Todo mundo nu
A recém-divulgada pesquisa Ibope sobre a aprovação popular ao governo Dilma Rousseff e à própria confirma, mais uma vez, o que os mal chamados “formadores de opinião” teimam em desconhecer: o mundo político guarda muito pouca conexão com o mundo real.
O mundo político é esse do livro sobre a privataria e das quedas sucessivas de ministros, e o mundo real é habitado por uma maioria que beira a unanimidade e que dá de ombros a denúncias, até porque não se interessa por política.
Essa massa despolitizada e de baixa cultura geral, porém, adotou um critério para exercer seu poder de eleger ou boicotar políticos que é muito mais racional do que o critério dos empolados “formadores de opinião”: prefere tomar suas decisões eleitorais com base na percepção sobre como quem governa está lhe afetando a vida, já que o que um político diz sobre o outro e o que a mídia diz sobre eles não pode ser levado a sério.
Desde que o livro sobre a privataria tucana estourou de vender nas livrarias que se sucedem relatos sobre vendedores perplexos com o interesse por ele entre o reduzidíssimo contingente de brasileiros que compra livros por mero prazer de ler e não por necessidade profissional ou educacional. Isso mostra o quanto política é tema para poucos, no Brasil.
Aliás, sobre os formadores de opinião, vale dizer que há muito deixaram de ser apenas os colunistas e comentaristas dos grandes meios de comunicação, pois quase todos os que pegam um jornal para ler sobre política ou que não mudam de canal quando os telejornais abordam o assunto são pessoas de maior nível de instrução e cultura que há muito estão na internet e que, assim, acabam tomando conhecimento do contraponto que blogs, sites e redes sociais fazem ao grande noticiário.
Apesar de o público politizado estar muito mais exposto ao viés político dos grandes meios de comunicação, acaba buscando o outro lado na internet porque até os que concordam com tais meios ficam curiosos em saber o que suas fontes de informação pregressas não divulgam.
Em blogs como este e em tantos outros fica claro o interesse que o outro lado que a mídia esconde desperta até em quem concorda com ela por simples interesse político ou econômico ou até por acreditar sinceramente em suas opiniões.
Os resultados das três últimas eleições presidenciais e a perenidade da aprovação nas pesquisas ao grupo político ao qual a imprensa se opõe mostram que a maioria não dá mais crédito a suas acusações por saber que ela é parte da política e não mera observadora e relatora de seus meandros.
Mais do que a comunicação, portanto, os fatos fizeram o povo pensar a política sob a perspectiva do próprio bolso. Mais do que a internet, o governo Lula foi preponderante para aniquilar a permeabilidade que a maioria dos eleitores brasileiros tinha ao viés político da mídia.
Até 2003, o consenso majoritário entre os brasileiros era o de que a política não tinha poder de mudar a vida das pessoas. Como essa maioria acabava acatando as campanhas midiáticas para eleger presidentes e sua vida não mudava – e esta tese serve para eleição de cunho nacional, porque no âmbito regional pesam outros fatores –, ela achava que não adiantava votar que os problemas do país não tinham solução.
Pouco importa, leitor, se você acha que o Brasil melhorou durante a era Lula por mérito de Fernando Henrique Cardoso ou por mérito de quem efetivamente governou. O fato é que todos concordam que o Brasil melhorou depois que elegeu Lula.
As eleições presidenciais de 2006 e 2010, à diferença da de 2002, mostraram que o povo discordou da teoria de que FHC plantou alguma coisa que Lula colheu, tese que a grande mídia martela sem parar desde que os primeiros resultados do governo petista começaram a surgir.
Em 2002, Lula foi uma espécie de última cartada. Em 1989, 1994 e 1998 a maioria apostou na implícita recomendação de voto midiática e ao fim de cada mandato dos que elegeu naqueles anos, quebrou a cara. Então, essa maioria decidiu arriscar.
Votar em Lula ou em quem ele indique virou sinônimo daquele primeiro voto autônomo de 2002 que tantos resultados trouxe à qualidade de vida de todos. O ato ousado de votar no político que fora barrado pelo medo difundido pela imprensa mostrou ao povo que é preciso ousar.
As denúncias de corrupção sistemáticas da imprensa só contra um lado também foram encaradas como mera confirmação do que sempre se disse à farta no Brasil, que quem entra na política tem que “meter a mão na merda”
Quem votou no PT em 2002, 2006 ou 2010 sabe muito bem que há corrupção em qualquer governo. Triunfa, assim, teoria que é a quintessência do atraso, mas que vai se tornando paradigma: é melhor votar em quem rouba como qualquer político, mas faz.