NAZISMO não foi de esquerda ou direita, foi de EXTREMA-DIREITA
O recente ataque racista de extrema-direita ocorrido em Charlottesville, nos EUA, desencadeou uma onda de infâmias e mentiras por parte, justamente, de grupos de extrema-direita radicados no Brasil, tais como o MBL ou os ditos “bolsomínions”, cujo nome fala por si.
Foi necessária grande mobilização para interromper a rede de mentiras que tentava vender a pessoas de baixa instrução e cultura que o nazismo teria sido “um movimento de esquerda”.
Qual o problema em espalhar mais ignorância em um cenário de ignorância e bestialidade generalizadas? O problema é nazistas se venderem como democratas enquanto acusam democratas de serem nazistas.
Contudo, o absurdo é tão grande que até a mídia conservadora acabou intervindo.
Reportagem publicada nesta quinta-feira (17) pelo UOL tenta explicar o tamanho da ignorância de alguém que diz que o nazismo é de esquerda.
“A apropriação da palavra ‘socialismo’ na nomenclatura do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou Partido Nazista não tem nenhuma relação com a antiga social-democracia alemã, um dos partidos mais antigos, muito menos com o Partido Comunista russo, criado na revolução de 1917“, explica Estevão Chaves Martins, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
Com efeito, dizer que o partido nazista era “de esquerda” porque tinha a expressão “nacional-socialista” no nome equivale a dizer que o cavalo-marinho é equino e o peixe-boi é bovino porque o primeiro também é chamado de cavalo e o segundo, de boi.
Mas o grande problema da matéria do UOL é que incorre em um erro que muitos estão cometendo a fim de não melindrar as poderosas organizações empresariais, intelectuais, midiáticas e acadêmicas de direita no país: dizer que o nazismo não foi nem de direita, nem de esquerda – teria sido uma “terceira via”.
Conversa fiada. O nazismo, realmente, não foi de direita ou de esquerda: foi de EXTREMA-DIRETA. Perseguiu comunistas e judeus, colocou-os em campos de concentração e o partido comunista na ilegalidade. Era contra todos os valores da esquerda.
Se não for suficiente, segue manchete do jornal Folha da Manhã (hoje, Folha de São Paulo) de 1º de fevereiro de 1933, que informa a luta da esquerda alemã para impedir Hitler de chegar ao poder.
Que o nazismo não foi de esquerda, à exceção de meia dúzia de imbecis a grande maioria já sabe. Mas não foi de direita? Claro que foi. Só que foi de extrema-direita. Ideologicamente, Hitler era um capitalista. Enquanto prendia, torturava e matava comunistas, aliava-se ao empresariado.
Matéria da revista Superinteressante, da Editora Abril, publicada ano passado e intitulada “Os aliados ocultos de Hitler”, revela que Grandes corporações alemãs e até americanas patrocinaram o nazismo, enviaram funcionários judeus a campos de concentração e venderam a tecnologia que tornou o Holocausto possível. Tudo em nome de uma ideologia: o lucro.
Para arrematar, o especialista livre-docente e economista Ricardo Luis Chaves Feijó, da FEA-RP USP, explica a questão em “Uma interpretação do Primeiro Milagre Econômico Alemão (1933-1944)”:
“(…) No mercado de trabalho, o governo [de Adolf Hitler] impôs o controle dos salários: os salários foram congelados em 1934 e permaneceram fixos até 1945. As centrais sindicais foram abolidas e nenhum mecanismo de barganha coletiva sobreviveu. As greves foram proibidas e todos os trabalhadores, inclusive os de colarinho branco, tiveram que se filiar à organização nazista Frente de Trabalho Alemã, vinculada à Câmara Econômica do Reich: a instância máxima de controle de todas as atividades econômicas (…) A gigantesca I. G. Farben controlava áreas centrais de planejamento e liderança pessoal do Plano Quadrienal. Também amealhavam grandes negócios empresas como Siemens, Volkswagen, Krupp, Thyssen, Porsche, Gutehoffnungshütte, Rheinmetall etc. Enquanto isso, as indústrias de menor porte do setor de bens de consumo perdiam liberdade. Ohlerdof, economista do Reich, caracterizou a economia nazista de economia de concorrência imperfeita que favorecia grandes firmas (Grunberger, 1970: 124-125). Sua interpretação é correta. Então não se trata de um sistema que suprimiu a propriedade privada, o empreendedorismo e a concorrência. Trata-se, outrossim, de uma economia de comando que promoveu a cartelização da indústria, a fusão de empresas e gigantescos contratos com grandes grupos empresariais, como sustentáculo aos ambiciosos planos de conquista de outros países. A competição era promovida não em nível de pequenas empresas, mas na disputa entre grandes grupos econômicos por uma fatia dos negócios e por influência nas decisões de governo. Não era uma competição apenas de mercado, em que somente critérios de preço e de eficiência deveriam prevalecer, era uma disputa de natureza política em que os contratos eram tecidos com base na competência em posicionar-se na rede de poder do Terceiro Reich (…)”
Mas se nada disso lhe for suficiente, quem sabe você acreditará se o próprio Hitler lhe disser que era anticomunista, antimarxista e antiesquerdista. No vídeo abaixo, a prova de que Hitler não era nem de esquerda, nem de direita: era de extrema-direita.
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