Dilma Rousseff vai à TV e pede “Respeito ao Nordeste”

Análise

 

No programa de Aécio Neves da noite de terça-feira (14), ele já assumiu a Presidência da República: plateia de supostos representantes de milhões de aposentados – que o programa tucano não informa quem nomeou – concorda com todas as propostas do candidato do PSDB para acabar com o fator previdenciário, criado pelo mesmo PSDB, e o tratou por “presidente”.

O programa tucano apela para o golpe da barriga. Literalmente. Uma mulher negra e grávida exalta as qualidades do candidato da “massa cheirosa” enquanto segura ostensivamente o ventre semeado. Há uma evidente pretensão de fazer com que o expectador concorde com o que ela diz simplesmente por estar grávida.

O PSDB não se emenda. Continua subestimando o povo.

O programa tucano precedeu o de Dilma Rousseff, na terça-feira. Dedicou-se a atacá-la enquanto “denunciava” que por ela é atacado. Mais uma vez, os tucanos abusam da crença em que o expectador tenha o brilhantismo de uma porta ou de um pote de picles.

O programa de Dilma vem em seguida. Abre com imagens de obras por todo o país, mas, já na abertura, diz a que veio.

Dilma, hoje uma expert em uso do teleprompter, começa a expor o tema do programa.

“O novo Nordeste é um dos retratos mais fieis do Brasil que está nascendo. É a prova de que vontade e garra NUNCA faltaram ao povo brasileiro.  O que faltava mesmo era oportunidade. Faltava apoio, faltava compromisso (…)

O show de desempenho dos nordestinos é tão grande que muita gente, no Brasil, ainda não está informada de tudo que acontece por lá. Você sabia que nos últimos anos o Nordeste cresceu o triplo da média nacional e que foi lá que a renda do brasileiro mais cresceu?

É por isso que podemos dizer, sem nenhum tipo de exagero, que muito do desenvolvimento do nosso país nos últimos 12 anos vem da garra, do talento e da vontade de melhorar de vida do nordestino.

Vale lembrar que os nordestinos também ajudaram e ajudam a construir São Paulo e todas as regiões mais ricas do país. Mas muitos têm agora a chance de retornar à sua terra e ajudar neste grande trabalho de reconstrução do Nordeste

A locução forte e cheia de significados de Dilma é sucedida por imagens tipicamente nordestinas acompanhadas de um jingle que pede respeito ao Nordeste.

Após defender o brio dos nordestinos, o programa de Dilma passa a elencar melhorias ocorridas no Nordeste durante o atual governo e o anterior que dificilmente algum nordestino, mesmo preferindo o adversário dela, terá coragem de negar.

E o jingle pedindo respeito ao Nordeste, enquanto a locução cita crescimento da renda, prossegue.

Em seguida, aparece um nordestino típico dando um recado que cada cidadão daquela região irá entender.

E o jingle prossegue: “Respeite meu Nordeste sim, senhor!”

Dilma volta a falar:

Depois do desenvolvimento dos últimos anos, ter preconceito contra o Nordeste e contra o povo nordestino é coisa de quem não conhece o Brasil real, de quem não tem, nem nunca teve, compromisso com o Brasil profundo. O Nordeste de hoje, é o avanço. O Nordeste de hoje é a semente do futuro. Atraso é não reconhecer isso. Alguém que ainda cultiva esse tipo de pensamento merece de todos, e de cada um dos brasileiros, o mais forte repúdio. Vamos aprofundar as mudanças. Esse é meu compromisso. Assim, o Nordeste dos grotões e dos coronéis só vai existir nos livros de literatura e no preconceito de certas pessoas que escondem as alianças que sempre fizeram”.

Para o Sul e o Sudeste – com destaque para São Paulo –, Dilma está falando grego. Porém, para o Nordeste, onde, em alguns lugares, ela chegou a ter 70% dos votos no primeiro turno, a presidente foi muito clara.

Dilma, no Nordeste, é uma espécie de Aécio Neves vitaminado. Tem muito mais apoio lá do que ele no Sul “Maravilha”. O Norte e o Nordeste formam uma nação com mais de 50 milhões de eleitores, enquanto que Sul e Sudeste têm mais de 80 milhões.

Contudo, apesar da maior quantidade de eleitores nas regiões tucanas, a região petista apoia Dilma muito mais do que Aécio é apoiado em seu feudo eleitoral conservador. Em uma eleição em que Norte e Nordeste se contrapõem tão fortemente ao Sul e ao Sudeste, resta saber quem vai vencer essa disputa, levando em conta que no Centro-Oeste a situação é de equilíbrio.

A estratégia da campanha de Dilma, porém, faz todo o sentido do mundo. O que era possível conquistar no Sul e no Sudeste, já foi conquistado no primeiro turno. O ódio visceral nesta região – sobretudo em São Paulo – espalhou-se como uma epidemia.

O ódio ao PT é tão irracional em São Paulo que a população reelegeu com votação esmagadora um governador que a fará penar muito já a partir do fim deste ano, com um racionamento de água que já ocorre veladamente, mas que, junto à oficialização, será muito ampliado. Assim que terminar a eleição.

O estelionato eleitoral tucano, porém, terá primeiro que ser sentido em sua completude para que, na próxima eleição – provavelmente, na municipal, de 2016 –, os brasileiros deem o troco aos tucanos como deram em 2002, após o estelionato de FHC em 1998, quando afirmou que a única chance de evitar a desvalorização do real seria reelege-lo.

Seja como for, o programa de Dilma está na linha certa. E como a mídia deu um tempo no uso da delação programada pela Justiça para cair no período eleitoral, talvez, por enquanto, seja válido centrar fogo no adversário assumido.

De tudo isso, o que se pode depreender é que a campanha de Dilma passa a jogar todas as suas fichas no Nordeste. Até porque, o programa da presidente em questão por certo fez aumentar ainda mais a raiva da parte do eleitorado que já a odeia. Se é que isso é possível.

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Assista, abaixo, ao programa supracitado