Mulher de miliciano entrou depois de Queiroz na equipe de Flávio
A mulher do ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da milícia do Rio das Pedras e tido pelo Ministério Público do Rio como o homem-forte do Escritório do Crime, trabalhou por mais de 11 anos no gabinete de Flávio Bolsonaro. Danielle Mendonça da Costa foi nomeada poucos meses depois de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio investigado pelo Ministério Público, passar a integrar o gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.
De acordo com informações da Alerj, Danielle foi nomeada oficialmente em 6 de setembro de 2007, trabalhando ininterruptamente na equipe de Flávio Bolsonaro até 13 de novembro do ano passado, quando foi exonerada a pedido – terminologia utilizada quando o servidor pede sua desvinculação do cargo comissionado.
A nomeação veio poucos meses depois da chegada de Fabrício Queiroz ao gabinete. O subtenente da reserva foi cedido à Alerj em 28 de março daquele ano, segundo informações da Assembleia. Após Flávio se eximir de responsabilidade pela manutenção da mulher de Adriano no gabinete, Queiroz, em nota, admitiu ter sido o responsável pela indicação de Danielle e da sogra dela, Raimunda Veras Magalhães – que passou a ocupar cargos ligados a Flávio Bolsonaro em 2015.
Segundo o ex-assessor, Adriano estava preso sob a acusação de homicídio na época em que Danielle foi nomeada: “Ademais, vale frisar que o Sr. Fabrício solicitou a nomeação da esposa e mãe do Sr. Adriano para exercerem atividade de assessoria no gabinete em que trabalhava, uma vez que se solidarizou com a família que passava por grande dificuldade, pois à época ele estava injustamente preso, em razão de um auto de resistência que foi, posteriormente, tipificado como homicídio, caso este que já foi julgado e todos os envolvidos devidamente inocentados”, informa a nota divulgada pela defesa de Queiroz.
Queiroz afirma ter conhecido Adriano quando os dois foram lotados no 18º BPM (Jacarepaguá) – responsável pelo patrulhamento da comunidade do Rio das Pedras. No mesmo mês em que atuou em favor da mulher do miliciano, Queiroz deu mostras de sua influência na montagem da equipe de Flávio Bolsonaro. No dia 20 de setembro de 2007, emplacou a filha Nathalia Melo de Queiroz, então com 18 anos, para um cargo no gabinete com salário de R$ 6.490,35.
Principal alvo da operação desta terça-feira, Adriano não foi encontrado pelos agentes da Polícia Civil e é considerado foragido. Ele é apontado pelo Ministério Público como principal líder da milícia que domina o Rio das Pedras – comunidade que exportou esse tipo de quadrilha para o resto da cidade. Ele também é suspeito de ser o principal articulador do Escritório do Crime, grupo de matadores de aluguel suspeito de ter executado a vereadora Marielle Franco (PSOL).
Adriano já foi alvo de outra operação – a Tempestade do Deserto, em 2011, que desarticulou uma quadrilha suspeita de envolvimento em homicídios e outros crimes relacionados a uma disputa de poder pelo patrimônio do contraventor Waldomiro Paes Garcia, o Maninho. Mesmo com a grande repercussão do caso, Danielle foi mantida no posto.
Em discurso de 2007, Flávio disse que “não se pode, simplesmente, estigmatizar as milícias, em especial os policiais envolvidos nesse novo tipo de policiamento, entre aspas”. Para o filho do presidente da República, “a milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”.
De O Globo