Comissão da ONU investigará Israel por crimes de guerra contra palestinos

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Uma comissão da ONU afirmou nesta quinta-feira (28) que a resposta de Israel às manifestações em Gaza em 2018 “pode constituir crimes de guerra ou crimes contra a humanidade”, e observa que franco-atiradores atacaram civis, incluindo crianças.

Em um relatório elaborado por investigadores do Conselho de Direitos Humanos da ONU —que não receberam autorização de Israel para ir ao local dos fatos—, foi analisada a violência ocorrida durante os protestos semanais realizados de março a dezembro de 2018 no território palestino.

“Soldados israelenses cometeram violações contra os direitos humanos e o direito internacional humanitário, alguns dos quais podem constituir crimes de guerra ou crimes contra a humanidade e devem ser imediatamente investigados por Israel”, afirmou presidente da comissão que investiga o caso, Santiago Cantón.

Segundo a comissão da ONU, “mais de 6.000 manifestantes desarmados foram atingidos por atiradores de elite militares, semana após semana, durante as manifestações”.

Os investigadores indicaram que “encontraram motivos razoáveis para acreditar que atiradores de elite israelenses atiraram em jornalistas, profissionais de saúde, crianças e pessoas com deficiência, sabendo que eles eram claramente reconhecíveis como tal”.

“Não há razão para matar ou ferir jornalistas, médicos e pessoas que não representam uma ameaça iminente de morte […] para as pessoas à sua volta. Atacar crianças e pessoas com deficiências é particularmente alarmante “, declarou outra pesquisadora da ONU, Sara Hossain.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU estabeleceu a comissão em maio de 2018 para “investigar as violações e supostos maus-tratos […] no contexto dos ataques militares realizados durante as grandes manifestações civis que começaram em 30 de março de 2018 em Gaza”.

Desde então, milhares de palestinos da Faixa de Gaza, região localizada entre Israel, Egito e o mar Mediterrâneo, se reuniam todas as semanas perto da fronteira na chamada Marcha de Retorno, que reivindicava o direito dos palestinos de retornar às terras de onde foram expulsos ou de onde fugiram com a criação de Israel em 1948.

Israel disse que o protesto em massa foi organizado pelo Hamas, movimento islamita que comanda a Faixa de Gaza e com o qual já travou três guerras desde 2008.

Mas para os investigadores da ONU, “as manifestações eram de natureza civil, com objetivos políticos claramente declarados e, apesar de alguns atos de violência significativa, a comissão considerou que as manifestações não constituíam campanhas militares ou de combate”.

Em suas conclusões, a comissão também recomenda às autoridades da Faixa de Gaza que parem com o uso de “balões equipados com dispositivos incendiários”, sendo o envio desses artefatos para Israel um dos aspectos da vasta mobilização palestina.

A comissão, com a qual Israel não cooperou, conduziu 325 entrevistas de vítimas, testemunhas e fontes. Foram coletados mais de 8.000 documentos. Ela também teve acesso a material audiovisual, incluindo gravações feitas por drones.

Pelo menos 251 palestinos foram mortos por tiros israelenses nesses confrontos, a grande maioria ao longo da fronteira, e os demais morreram em ataques israelenses em retaliação por atos hostis. Dois soldados israelenses morreram no mesmo período.

Em uma reação imediata, Israel rejeitou o relatório da ONU, atribuindo ao movimento palestino Hamas a responsabilidade pelas violências e o número de vítimas nas manifestações.

“O teatro do absurdo praticado no Conselho de Direitos Humanos [da ONU] produz um relatório hostil, falso e parcial contra Israel”, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, em um comunicado.

Em 18 de março, um relatório mais detalhado será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos, um órgão da ONU que as autoridades israelenses geralmente acusam de preconceito contra Israel.

Da FSP