Não foi Marina quem conduziu a Bandeira Olímpica, foi o Brasil
Algumas polêmicas são tão inúteis quanto é possível que sejam. Por exemplo, um certo incômodo que causou a escolha de Marina Silva para conduzir a Bandeira Olímpica durante a abertura das Olimpíadas da Grã Bretanha. Esse incômodo não tem o menor sentido.
A escolha de uma personalidade política, porém, não foi a mais adequada. Até porque os outros escolhidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) não eram políticos e, ao convidarem política de um país para receber a honraria, entraram em terreno incerto.
Os outros escolhidos foram Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, o ex-boxeador Muhammad Ali, o fundista etíope Haile Gebreselassie, o maestro argentino Daniel Barenboim e quatro ativistas de direitos humanos, alguns ganhadores do prêmio Nobel.
Todavia, o que parece é que o COI cometeu apenas uma gafe ao querer homenagear o Brasil, próxima sede dos Jogos Olímpicos.
Há milhares de Marinas Silvas espalhadas pelo mundo. Ou seja: pessoas que lutaram contra a pobreza, a ignorância e a adversidade e se tornaram expoentes na defesa de boas causas. O que se depreende é que cabia um lugar ao Brasil, daí a escolha dela.
Marina não foi escolhida entre tantos brasileiros por sua ação política, mas por seu simbolismo em um mundo que tem na defesa do meio ambiente uma das suas causas mais urgentes. A mim pareceu isso.
Sejamos claros: há pessoas que claramente pareceram ter sentido desagrado por Lula não ter sido escolhido. Sobre isso, francamente acho que não faria sentido. Haveria certo desagrado de outros ex-chefes de Estado que estariam à altura de ser homenageados.
A escolha poderia não ter recaído sobre uma personalidade política? Poderia, mas será que vale a pena pagar mico semelhante ao que pagou repórter da Globo ao perguntar a um dirigente do Instituto de Estudos Políticos de Paris por que escolheu Lula e não FHC para homenagear?
Ora, foi ridículo o que fez a mídia àquela época. O Science Po escolheu Lula assim como o COI escolheu Marina. Não cabe perguntar por que nas duas situações. Quem escolhe, nesses casos, é quem concede a homenagem. Ponto.
Ora, bolas, que se dê a Marina a honraria. Apesar de sua atuação política dúbia e questionável durante a campanha eleitoral de 2010, não se pode negar a ela o mérito de sua belíssima trajetória de vida.
Alguns parecem sugerir que teria havido má intenção na escolha de Marina. Não se pode descartar nada, obviamente. Grupos de pressão brasileiros como a mídia podem ter feito gestões para materializar essa escolha. Todavia, se isso ocorreu foi uma idiotice.
Aliás, se a pressão por Marina ocorreu mesmo, só não foi um furo n’água como ataque político porque algumas pessoas passaram recibo…
Particularmente, senti orgulho ao ver o Brasil ter sido um dos raros países que tiveram cidadãos escolhidos para a homenagem. É óbvio que a escolha tem relação com o fato de que sediaremos os próximos Jogos Olímpicos e todos sabem a quem isso se deve.
Muito melhor do que perder tempo com essa bobagem teria sido refletir sobre quem mais está perdendo com as Olimpíadas de 2012. Afinal, as atenções do mundo se voltaram para Londres na sexta-feira e não foi a Globo que transmitiu o evento.