Jean Wyllys: Com prisões medievais, no Rio não falta Guantánamo

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O governador eleito do Rio, Wilson Witzel, já demonstrou que gosta de abusar de um vocabulário bizarro para passar a impressão de que trabalha arduamente na questão da segurança. Desde a campanha ele só fala em autorizar tiros na cabeça de pessoas que seus policiais acharem que são traficantes. A sua pérola mais recente foi reivindicar para o estado uma prisão “como a de Guantánamo”.

Quero lhe perguntar aqui: Que tal se começasse a apresentar medidas concretas, e não frases de botequim?

O que um estado como o Rio, que tem prisões em condições condenadas por organismos internacionais, onde presos são frequentemente violentados e mortos, tem para invejar a base de Guantánamo, onde eram torturados presos do exército americano? Aqui, a tortura é prática tão corrente nos presídios quanto ratos e a tuberculose.

Witzel está invejando uma base que tortura presos? Ora, é só dar uma passada nas nossas próprias unidades. Elas são a prova concreta de que condições sub-humanas para população carcerária não melhoram em nada o nível de violência do lado de fora. Pelo contrário, nas unidades mais degradadas é que os egressos se tornam mais violentos e facilmente ligados às facções.

Se a coisa mais inovadora e eficiente que Witzel conseguiu pensar para melhorar os indicadores de violência no Rio é uma unidade prisional onde ocorre tortura, temos problemas. Um é que o novo governador desconhece a realidade do sistema prisional que terá que administrar, onde tortura já é algo disseminado. Outro é que seu desconhecimento só pode nos levar ao fracasso na solução do problema. E o mais grave é que nos levará a violação da própria Constituição e de tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.

Para resolver a questão da segurança no Rio Witzel precisa copiar dos EUA não suas prisões com tortura, mas o sistema educacional público e gratuíto, de qualidade, os valores do salário mínimo (lá por hora), o desenvolvimento científico e tecnológico, e a geração de oportunidades de emprego, entre outras medidas sociais que foram combinadas com o aparato de vigilância das polícias. Copiando só a cadeia mais bizarra, é possível que ninguém por aqui note diferença com relação ao que já vinha sendo feito antes.

Da página do Deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ)