Direita não quer mais se arriscar a tirar Temer e pôr FHC
Não vou escrever sobre 2016, não vou fazer retrospectiva. Chega a ser um desrespeito para com a inteligência das pessoas dizer a elas como foi o inferno que viveram neste ano. É chamar o sujeito de idiota, ainda que muitos adorem que a mídia os chame de alguma forma, nem que seja de idiotas.
Prefiro falar do futuro imediato, de 2017, que precisaremos dividir em tópicos.
Tópico 1 = Fora, Temer?
Não sei se vai rolar… Acho que Temer se fortaleceu entre os golpistas por conta de que se ele cair pode ocorrer uma surpresa na sua sucessão. Podem ver que o PSDB está todinho fechado com ele, tirando até fotos, abraçadinhos etc.
O que, convenhamos, é um péssimo negócio, ainda mais em um momento em que estão arrancando os direitos dos trabalhadores, coisa que muita gente é sem saber, preferindo achar que está “do outro lado” por ser de classe média.
Cheguei a achar que a queda de Temer pela cassação da chapa Dilma-Ele seria ruim porque obviamente a eleição do presidente substituto não ocorreria, já que o ano está terminando e se a eleição não ocorre até o fim do segundo ano do mandato do último presidente eleito, uma eventual substituição seria por eleição indireta, de modo que, além de o Brasil trocar duas vezes de presidente em menos de um ano ser (mais) um golpe mortal para a economia, ainda nos empurrariam, pela garganta abaixo, um FHC ou outro reaça qualquer.
Contudo, como já disse, não há sinais de que Temer será abandonado no meio do caminho, ainda mais depois de emplacar o teto de gastos e a recente proposta de arrocho nos direitos trabalhistas, que talvez tenha sido o pior retrocesso da história para o trabalho assalariado.
Tópico 2 = Eleição indireta ou diretas já?
É muito arriscado para os golpistas. Os brasileiros gostam de xingar os políticos, mas não abrem mão da eleição direta. Até quem não vota quer que a eleição seja direta. Porque a maioria intui que pôr alguém pra mandar em tudo que ninguém sabe como será escolhido não é lá um bom negócio pra ninguém.
Uma campanha pelas diretas já pode contaminar o país. E se contaminar o país não vai dar tempo de condenarem Lula em segunda instância, e sem condenarem Lula em segunda instância não será possível impedi-lo de disputar uma eleição presidencial que acabará virando eleição direta.
Aliás, regra estabelecida na minirreforma eleitoral de 2015 diz que uma eleição para substituir presidente já no terceiro ano de mandato só será indireta se o registro da chapa for cassado nos últimos seis meses do mandato.
Embora a regra esteja no Código Eleitoral e na Constituição, ela gera dúvidas. Líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), protocolou uma consulta no TSE para saber quem elegerá o novo presidente, caso a chapa Dilma-Temer seja cassada.
Ou se Temer sofrer impeachment, ou se renunciar.
Seja como for, é de interesse dos golpistas, portanto, o Fica, Temer.
Precisa explicar mais? Acho que não…
Então vamos ao terceiro tópico.
Tópico 3 = governabilidade
Durante os últimos anos do governo Dilma setores mais extremistas de esquerda e direita começaram a demonizar o conceito de “governabilidade”. No dizer dos dois extremos do espectro político, busca de governabilidade teria sido uma desculpa de Lula e Dilma para fazerem acordos com corruptos por, obviamente, serem também eles corruptos…
É uma bobagem, a famosa ideia de jerico, mas até hoje tem muito panaca que fala sobre governabilidade sob esse viés.
Governabilidade, porém, é condição incondicional para um governante poder fazer o seu trabalho e, como agora se sabe, não ser derrubado.
Para obter governabilidade o governante tem dois caminhos. Um deles é o seu partido conseguir eleger uma enorme bancada de parlamentares para lhe dar sustentação na casa legislativa de seu nível de governo – federal, estadual ou municipal. O outro é o governante fazer alianças.
Vamos fazer um acordo, leitor? Vamos estabelecer que político que promete governar sem apoio legislativo é um picareta, mistificador, enganador, malandro que você deve evitar?
Ok, obrigado. Então vamos em frente.
Não adianta Lula ou qualquer outro esquerdista vencer uma eleição se com ele for eleito um Congresso como esse, o mais conservador da história, gerado pelas convulsões sociais de junho de 2013.
Esquerdista ou direitista, para se eleger presidente, governador ou prefeito precisa de apoio parlamentar.
O que ocorre, porém, é que a esquerda nunca conseguiu força no Brasil para eleger grandes quantidades de parlamentares porque campanhas para casas legislativas também dependem de quantidades gigantescas de dinheiro e, obviamente, o dinheiro não está na mão da esquerda.
O dinheiro está nas mãos do empresariado e o empresariado é de direita. Ponto. Assim, mesmo sem poder financiar diretamente o político, ele pode doar e arrumar amigos ricos para doarem também, mesmo que repasse dinheiro a esses amigos pelos meios mais diversos.
Portanto, eleger Lula seria factível se a direita aceitasse derrubar Temer. Mas só se a direita aceitasse sua derrubada, pois ela controla tudo – Executivo, Legislativo, Judiciário, Mídia, Ministério Público e Polícia Federal. E havendo risco de Lula se eleger, a direita não vai se arriscar.
Mas se o TSE fosse isento como deveria, cassaria a chapa Dilma-Temer como andou ameaçando fazer, mas que agora não fará porque sabe que fazê-lo pode dar merda. E será fácil não cassar essa chapa; bastaria usar as razões corretas pelas quais essa medida seria um absurdo.
Porém, o TSE não pode inocentar a chapa Dilma-Temer, pois acabaria com grande parte do discurso do golpe. E então, o que fazer? Ir cozinhando o galo, em fogo brando.
O grande desafio do Brasil, porém, não é nem eleger Lula. Do jeito que a direita está ferrando o povo, qualquer um que se apresentar pela esquerda daqui a dois anos terá grande chance de se eleger. O problema é o Congresso. Mesmo que não seja tão reacionário, ainda estará longe de ser o Congresso que o Brasil precisa.
A única fórmula de acabar com a interferência do dinheiro em eleições será o financiamento público de campanha. E sob regras muito igualitárias, o que seria uma guerra dentro da guerra…
Enfim, o fato é que o Fora, Temer ficou mais distante. No entanto, há muita delação por aí. Mas de repente a Lava Jato entende que vai ser desmascarada e que seus condutores ainda vão ter que enfrentar as consequências de seus atos arbitrários e ilegais e acaba pegando Temer via STF.
De outro jeito será muito difícil Temer cair. Os golpistas precisam dele como eu e você precisamos de ar. Sem ele, o golpe desaba e Lula volta, porém sob um risco nada desprezível de vir a ser alvo do mesmo processo que cassou Dilma caso com ele não for eleita uma bela base de apoio.
Os golpistas se unirão em torno de Temer como se ele fosse uma boia salva-vidas. Inclusive o PSDB e a mídia.