Direita argentina começa a afundar como a brasileira

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Não podia haver um momento mais oportuno para os chamados “peronistas moderados” –ou seja, os não-kirchneristas– marcarem uma posição, quando a Argentina já se encontra a poucos meses das primárias eleitorais e a pouco mais de um ano do pleito presidencial.

Na semana em que o governo anunciou que teve de pedir outros US$ 7 bilhões (além dos US$ 50 bilhões pedidos em junho) ao FMI (Fundo Monetário Internacional), em que os sindicatos fizeram uma greve que parou o país e na qual o presidente Mauricio Macri teve de dar a amarga notícia do aumento da pobreza, os “peronistas moderados”, até então fiéis apoiadores do governo, deram um passo para o lado.

Não significa, ainda, que estejam todos desembarcando de uma vez do governo. Nas últimas votações, houve divisões, mas muitos continuam alinhados ao governo, embora de modo mais pontual.

Agora, a grande prova de sua fidelidade ou de seu total desembarque da base governista será o debate da lei do Orçamento para 2019, em discussão na Câmara de Deputados, sem data para votação.

Do ponto de vista dos “peronistas moderados”, que levam em conta principalmente os interesses das províncias, o novo Orçamento sobrecarrega as economias locais.

Porém, para o governo, é essencial aprova-lo como está, pois se trata de um requisito para que siga tendo acesso à linha de crédito do FMI –parte importante do valor, inclusive, já foi gasto (US$ 15 bilhões, ou R$ 60,7 bilhões).

Com o objetivo de manter governadores e congressistas peronistas moderados alinhados ao governo, Macri vem realizando reuniões. Nesta semana, seu secretário do Interior, Rogelio Frigerio, recebeu seus líderes no Senado e na Câmara de Deputados.

Ouviu deles que haverá apoio ao projeto de lei do novo Orçamento desde que se possam negociar alguns pontos, como um teto aos impostos das exportações –pedido dos empresários regionais.

“Não vamos aprovar o Orçamento como um documento fechado”, disse o congressista peronista Marco Lavagna.

O peronismo possui diversas correntes. Mesmo o partido justicialista, que congrega grande parte dos peronistas, tem divisões. Há os integrantes da Frente para a Vitória, que são os kirchneristas aliados a grupos sociais de esquerda de fora do peronismo. Eles têm Cristina Kirchner como líder e possuem fortes bancadas na Câmara de Deputados e no Senado.

Existem, também, no justicialismo, peronistas de centro e de direita, como o líder do PJ no Senado, Miguel Pichetto, que vinha funcionando como elo de diálogo entre o Mudemos, aliança governista do presidente Macri, e o peronismo moderado. Porém, Pichetto agora vem se descolando, com ambições de lançar-se como pré-candidato em 2019.

Ainda no PJ está a corrente mais ligada às províncias, à qual pertence Juan Manuel Urtubey, governador de Salta, a maior esperança dos peronistas moderados de mudança nos rumos do movimento.

Conhecedor de seu poder de mobilização, Macri tentou integrar Urtubey ao governo, levando-o a viagens internacionais e tentando assegurar apoios no norte do país.

Também existe a Frente Renovadora, que é peronista mas corre por fora do justicialismo. Liderada por Sergio Massa, a corrente tem muitos seguidores, porém vem inspirando cada vez menos confiança, por ele ter sido chefe de gabinete de Cristina Kirchner e depois ter aceitado receber aportes em caixa dois do próprio Macri para sua campanha à Presidência, em 2015, apenas para tirar votos de Cristina.

O fato é que, liderados por Urtubey, esses e outros nomes acabam de lançar o Peronismo Alternativo, uma nova força dentro dos formatos do peronismo. Com vídeo em que conversam amigavelmente sobre soluções para o país, tentam mostrar-se sem as caras fechadas que se pode observar entre os ministros e membros da cúpula do governo.

Em entrevista na quinta-feira (27), Urtubey diz que a ideia é reunir os peronistas que não estão de acordo com os rumos da economia, “mas também não querem voltar ao passado”. A ideia é não chamar nenhum kirchnerista.

Ele apresentou a frente como progressista e com ênfase na proteção dos mais pobres, que vêm sendo vitimados pela alta inflação.

O último aliado a se soltar de Macri e se juntar aos Peronismo Alternativo foi o governador de Córdoba, Juan Schiaretti. A província, que é muito conservadora, foi chave na vitória de Macri em 2015. Perder votos aí seria muito ruim para o Mudemos.

“Queremos oferecer uma alternativa aos argentinos que não querem mais ser parte da ‘grieta’ [fenda que divide a sociedade]”, disse Urtubey.

Da FSP.