De maioria democrata, Câmara dos EUA vê futuro de Trump como ‘questão em aberto’

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A posse do novo Congresso americano, na tarde desta quinta-feira, é motivo de preocupação para o presidente Donald Trump , que vive há 13 dias um impasse orçamentário . A nova presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi , eleita hoje ao cargo, afirmou que a possibilidade de processar o presidente “é uma questão em aberto”, indicando que os democratas, agora com a maioria entre os deputados, devem complicar a vida do chefe da Casa Branca.

Em uma entrevista na manhã de quinta-feira, Pelosi foi questionada sobre a possibilidade de o procurador especial que investiga a chamada trama russa, Robert Mueller, acusar formalmente o presidente, caso confirme irregularidades na conduta de Trump na eleição de 2016.

Dentre os motivos possíveis para uma complicação na situação de Trump, estão conluio com os russos, doação ilegal de campanha feita por seu advogado (no caso do pagamento pelo silêncio de duas mulheres que alegam ter tido relações extraconjugais com o presidente) e negócios de sua empresa. Pelosi demonstrou apoio às investigações e indicou que o caso pode ser debatido:

— Eu acho que é uma discussão aberta em termos da lei — disse ela, que também não descartou a abertura de um processo de impeachment contra Trump. — Temos que esperar e ver o que acontece com o relatório de Mueller, não devemos colocá-lo em dúvida por uma razão política e não devemos evitar o impeachment por uma razão política.

Uma orientação da assessoria legislativa do Congresso, datada do ano 2000, indica que um presidente em exercício não deve ser processado, pois isso desestabilizaria o país. Entretanto, Pelosi acredita que, como isso não está em nenhuma lei, há espaço para debate.

O atual procurador-geral (ministro da Justiça) americano interino, Matthew Whitaker, indicado por Trump após a demissão de Jeff Sessions, defende que um presidente não pode ser réu. O caso pode parar na Suprema Corte, que atualmente tem maioria conservadora e dois dos nove juízes indicados por Trump.

A nova Câmara dos Representantes, com o comando democrata, poderá agora investigar o presidente e suas políticas. De forma mais urgente, terá de resolver o impasse orçamentário: Trump não abre mão de destinar US$ 5 bilhões para a construção do muro na fronteira com o México, mas os democratas não aceitam isso. Nos últimos dias, democratas e republicanos voltaram a fazer uma nova proposta para manter o governo funcionando, sem entrar na questão do muro, mas Trump barrou o acordo.

O novo Congresso tem maioria democrata na Câmara (235 deputados contra 199 republicanos) e o Senado ampliou a maioria republicana (53 republicanos a 47 democratas). Esta nova legislatura é marcada pelo recorde de mulheres: 127 dos 535 congressistas, sendo 102 deputadas e 25 senadoras.

Na legislatura anterior, eram 110 mulheres, sendo 87 deputadas e 23 senadoras. Há ainda o recorde de 53 negros no Congresso, 42 latinos e dez congressistas assumidamente gays. A legislatura que toma posse nesta quinta-feira conta ainda com as duas primeiras mulheres muçulmanas e a primeira nativa-americana deputada.

Esta é a segunda vez em que Pelosi assume cargo de liderança na Câmara. Entre 2007 e 2011, ela já havia sido presidente da Câmara, antes de os republicanos terem iniciado os seus oito anos consecutivos de controle da maioria da Casa até 2018. De 78 anos, a democrata que representa São Francisco é uma importante voz da oposição e, agora, ocupa o terceiro cargo político mais importante dos EUA, atrás do presidente e do vice-presidente.

Do O Globo