Não adianta calar uma bicha. Virão uma, duas, três, 1 milhão no lugar!
Por Rodrigo Martins
Confesso que a tristeza de ver uma minoria tendo de desistir me dá vontade de chorar. Jean Wyllys deu a cara a tapa. Não dá pra dizer que ele seja medroso. Ele era o único LGBT assumido num ambiente em que machos predominam em mais de 80%. E muito menos dá pra dizer que eu, no lugar dele, não faria a mesma coisa. Simplesmente porque não faço a menor ideia das ameaças que ele vem sofrendo, ainda mais com a eleição do machão que sempre fez bullying com ele na Câmara.
Sim, há vídeos de Bolsonaro chamando Jean de “boiola”, fazendo plaquinhas, provocando como se fosse um garoto de quinta-série querendo se afirmar. É isto que estamos vivendo no Brasil: um grande bullying de quinta-série, só que o valentão tem a caneta na mão, foi ainda mais empoderado. Não que os outros governos tivessem se preocupado muito com LGBTs. Mas tinham o discurso de tolerância. Bolsonaro se elegeu prometendo o fim do discurso de tolerância.
A “brincadeira” que Bolsonaro fez na quinta no Twitter ao postar “grande dia” logo após o anúncio de Jean é isso. Uma criança de quinta-série soltando uma provocação tosca que pode depois ser facilmente desmentida com “estava falando de Davos”. Não aconteceu nada de importante na quinta em Davos. E o PRESIDENTE DA REPÚBLICA, ao invés de assegurar que nenhum LGBT vai ser perseguido ou oferecer alguma ajuda em segurança a Jean, botou mais lenha na fogueira. E foi covarde depois pra não assumir, como todo macho “valentão”.
Ao olhar as notícias nos portais, é notória a quantidade de heteros comemorando, rindo de algo tão grave. Questionam: “O que importa não é a sexualidade, mas as ideias.” Oras, Jean foi EXPULSO do Brasil justamente por ter sua sexualidade aberta e defender que todos possam ter. Esta é a ideia. Quando conservadores dizem que isto não importa, estão dizendo que denunciar a violência contra minorias e cobrar providências é algo que não importa. É isto que querem dizer.
Jean saiu, mas saiu atirando pra denunciar a violência. E em seu lugar assumirá outro LGBT escancarado. É importante este recado aos reacionários, a gente que tem 63 anos, como Bolsonaro, mas parece que não passou dos dez: não adianta calar uma bicha. Você cala uma, vem outra em seu lugar. Estão desde 1500, com o cristianismo, tentando nos exterminar. E falham miseravelmente nestes 500 anos. Não só não conseguiram acabar conosco, como ganhamos ainda mais voz.
Quando era criança e sofria bullying, a cada porrada, eu levantava, olhava bem no olho e dizia: “Não doeu! Bate direito!”. Nunca revidei fisicamente. Porque isso iria me igualar a meu agressor, faria todos pensarem que era uma “simples” briga. E eu queria que o meu agressor sentisse que nada do que ele pudesse fazer a mim conseguiria me afetar. A cada um que tentava me tombar, eu subia num palco mais alto e gritava mais alto.
O recado é este. Que Jean continue sendo uma voz ativa, mesmo no exterior. E que não venha uma apenas, mas duas, três, quatro, cinco, 1 milhão de vozes em seu lugar. Não vamos abaixar a cabeça. A cada dia, o mundo se torna um lugar mais aberto para a gente. E não vamos deixar retroceder. Este povo é fraco. Nunca conseguiram nos exterminar. Não é agora, em que estamos todos conectados, mobilizados e fazemos ainda mais barulho, que irão conseguir.
Machos, melhor tentar bater direito! Porque não doeu!
Rodrigo Martins é comunicador, estrategista de diversidade e coordena uma comunidade de 8 mil bissexuais e pansexuais