Vergonha alheia de jornalistas do UOL que sabatinaram Haddad

Análise

 

Começa assim a matéria que o UOL e a Folha de São Paulo escreveram sobre a sabatina que fizeram ao candidato do PT a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad:

O candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, classificou de “lastimável” a forma como o adversário José Serra (PSDB) conduz sua campanha eleitoral e chamou de “esboço” o plano de governo do candidato do PRB, Celso Russomanno. As declarações foram feitas durante sabatina Folha/UOL nesta quinta-feira (13). Os ataques do petista, contudo, foram centrados no tucano. De acordo com a última pesquisa Datafolha de intenção de voto, Serra (20%) e Haddad (17%) estão tecnicamente empatados em segundo lugar. Russomanno lidera com 32%. Durante a sabatina, Haddad atacou Serra mesmo em momentos em que o tucano não era citado (…)”

O início da matéria define o que foi a sabatina: mera reprodução do discurso do candidato tucano José Serra contra o sabatinado.

Para entrevistar Haddad, Folha e UOL escalaram um time que parecia a “selecinha” de Mano Meneses: pífio no ataque e incompetente na defesa – de Serra.

Pela Folha, argüiram o editor do caderno “Poder”, Ricardo Balthazar, a editora da seção Painel, Vera Magalhães, a colunista Barbara Gancia e, pelo UOL, seu colunista Maurício Stycer.

A entrevista se limitou às picuinhas tucanas previsíveis: Maluf, Enem, mensalão e bilhete mensal, principalmente. Mas também buscou equiparar a mentira de Serra em 2004 prometendo não abandonar a prefeitura à saída de Marta Suplicy do Senado para assumir o Ministério da Cultura.

Essa questão, em particular, deu vergonha alheia.

Por acaso Marta assinou vários documentos e os registrou em cartório, como Serra, prometendo não aceitar um cargo de ministra?

Senadores, deputados e vereadores de todos os partidos e de todo o Brasil deixam mandatos legislativos para assumir cargos no Poder Executivo. E podem retornar aos cargos legislativos, inclusive, porque não é preciso renunciar.

Governadores e prefeitos de todos os partidos e de todo o Brasil deixam seus mandatos para disputar cargos mais altos – prefeitos tentam ser governadores e estes, presidentes.

Por que se cobra de Serra a renúncia ao mandato de prefeito que São Paulo lhe deu? Apenas porque ele assumiu compromisso público de não renunciar.

Por que até a Folha, entre outros, cobrou isso de Serra, à época? Ora, porque todo mundo sabia que ele disputaria o governo do Estado de São Paulo dois anos depois de se candidatar a prefeito e ele negou isso até por escrito.

Não é o caso de Marta, assim como não é o de ninguém de partido nenhum que faça o que Serra fez sem mentir.

O discurso sobre “incompetência” de Haddad no Enem que os entrevistadores da Folha e do UOL chuparam de Serra também ajudou na geração de vergonha alheia. Haddad os calou respondendo que foi apenas um crime e que o culpado foi preso.

Haddad só não disse, talvez por educação, que o crime de sabotagem do certame educacional ocorreu dentro da gráfica da Folha que imprimiu as provas.

Foi escandaloso, também, que os entrevistadores não tenham perguntado Haddad sobre como enfrentaria os incêndios de favelas por “combustão espontânea” que ocorrem às dezenas só em São Paulo desde que Serra-Kassab assumiram.

Os constrangedores entrevistadores preferiram falar de “invasões” de sem-teto, trocando o problema mais gritante por um que está longe de gravidade igual.

O mensalão, claro, não poderia ficar de fora, apesar de Haddad não ter qualquer relação com o caso.

Tentaram vincular o sabatinado, inclusive, a José Dirceu por, como era atribuição deste enquanto ministro da Casa Civil, dar posse a outros ministros, o que fez ao nomear Haddad para a Educação no início do governo Lula.

Haddad deixou claro exatamente o que é, que não se pode condenar todo o PSDB pelos tucanos que estão envolvidos no mensalão do PSDB, ora. Assim, por que condenar todos os petistas pelas acusações a alguns deles?

A tal Barbara Gancia e sua colega Vera Magalhães tentaram arranjar relação de amizade entre Dirceu e Haddad. Apesar de não existir, se todos os amigos de Dirceu estiverem sob suspeição esses entrevistadores deveriam ter cuidado porque a lista é longa…

Afoitos por falar em corrupção (mas só do PT), aquelas criaturas que entrevistaram o petista não tiveram maior curiosidade sobre Hussain Aref Saab, ex-diretor afastado do setor de aprovação de prédios da Prefeitura de São Paulo, nomeado por Serra quando prefeito.

Para quem não sabe, durante a gestão desse sujeito a lista de imóveis de que é proprietário saltou de cerca de uma dezena para mais de uma centena e, por isso, está sendo processado pelo Ministério Público.

Haddad enfrentou tudo isso com bom-humor e segurança bem maior do que a dos entrevistadores, que foram calados várias vezes por suas respostas articuladas.

O candidato do PT, surpreendentemente sereno e aparentando alto astral, chegou a ironizar de leve a renitência dos ataques dos entrevistadores.

Enfim, nesta sexta-feira será a vez de Serra ser sabatinado pelo UOL. Veremos quanta contundência será usada.

Perguntarão da Privataria Tucana? Acho que não seriam tão ousados em não perguntar, mas nunca se sabe…

Tampouco poderão deixar de fora a questão do abandono do mandato de prefeito após ter assinado documentos em cartórios prometendo o contrário.

O que será medido na sabatina de Serra pela Folha e UOL nesta sexta-feira, então, será o tom, a insistência e a ousadia das questões. Adotarão tom e discurso dos adversários como fizeram com Haddad?

Este blogueiro duvida e faz pouco. E você?