Delator tentará explicar a Moro na sexta os recibos que Lula apresentou
Uma audiência na próxima sexta-feira (15) buscará ressuscitar dúvidas sobre o ponto mais polêmico do segundo processo em que o ex-presidente Lula é réu na Lava Jato: os recibos de pagamento de aluguel do apartamento vizinho ao em que ele vive em São Bernardo do Campo (SP).
Às 10h, o juiz Sergio Moro irá ouvir o contador João Muniz Leite, que confeccionou os recibos, e o engenheiro Glaucos da Costamarques, dono do apartamento e, assim como Lula, réu no processo.
Tanto Leite quanto Costamarques apresentaram versões contraditórias a respeito do pagamento dos recibos. De acordo com a denúncia da Lava Jato no MPF, o ex-presidente teria recebido como vantagem indevida um terreno em São Paulo, que serviria de sede para do instituto que leva seu nome, e o apartamento.
Tanto o terreno quanto o imóvel envolvem Costamarques, dono dos imóveis.
Costamarques mudou sua versão a respeito do pagamento do aluguel do apartamento no período de pouco mais de um ano. Ele foi interrogado em 6 de setembro por Moro e, na ocasião, negou que tivesse recebido o aluguel pelo imóvel entre 2011 e 2015. Após sofrer ameaça de prisão, Costamarques mudou o depoimento e passou a ac usar Lula de ter morado de graça no seu apartamento, sem pagar aluguel.
Porém, em seguida o ex-presidente apresentou mais de 30 recibos de aluguel. Em dois deles figuravam datas erradas. Por exemplo: um dos recibos tinha data de 31 de junho, mas junho só tem 30 dias. O Ministério Público se recusa a aceitar que esses dois recibos, em meio a mais de 30, contenham erros de digitação, mas não explica por que esses prováveis erros de digitação significariam que todos os recibos seriam forjados.
Além disso, Costamarques disse à Lava Jato que só receberá aluguéis a partir de 2015, mas o advogado de Lula, Roberto Teixeira, revelou e-mail que recebeu do mesmo Costamarques no qual ele envia uma planilha dos aluguéis que recebeu em 2013.
Por fim, Costamarques havia dito que os recibos de 2015 foram assinados todos de uma vez durante internação que o engenheiro teve no Hospital Sírio Libanês. O advogado Roberto Teixeira teria ido até o hospital e entregado os recibos. Porém, Moro requisitou os registros de visita do hospital e o advogado de Lula não esteve lá no período alegado por Costamarques.
Na sexta-feira, Moro tentará salvar alguma coisa da delação que o desesperado Costamarques fez para tentar escapar da cadeia, de forma a poder condenar Lula a tempo de ser julgado duas vezes também nesse processo antes das eleições de 2018, mas sem que o senhorio de Lula apresente provas de suas acusações desesperadas, Moro terá que absolver.