Em resistência a Bolsonaro, Carnaval será um dos mais politizados dos últimos tempos

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No Rio de Janeiro, por exemplo, duas escolas de samba do primeiro grupo, Mangueira e Paraíso do Tuiuti, tratarão do assunto. A primeira homenageando a vereadora Marielle Franco, assassinada há quase um ano, crime político ainda sem solução. A segunda fazendo referências cifradas a Lula no seu samba-enredo O Salvador da Pátria.

Em 2018, a Paraíso do Tuiuti irritou o Palácio do Planalto ao exibir Michel Temer como um vampiro estilizado. E ainda zombou dos ingênuos que saíram à rua contra a corrupção, chamando-os de manifestoches. Agora, mais sutilmente, vai contar a saga do bode Ioiô, um nordestino baixinho e de barbicha que se elegeu e conquistou o país. E vai irritar de novo os poderosos de Brasília.

O prefeito que vai virar diabo

“Quem foi de aço nos anos de chumbo/ Brasil chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles e Malês/ Mangueira, tira a poeira dos porões/ Ô, abre alas/ Pros seus heróis de barracões”, vai cantar a Mangueira na Marquês de Sapucaí. É um trecho do samba-enredo Canção para Ninar Gente Grande, que resgata personagens esquecidos pela história oficial do Brasil.

Também no Rio, a Acadêmicos do Sossego, do segundo grupo, vai pegar no pé de Marcelo Crivella, que reduziu os recursos para o Carnaval. Segundo promete a escola, o prefeito surgirá com feições de diabo na passarela. Não se Meta com Minha Fé, Acredito em Quem Quiser” é o samba-enredo que questiona o prefeito, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus e apoiador de Bolsonaro.

Glória a Deus, chegou a Ursal!

Em Porto Alegre, surgiu o bloco Ai que Saudade do Meu Ex, referência a Lula. “Ai que saudade do meu ex/ Que lutou pra nos libertar/ O povo tá de olho em vocês/ O que o nosso Lula fez/ Vocês não vão apagar”, adverte a canção-tema do bloco. Também da capital gaúcha é a Nau da Liberdade que defende uma sociedade sem manicômios. “Hospício guarda/ Hospício caixa!/ Eu, não me encaixo!” diz um trecho da sua marcha. A proposta da Nau é “festejar a nossa resistência que se alinha às lutas contra as opressões dos machismos, racismos e lgbtfobias”.

“Daciolo anunciou/ Pra este Carnaval/ Glória a Deus/ Chegou a Ursal”… É assim que começa o Samba da Ursal, do bloco de mesmo nome que vai desfilar em Pelotas. Outro Bloco da Ursal desfila em São Paulo. Se o Sul vem com a Ursal, Olinda vem com a Ursene – União das Repúblicas Socialistas dos Estados do Nordeste, deboche com direito a camiseta vermelha com foice e martelo…

Eu Avisei virou nome de bloco em São Paulo e em Belo Horizonte. É troça na cabeça dos eleitores que viajaram na maionese na hora do voto. Seus foliões envergarão um abadá laranja… O paulistano Acadêmicos do Baixo Augusta, que desfilará com o tema Que País é Esse?, igualmente vem disposto a cutucar.

“Traz a mamadeira de piroca”

Mas Bolsonaro e sua turma já estão penando mesmo é com as implacáveis marchinhas. Ele, sua família, seus ministros e suas confusões com laranjas. Ironicamente, quem mais abastece de sarcasmo a folia é uma família de Curitiba, sede da Operação lava-Jato.

“Mamãe não deu pra comprar arma/ Me dá o liquidificador/ Traz a mamadeira de piroca/ Goiaba, açaí e a laranja, por favor/ Traz a mamadeira de piroca/ Vou preparar um suco violento e opressor”. É um trecho da Marcha do Pobre de Direita que Marilda, Ligia, Nilson e Isis Passos cantam em vídeos no You Tube com milhares de visualizações. Mas é apenas um dos hits da Família Passos, aplaudida também por A Culpa é do PT, Marchinha da Barbie, Nossa Bandeira Jamais Será Vermelha, Marchinha do Foro Privilegiado, entre muitas.

Do Brasil de Fato