A república dos canalhas
Mais um degrau foi galgado na escalada de canalhice que começou no fim do ano passado com aquela garota do interior de São Paulo que pregou o assassinato de nordestinos pelo Twitter, passando pelo crime impune de racismo cometido pelo deputado Jair Bolsonaro e que acaba de desembocar na apologia ao estupro pelo integrante do programa CQC Rafinha Bastos.
O “humorista” do programa da TV Bandeirantes faz piadas com estupro, aborto, doenças e deficiência física. Acaba de dizer que toda mulher que reclama de estupro é “feia” e deveria “agradecer” a violência. Segundo os adeptos desse tipo de “humor”, este não pode ser feito sem mau gosto, sem desumanidade e insensibilidade. A “graça” estaria em pisotear os que já foram pisoteados pela vida.
Esse homem, em reportagem do jornal The New York Times, foi considerado a pessoa mais influente do mundo no Twitter. Mas o que isso quer dizer? O que é ser influente nessa rede social que cada vez mais vai abrigando toda sorte de horrores? Significa ser “retuitado”, ou seja, as pessoas que lêem esse tipo de “pensamento” passam para frente, em efeito multiplicador.
Bastos é influente no Twitter porque tem cerca de DOIS MILHÕES de seguidores na rede social e eles não só compram as aberrações que diz, mas as difundem. Ele os influencia, portanto. Ou seja: faz com que essas pessoas, sobretudo jovens, emulem seu comportamento e suas idéias doentias. E o sucesso que vem fazendo só o estimula a ir cada vez mais longe.
Parece bastante razoável, portanto, dizer que a sociedade brasileira – e, sobretudo, nossos jovens – está moralmente doente. Uma geração em que há tantas pessoas frias, cínicas, empedernidas é a que irá governar o Brasil do futuro. Uma geração diferente de todas as que a terão precedido, capaz de rir das desgraças alheias e de pregar atos criminosos como afogar ou estuprar pessoas.
Como sempre, os adeptos dessa “ideologia” virão dizer que seu ícone não disse o que disse, ou buscarão desculpas para alguém que difunde (com inegável sucesso) um tipo de comportamento que, entre as mentes mais fracas, acabará incentivando a que passem da retórica à ação…
Como não é crime desejar, pregar, incentivar o desprezo pelos valores humanos mais essenciais, e como as autoridades de todos os níveis e instâncias parecem não dar a menor bola para o assunto, essa onda amorfa e repugnante só tende a crescer.
Caberia uma campanha publicitária de iniciativa do Estado exaltando valores humanistas e condenando esse tipo de mentalidade. Contudo, devido à sua crescente popularização a classe política demonstra claramente que não pretende se indispor com contingentes tão amplos de cidadãos. Enquanto isso, a onda vai crescendo.
Está se formando uma geração de bestas-feras, insensíveis, truculentas, perversas, que, um dia, terá poder sobre as vidas de todos os brasileiros. E não há autoridade que faça a menor menção de se opor a esse horror por conta dos interesses mesquinhos e da covardia da classe política. Espero não viver o suficiente para ver esse Brasil que está sendo gestado.