Zema defende menos fiscalização e comemorou ampliar mineração em Brumadinho há 3 dias
Mais um rompimento de barragem em Minas Gerais traz consequências desastrosas à famílias e ao meio ambiente. Duas barragens em Brumadinho (MG), da mineradora Vale S.A., romperam na tarde dessa sexta-feira (25) com a indicação de 200 desaparecidos. O governador de Minas, Romeu Zema (Partido Novo), declarou prontamente a formação de um gabinete de crise para lidar com o desastre. Porém, seu plano de governo, sua agenda política e suas escolhas para as secretarias mostram melhor o seu projeto para a mineração.
A mídia mineira, inclusive o Brasil de Fato, divulgou amplamente a reunião que o governador teve com a empresa Samarco já na segunda semana de governo. A publicação em seu Facebook anunciava: “Conversamos sobre os cerca de 14.500 empregos que serão gerados com a retomada da atividade da empresa na região de Mariana e Ouro Preto. (…) O desenvolvimento tem que ocorrer para a geração de empregos, mas sem tirar os olhos da questão ambiental. Assim teremos uma Minas Gerais eficiente.” A reunião foi criticada por quem acompanha a pauta, questionando porque o mandatário não se reuniu com as vítimas.
Dias depois Romeu Zema reuniu-se com outra mineradora, a Vallourec, desta vez para conversar sobre a ampliação da extração de minério em Brumadinho (MG), local do desastre desta sexta. “Representantes da Vallourec, empresa produtora de aço e mineradora, me apresentaram um projeto de expansão da Vallourec Mineração, unidade do grupo localizada no município de Brumadinho. O investimento previsto é de R$ 220 milhões, com geração de 400 empregos temporários nos próximos dois anos e 335 empregos permanentes. Minas é a principal região produtiva do grupo e meu governo vai trabalhar duro para trazer investimentos, gerar empregos e renda aos mineiros e mineiras”, publicou Zema em seu Instagram junto a uma foto com diretores da empresa.
Novamente a opinião do governador foi discrepante em relação à população. Os moradores, organizados no Movimento das Águas de Casa Branca, realizaram uma série de ações durante 10 anos contra o avanço da mineração na região, inclusive com um abaixo-assinado que reuniu 82 mil assinaturas. Mesmo assim o Conselho Estadual de Política Ambiental aprovou, em dezembro, a ampliação em 88% de duas minas em Brumadinho e Sarzedo.
Secretários da Mineração
A relação entre Partido Novo e as mineradoras ficou mais explícita na nomeação de dois nomes para secretarias essenciais na definição das ações econômicas do estado. Manoel Vítor de Mendonça Filho, que assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, era vice-presidente da mineradora Gerdau-Açominas. E Otto Levy Reis, que assumiu a Secretaria de Planejamento e Gestão, antes trabalhou em diversos cargos de chefia da Magnesita Refratários, empresa que possui um grande setor de mineração.
O que Zema diz(ia) em campanha eleitoral
O plano de campanha do governador Romeu Zema (Partido Novo) não teve propostas específicas para a área ambiental. A palavra “ambiente” apareceu treze vezes, quase sempre ao lado da expressão “de negócios”, e nunca se referindo à natureza. Apesar disso, Zema criticou de modo geral os licenciamentos feitos pelo estado, afirmando que “desincentivam”, “criam burocracias” e “gastos” aos empresários. Adicionou ainda que isso não evitou irregularidades.
O plano de governo usou o exemplo do caso Samarco para ilustrar empresas a serem punidas. “A Boate Kiss e a Samarco, por exemplo, estavam legalmente regularizadas no papel, mas a prática mostrou o contrário”. Para facilitar empreendimentos, seria preciso presumir a inocência do agente econômico. “Porém, em contrapartida a esta presunção, serão garantidas severas punições, a posteriori, no caso de irregularidades.” Contraditória, a publicação de Romeu Zema em seu Facebook, em 15 de janeiro, mostrava já um tom conciliador. “Estive reunido hoje com representantes da Samarco. Conversamos sobre os cerca de 14.500 empregos que serão gerados com a retomada da atividade da empresa”.
CPI da Mineração na ALMG
“Quando a gente não toma as providencias necessárias, como foi o caso do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, as tragédias continuam acontecendo”, declarou a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), que esteve no local do desastre ontem. Ela propõe a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Mineração para investigar os crimes relacionados a rompimentos de barragens no estado. “Na próxima semana já começamos os trabalhos. É preciso dar um fim no rompimento de barragens, porque se não fizermos isso mais barragens se romperão. O exemplo é o que estamos vivendo neste momento”, declarou.