Mercado não vê mais Haddad como vilão

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O mercado brasileiro passa por um momento de “euforia”, com o Ibovespa subindo e chegando ao patamar de 80 mil pontos após quase dois meses, enquanto o dólar fechou abaixo de R$ 4,00 pela primeira vez desde 20 de agosto. Mas o movimento repentino de otimismo tem criado estranheza nos investidores, principalmente com a proximidade de uma eleição tão indefinida.

De um lado, analistas apontam o cenário externo como um ponto que está ajudando na recuperação da bolsa, com os índices norte-americanos avançando enquanto os Treasuries recuaram. Porém, está ganhando força a avaliação de que o mercado já começa a indicar uma aceitação melhor sobre o nome de Fernando Haddad (PT), que está flertando com o centro.

“O mercado está leve, mas isso não quer dizer que não possa ter uma correção em um cenário mais pró-Haddad”, avalia Karel Luketic, analista-chefe da XP Investimentos. Para ele, o patamar de 80 mil pontos é uma boa precificação para o cenário binário que há hoje sobre a eleição. “Hoje pode até ter um pouco disso [Haddad pró mercado] no preço, mas está na margem. Se houver uma sinalização mais forte, concreta, o Ibovespa vai subir mais”, afirma.

Já Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, lembra do cenário visto em 2002, quando havia muito nervosismo no dólar. “Hoje temos uma condição muito melhor em solvência de moeda estrangeira do que éramos em 2002 – quando teve a carta aberta ao povo brasileiro”, afirma ele dizendo que o PT está usando a mesma estratégia daquela época ao tentar agradar o mercado. “Mas eu não sei até onde vão comprar esse mesmo discurso”.

“Essa melhora do Ibovespa é, em parte, pelo cenário interno que amenizou recentemente porque os juros nos EUA devem parar de subir e porque houve distanciamento do Bolsonaro para os demais [nas pesquisas] e há expectativa de transferência de votos de outros candidatos para ele””, avalia o economista.

Por outro lado, ele ressalta que Haddad é o maior risco do mercado por conta do “histórico negativo de gestão do partido”. “Os riscos serão ponderados a partir da definição do primeiro turno. Por enquanto, o mercado vai andar um pouco de lado. Houve um ajuste porque algumas ações ficaram muito baratas”, explica.

Apesar de concordar com esta linha de que o mercado está começando a aceitar melhor Haddad, o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, acredita que o que mais está animando o mercado ainda é a ideia de que Bolsonaro tem força para vencer.

As pesquisas seguem mostrando o deputado na frente e por mais que o cenário de segundo turno siga apertado, há uma expectativa de transferência de votos dos outros candidatos para Bolsonaro. “O movimento positivo [do mercado] pode se manter, mas os maiores riscos são: resultado do primeiro turno “apertado” e as pesquisas para o segundo turno”, avalia.

“Sobre Haddad, a aposta de pragmatismo precisaria ser confirmada durante o segundo turno. Ainda há sinais muito contraditórios no momento sobre este ‘aceno’ ao mercado”, conclui Faria. O mercado até está dando uma chance para o petista provar que pode colaborar, mas está recuperação não deve ir muito além do atual nível dos 80 mil. O cenário ainda é muito incerto e estamos longe de dizer que a turbulência ficou para trás.

Do InfoMoney.