Quem é mesmo que produz “fake news” no Brasil?!

Reportagem, Todos os posts

Cresce a ofensiva da aliança entre a mídia corporativa e o Judiciário para censurar comunicadores independentes via criminalização das “fake news”. Bom momento para relembrar quem é mesmo que produz fake news no país. Não é mesmo?

PUBLICADO, ORIGINALMENTE, EM 1 DE FEVEREIRO DE 2018

Desde o fim do ano passado a Justiça estava avisada por Lula de que, em 27 de janeiro, ele daria uma palestra em Addis Abeba, capital da Etiópia, durante o Encontro Anual da União Africana. Porém, as tão faladas “fake news” impediriam o ex-presidente de viajar.

A participação de Lula no evento da União Africana se daria em um painel intitulado “Parceria renovada para acabar com a fome na África até 2025”. Porém, a seis horas do embarque um juiz do Distrito Federal determinou a apreensão do passaporte do ex-presidente motivado por boatos de que ele iria “fugir” porque o evento de que participaria seria uma invenção para que o ex-presidente consumasse a fuga

O juiz que tomou essa decisão é velho conhecido nosso. Em maio de 2017, O juiz substituto da 10ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, Ricardo Leite, mandara suspender as atividades do instituto Lula por conta da compra pelo governo Dilma de caças suecos para a força aérea brasileira.

Segundo matéria do UOL, à época, o despacho desse magistrado que suspendeu as atividades do Instituto Lula disse que a medida foi tomada em atendimento a pedido do Ministério Público Federal, mas o procurador da República Ivan Cláudio Marx negou à reportagem do UOL que tivesse feito o pedido a esse magistrado.

Seja como for, logo em seguida o desembargador Néviton Guedes, do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), com sede em Brasília, derrubou a decisão do juiz Ricardo Leite, por absoluta falta de materialidade na decisão e, inclusive, devido ao fato de que era mentira que o MPF tivesse pedido o fechamento do Instituto Lula.

Agora, o juiz afobado de Brasília atacou novamente impedindo a viagem de Lula, ao que tudo indica, com base nas tais fake News de que a mídia tanta fala, mas que não se furta a usar.

Tudo começou pouco antes do julgamento de Lula pelo TRF4. Começaram a circular boatos de que ele iria fugir. O ex-colunista de O Globo e agora na Veja Ricardo Noblat ajudou a alimentar os boatos.

O fato é que, no período imediatamente anterior ao julgamento passou a circular na internet a imagem de uma página da FAO, órgão da ONU, com as conferências regionais de 2018. A da África aparecia como prevista para se realizar entre 19 e 23 de fevereiro em Cartum, no Sudão.

Nos posts, os autores da farsa diziam que a Etiópia não tem tratado de extradição com o Brasil e essa seria era a prova definitiva de que o ex-presidente, já antevendo a condenação pelo TRF-4, planejara uma fuga.

Foi o que bastou para grandes órgãos de imprensa começarem a ventilar que Lula estava para fugir da Justiça brasileira.

O jornalista Carlos Brickmann embarcou na onda e assumiu como verdadeira a informação, numa nota publicada em seu blog “Chumbo Gordo.

Augusto Nunes repercutiu a notícia no site da revista Veja, dizendo que “Entre outras demonstrações de que mente mais do que respira, o ex-presidente fantasiou-se de perseguido político e lamentou a perda da oportunidade de mostrar como fez para que acabasse no Brasil a fome que continua.”

Algumas horas mais tarde, José Nêumanne Pinto deu a notícia na TV Estadão, chamando o caso de “ A farsa etíope”.

Foi o que bastou. Como o Judiciário pula quando a mídia manda, logo apareceu o juiz de Brasília que adora aparecer às custas de Lula para impedir Lula de viajar confiscando seu passaporte.

Contudo, era mentira. Abaixo, a foto do evento que Brickman, Veja e Estadão disseram que não ocorreu.

Em seguida, o site Poder 360 desmentiu a farsa contra Lula que Veja e Estadão divulgaram.

O fato é que o que aconteceu na Etiópia foi um evento até mais importante do que a conferência regional. Foi a Cúpula da União Africana, a 30ª, no qual a FAO participaria para debater um dos maiores problemas do continente: a fome e a desnutrição.

Augusto, Brickmann e Nêumanne, ou seja, ao menos dois grandes órgãos de imprensa, Veja e Estadão, deram curso a uma fake news. Por isso o passaporte de Lula foi confiscado e até agora não foi devolvido.

Após a descoberta da mentira, tanto o Estadão quanto a Veja apagaram as matérias mentirosas. Se você for ao Google e procurar as matérias dos dois veículos, vai dar com os burros n’água.

Ao clicar na matéria do Estadão intitulada “A Farsa Etíope”, você vai dar de cara com esta página

A mídia tem falado muito em “fake news”, pregando contra a manipulação de notícias e dizendo que só impérios de comunicação fornecem informações confiáveis. Os fatos mostram o contrário. Se a mídia quer combater as fake News, devia pôr no olho da rua pilantras como esses que fizeram a justiça tomar o passaporte de Lula por conta de uma mentira nojenta.

Assista, abaixo, a reportagem em vídeo. Em seguida, leia apelo do Blog aos leitores