PT ao Senado, sabiam que Haddad era o candidato a vice de Lula, mas repetiam que o voto deles será do ex-presidente em outubro. “A gente vai votar no Lula, que, por coincidência, o número é 13”, disse Madiba Freitas, um dos apoiadores do evento.

O discurso, mantido mesmo quando confrontado com a ideia de que Lula deve ser declarado inelegível, é exatamente o que a campanha do PT pretende ampliar a partir de agora. O desafio do ex-prefeito, dizem auxiliares mais próximos, é conquistar o espólio de Lula, fiando-se na ideia de que o ex-presidente é a representação de um projeto que Haddad poderá retomar.

Segundo o ex-prefeito, a “orientação geral”, Lula incluído, é “colocar o bloco na rua” e explicar como o partido vai “resgatar o país e a soberania nacional”.

Após sua passagem por Salvador, o candidato a vice do PT viajará a Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Maranhão. No giro que vai até sábado (25), porém, não estão incluídos estados como Pernambuco e Ceará, onde há conflito entre aliados.

Da FSP.