Batalhão que mais mata no RJ é acusado de executar jovem em Costa Barros
Na tarde do dia 28 de novembro de 2015, Lucas de Azevedo Albino pediu à mãe para ir com os amigos no Parque Madureira. Recebeu um não como resposta. A negativa salvou sua vida. Os amigos foram fuzilados dentro do carro em que estavam, em Costa Barros, na Zona Norte. Policiais militares do 41º BPM (Irajá) são acusados do crime. Três anos depois, a violência voltou a cruzar o caminho de Lucas. O jovem de 18 anos foi morto a tiros no último dia 30, no mesmo bairro que os amigos. Sua mãe, Laura Ramos de Azevedo, acusa PMs do mesmo batalhão, o de Irajá, de terem matado o filho.
Lucas foi baleado por volta das 7h. Segundo relatos da mãe, a família havia combinado de ir à praia em Mangaratiba e o jovem havia saído de casa para buscar a namorada, que mora perto de sua casa, em Costa Barros. No caminho, encontrou com um amigo mototaxista que lhe deu uma carona. A dupla parou num posto de gasolina e quando saía do local, na esquina da Avenida Pastor Martin Luther King Junior com a Estrada Botafogo, Lucas foi baleado.
— Testemunhas me disseram que os policiais já entraram na rua atirando contra meu filho e o amigo dele. O Lucas caiu no chão, baleado de raspão nas costas, e logo começou a gritar que não era bandido e pedia que me chamassem — contou.
Ainda de acordo com Laura, testemunhas relataram que os policiais socorreram seu filho, mas ele já chegou morto ao hospital.
— Meu filho tomou apenas um tiro de raspão nas costas e chegou ao hospital também com tiros na cabeça e no pescoço. Depois de ter sido baleado, o Lucas entrou na viatura sozinho, andando. Estava consciente. Esses policiais mataram meu filho no caminho do hospital. O tiro que deram acabou com o rosto dele. Só pude fazer o reconhecimento do corpo dele pelo pé — lamenta Laura.
Na certidão de óbito de Lucas, consta que a causa de sua morte foi “laceração encefálica, ação pérfuro-contundente”. O rapaz não tinha nenhuma passagem pela polícia.
Na Central de Garantias da Polícia Civil, no Jacaré, os policiais militares afirmaram que Lucas e seu amigo, que estava pilotando a moto, estavam armados e teriam trocado tiros com eles. Os PMs disseram ainda que encontraram, com Lucas, um radiotransmissor, drogas e uma granada. O amigo do jovem fugiu com a chegada da polícia. Laura contesta a informação e afirma que no bolso do filho havia apenas R$ 2, cópia de sua identidade e a chave de casa.
— Durante meu tratamento contra o câncer, pedia ao médico para não deixar que eu morresse porque meu filho dependia de mim. Meu filho era tudo pra mim — afirma.
A morte de Lucas foi registrada na Central de Garantias como auto de resistência (morte em decorrência de confronto policial). Num primeiro momento, apenas os PMs foram ouvidos. “O relato dos policiais militares indica que suas condutas estão abraçadas por justificação legal”, afirmou o delegado João Ismar Rocha da Silva em seu despacho. O caso foi encaminhado para a 39ªDP (Pavuna) para prosseguimento das investigações. As armas dos policiais envolvidos na ocorrência foram recolhidas pela Polícia Civil.
No último dia 3, Laura esteve na Corregedoria da Polícia Militar para denunciar os PMs e o órgão também passou a investigar a morte de Lucas. Procurada, a assessoria de imprensa da PM não se posicionou.
Jovens fuzilados por PMs em 2015
Cinco jovens foram mortos, em novembro de 2015, após o carro em que estavam ter sido alvo de dezenas de tiros dados por quatro policiais militares do 41º BPM (Irajá), enquanto passavam pela Estrada João Paulo, em Costa Barros. Todos estão presos e serão levados a júri popular pelo crime.
Os policiais afirmaram que um homem que estava dentro do carro teria atirado contra eles. No entanto, o MP afirma que os jovens estavam desarmados. Os PMs também alegaram que as dezenas de disparos no veículo teriam sido dados por traficantes que trocaram tiros com os policiais. A versão, no entanto, também foi contestada pelo MP.
Os PMs foram denunciados por homicídio qualificado e tentativa de homicídio qualificado, por atirarem nos cinco jovens e em Wilkerson Luis de Oliveira Esteves e Lourival Júnior, que acompanhavam de moto o carro onde os jovens mortos foram fuzilados. Eles também foram denunciados por fraude processual.
Do Jornal Extra