ONU irá gerir “ajuda humanitária” à Venezuela
Os US$ 9,2 milhões (R$ 35,5 milhões) liberados nos últimos dias pelo Fundo Central de Resposta Emergencial (Cerf) da ONU para o enfrentamento da crise humanitária na Venezuela não ficarão nas mãos do governo de Nicolás Maduro.
A dotação será repassada a cinco agências das Nações Unidas que atuam no país para financiar projetos que miram o combate à desnutrição de crianças e gestantes, o oferecimento de assistência médica a mulheres vítimas de violência e o fornecimento de água tratada e saneamento básico para deslocados.
O esfacelamento do tecido social venezuelano mistura falta de alimentos, carência de remédios e equipamentos médicos, perseguição a opositores do regime, inflação fora de controle e saída maciça de pessoas em direção a nações vizinhas, inclusive o Brasil –3 milhões já emigraram, segundo a ONU, ou 10% da população em 2014.
Em maio deste ano, as Nações Unidas já haviam liberado US$ 6,2 milhões (R$ 24 milhões) para iniciativas de apoio a refugiados da Venezuela e solicitantes de asilo em territórios vizinhos. O aporte recém-anunciado, entretanto, é o primeiro para projetos desenvolvidos no território venezuelano.
A Organização Mundial de Saúde é quem receberá o maior montante, US$ 3,6 milhões (R$ 14 milhões). A lista inclui ainda o Fundo de População das Nações Unidas (R$ 6,5 milhões), a Organização Mundial para as Migrações (R$ 1,5 milhão), o Alto Comissariado para Refugiados (R$ 2,9 milhões) e o Unicef (R$ 10 milhões), que se ocupa da infância.
O total é compatível com o atribuído pelo Cerf em 2018 a ações na Coreia do Norte (R$ 39 milhões), em Níger (R$ 36 milhões) e no Haiti (R$ 34,6 milhões).
Na Venezuela, explica uma fonte da ONU, os programas apoiados são de conhecimento da ditadura de Maduro. As agências funcionam em cooperação com o regime. Mas são elas que recebem os recursos do Cerf e têm de prestar contas pelo seu uso.
A expectativa das Nações Unidas é que essa primeira injeção de recursos na Venezuela abra caminho para uma instalação mais extensiva do aparato de ajuda humanitária por todo o território, já que o impasse político-social no país caribenho não dá sinais de arrefecimento.
O aceno a uma possível aproximação do regime com a ONU teve um reforço simbólico na segunda (26), quando o embaixador venezuelano junto às Nações Unidas, Jorge Valero, entregou em mãos à Alta Comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, um convite para conhecer “os amplos e históricos esforços [do governo] a fim de garantir e promover os direitos humanos”.
No fim de setembro, Maduro já se oferecera para ciceronear a ex-presidente do Chile em uma visita ao país.
Da FSP