Produtor da ração de Doria é suspeito de usar cobaias humanas
Na edição do Jornal Nacional de quinta-feira 19 de outubro, reportagem sobre a ONG Plataforma Sinergia, produtora da “farinata”, um “complemento alimentar” desenvolvido pela organização sob demanda do prefeito de São Paulo, João Doria, que pretende usar tal “complemento” para alimentar a população carente e alunos das escolas municipais.
Depois de uma polêmica que envolveu nutricionistas, nutrólogos, educadores e promotores públicos, porém, a Prefeitura de São Paulo decidiu adiar a inclusão de um complemento alimentar na merenda escolar. O Conselho de Segurança Alimentar do governo federal e o Ministério Público de São Paulo pediram explicações sobre a composição do produto.
O conselho que representa os nutricionistas em São Paulo não concorda e defende as refeições tradicionais. Acha que é um retrocesso.
“A farinata não teve suas informações de composição nutricional e nem sua ficha técnica divulgadas. Então, nós não temos condições de avaliar em relação ao valor nutricional. O conselho entende que a farinata não pode substituir um alimento porque ele também não tem características de alimento”, disse a conselheira do Conselho Regional de Nutricionistas Vivian Zollar.
Nem o Conselho Regional de Nutricionistas nem o Ministério Público de São Paulo sabem ao certo a composição do composto alimentar. E, por isso, o promotor de Direitos Humanos está pedindo à prefeitura análises e perícias detalhadas sobre o produto. Afinal de contas, a matéria prima usada na fabricação são alimentos que iam ser descartados.
Agora, porém, o caso, que já era perturbador, agrava-se ante graves denúncias.
Comecemos pelo começo. No site do governo do Estado de São Paulo o abrigo para pessoas carentes “Missão Belém” aparece bem na foto.
Apesar dos elogios de Alckmin, porém, a “Missão Belem” é investigada há seis anos pela polícia e pelo Ministério Público.
Abrigo ligado à Igreja Católica, a Missão Belém em Jarinu, cidade do interior de São Paulo, está sendo investigado pelo Ministério Público. Na comunidade terapêutica destinada ao tratamento de ex-dependentes químicos e ex-moradores de rua foram registradas 14 mortes no mês de junho deste ano, mas a instituição levanta suspeitas há seis anos.
O hospital que recebeu os corpos dos internos afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que todos estavam “em avançado estado de desidratação, desnutrição e intoxicação alimentar, e em alguns casos [as mortes estavam] associadas a doenças crônicas, HIV e sequelas de acidente vascular cerebral (AVC)”.
A Missão Belém é parceira da Plataforma Sinergia, a ONG responsável por produzir a farinata — divulgada como “alimento” pelo prefeito João Doria —, composto alimentar que a prefeitura pretende adicionar à merenda das escolas públicas municipais em São Paulo.
A Polícia Civil, peritos e a Vigilância Sanitária investigam as 14 mortes ocorridas quase que todas no mesmo período. Mas os problemas da Missão Belém com a lei vêm desde 2011; o Ministério Público e prefeitura da cidade investigam o abrigo, que funciona sem alvará.
Arquidiocese e a Missão Belém estão, lado a lado, como colaboradores da Plataforma Sinergia, que produz a ração de Doria para pobres, assim como a própria Prefeitura de São Paulo. São todos parceiros no projeto da tal “farinata”.
Vários sites especializados em alimentação, como o “E-Boca Livre”, e o site de notícias canadense “Vice”, estão levantando uma suspeita macabra:
“(…) Os que morreram no período apresentavam quadro de diarreia e vomito, seguido de desnutrição, desidratação e intoxicação alimentar. Outros 19, internados com os mesmos sintomas, sobreviveram. As vitimas moravam no sítio da Missão Belem. Metade delas era de idosos e moravam no sítio há anos.
Do dia 03 a 18 de julho, o hospital de Clinicas de Campo Limpo Paulista recebeu 25 internos da Missão Belém. “Se Deus decide levar, já não é problema nosso”, declarou o coordenador da instituição. O Padre Giampietro Carraro, fundador do grupo e que faz esse serviço inclusive no Haiti, não deu entrevista. A Arquidiocese de São Paulo, informou que a Missão Belém é independente.
Tudo isso seria um simples e escabroso caso policial, não fosse a importância de que se reveste agora: a Arquidiocese e a Missão Belém estão, lado a lado, como colaboradores da Plataforma Sinergia, assim como a Prefeitura de São Paulo
O que significa ser colaborador desse projeto? Ainda mais um abrigo de indigentes e drogados. Seria um campo de provas e experimentos? Como pode a Prefeitura de São Paulo se envolver com parceiros que não dispõem de licença para operar legalmente? O que os ditos “parceiros” estão fazendo para apurar a razão das mortes?
Eis ai um campo muito fértil para o jornalismo independente.
A sociedade está interessada em conhecer todos os laços da Plataforma Sinergia desde que o prefeito a trouxe para a esfera pública e pretende abraçar o seu projeto, inclusive abrindo-lhe as portas de escolas e creches. Nós, paulistanos, não queremos isso.
Ele não poderá fazê-lo, sob pena de responsabilização, se beneficiar de alguma forma entidades inidôneas, envolvidas em mortes até agora misteriosas. É mesmo urgente que a Camara dos Vereadores aprove a CPI para apurar as verdades, envolvendo os apoios à Plataforma Sinergia”
Perturbador, não? Quem são essas pessoas que governam o Estado de São Paulo e sua capital? Parece que esse poço é muito mais fundo do que se pensava. Se é que tem fundo…
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Assista, abaixo, a reportagem do Blog da Cidadania sobre o caso