EUA dizem que somos racistas, sim

Reportagem

Apesar de jornalistas brancos de renome empregados em impérios de comunicação nacionais escreverem livros e fazerem comentários no âmbito de uma cruzada que empreendem com a finalidade de negar que exista racismo no Brasil, telegramas entre diplomatas americanos e o governo dos Estados Unidos que o site Wikileaks vem vazando, dizem o contrário.

Em um pacote de 25 telegramas da embaixada dos Estados Unidos em Brasília e do consulado em São Paulo redigidos entre 2004 e 2009 e vazados pelo WikiLeaks, os diplomatas americanos informaram ao seu governo que “Muitos (brasileiros) alegam que o racismo não existe, apesar das evidências esmagadoras do contrário“.

Certamente, os americanos, considerados um dos povos mais racistas do mundo, referem-se, acima de tudo, ao notório livro do diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, que não faz por menos e crava um título que exibe a conduta que a diplomacia americana no Brasil reporta ao seu governo: “Não somos racistas”.

Por meio de concessões públicas de rádio e TV, a tese é martelada diariamente, para espanto não só do movimento negro ou dos neo abolicionistas que tentam pôr fim à escravidão informal que ainda vitima negros e descendentes de negros neste país, fazendo com que ganhem piores salários e formem, em esmagadora maioria, a massa pobre e miserável que persiste apesar das políticas públicas dos últimos anos que tentam acabar com essa chaga, como a política de cotas para negros nas universidades, que busca pôr fim ao absurdo de, apesar de os negros serem mais da metade da população, não serem nem  10% dos universitários.

Na imagem acima, um dos exemplos mais dolorosos da campanha que a Globo empreende para negar o racismo que a diplomacia americana denuncia. A atriz Juliana Alves (ex-BBB), no papel de “Gislaine” na novela global “Duas Caras” (2008), lê o livro de Ali Kamel, no âmbito de uma trama que exibe uma democracia racial fictícia que qualquer pessoa racional sabe ser inexistente.

Abaixo, áudio de comentário do “analista político” da Globo Arnaldo Jabor, que afirma que combater o racismo no Brasil e implementar políticas públicas para reduzir seus efeitos seria tornar o Brasil uma nação “bicolor”.

Felizmente, como negros e descendentes correspondem a mais da metade da população brasileira, segundo o IBGE, e começam a ter acesso à educação, agora votam de uma forma que permite que o Estado promova políticas para atacar essa trama hedionda do racismo cordial brasileiro, trama em que o cinismo e o egoísmo da direita branca são protagonistas.