Protesto contra o comunismo acaba em ato antifascismo

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Um protesto de cerca de dez manifestantes favoráveis a Jair Bolsonaro(PSL) tumultos e um início de confronto com estudantes no fim da tarde desta segunda-feira (29) na Universidade de Brasília.

O ato foi convocado neste domingo por apoiadores do capitão reformado, com o argumento de que a “universidade não é lugar de comunismo”.

Na prática, porém, apenas cerca de dez estudantes e manifestantes favoráveis ao candidato eleito apareceram.

Já o anúncio do protesto levou dezenas de outros alunos da universidade contrários ao presidente eleito a reagir contra o grupo com gritos “contra o fascismo”. A Polícia Militar não deu estimativa de público, mas os dois andares da entrada do prédio ICC Norte, espaço conhecido como Ceubinho, estavam lotados. Estudantes estimam que cerca de 200 pessoas estavam no local.

Os atos começaram por volta das 17h. De um lado, o grupo de alunos pró-Bolsonaro levou cartazes com os dizeres “é melhor jair se acostumando”. Um deles gritava “Vitória!”

“Vitória de quem?”, respondiam os estudantes do outro lado, com gritos como “racistas, fascistas, não passarão”.

“O que é ser comunista? É só porque eu discordo [do Bolsonaro]? Incitação da violência é crime, e não vamos tolerar o crime”, afirmou o estudante de engenharia mecatrônica Brandon Dias, 25, que fez um discurso no local.

Por volta das 17h15, estudantes se aproximaram. Houve tumulto e o início de uma briga, com chutes e pontapés. A Polícia Militar interveio para separar os dois grupos.

Sob gritos de “recua, recua” e “fora, fora”, manifestantes pró Bolsonaro foram forçados a sair e levados pela polícia ao prédio da Faculdade de Tecnologia. Para evitar novos confrontos, policiais fecharam o portão atrás do grupo, que se dispersou em seguida.

Mais cedo, a ameaça de protestos levou a UnB a pedir apoio à Secretaria de Segurança Pública e Polícia Federal para serem acionadas “em caso de necessidade”.

Alguns professores também suspenderam aulas por receio à segurança dos alunos.

​Para José Camargo da Costa, professor titular de engenharia elétrica, a situação preocupa. “É um momento de acirramento de ânimos. Minha preocupação é que aconteça alguma coisa por provocações”, disse ele, que saía de uma aula na hora do tumulto.

Para ele, o argumento de que há doutrinação ideológica nas universidades não se sustenta.

“Universidade é espaço plural. Tem uma réplica da sociedade aqui dentro. O contraditório é essência do conhecimento. Espanta ver alguém dizendo que determinado tipo de discussão é indevida porque não coaduna com sua visão de mundo.”

PICHAÇÕES

No fim de semana, foram registradas pichações e adesivagens de cunho político-eleitoral no ICC. Cartazes de uma exposição intitulada “Se essa rua fosse minha”, feita por estudantes do curso de graduação em museologia, também foram destruídos.

Em nota, a administração da UnB diz que recolheu os adesivos, limpou as pichações e está fazendo um levantamento das imagens de câmera de segurança.

“A UnB repudia atos de vandalismo e reitera seu compromisso com a paz e com os valores do Estado democrático de direito, que incluem a liberdade de cátedra e de opinião, com respeito ao próximo e aos direitos humanos. A universidade continuará com suas atividades acadêmicas e administrativas, em atenção ao cumprimento de sua missão institucional: o ensino, a pesquisa e a extensão”, completa a instituição.

Na última semana, universidades públicas de diferentes locais do país foram alvo de ações determinadas por tribunais eleitorais com a alegação de combater propaganda eleitoral irregular. No Rio de Janeiro, por exemplo, a Justiça Eleitoral ordenou que a Faculdade de Direito da UFF (Universidade Federal Fluminense) retirasse da fachada uma bandeira em que aparece a mensagem “Direito UFF Antifascista”. A medida gerou reação de entidades e de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Da FSP