Em momento crítico da educação, FUVEST usa Karl Marx e Chico Buarque em prova
A segunda fase da Fuvest, vestibular que seleciona para a Universidade de São Paulo (USP), teve, neste domingo, 6, questões de Língua Portuguesa com textos de Karl Marx, Chico Buarque e tirinha de Laerte. Já a prova de redação pediu que estudantes escrevessem sobre a “importância do passado para a compreensão do presente”.
O exame foi elogiado por professores por seu caráter “contemporâneo”. A última etapa da Fuvest continua nesta segunda-feira, 7, com questões específicas de acordo com a carreira escolhida.
Alguns dos temas das perguntas de Português foram patriarcado, ditadura militar e racismo. O texto de Karl Marx foi usado para discutir a figura histórica da mulher no capitalismo. Os candidatos também tiveram que analisar o gênero discursivo da letra da música “Meu Caro Amigo”, de Chico Buarque, que retrata um momento da ditadura militar. A tirinha da cartunista Laerte expunha problemas com burocracia.
Para Gabriela Carvalho, coordenadora de Redação do Curso Poliedro, a prova testou o conhecimento dos alunos. “A Fuvest, mais uma vez, não se eximiu do papel político que tem. Foi uma prova muito bem elaborada, que testou a capacidade de interpretação, não apenas do que está lendo, mas do mundo em que vive. A Fuvest trouxe questões menos conteudistas.”
Para a proposta de redação, a Fuvest desenvolveu o tema com textos que falavam sobre o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, o progresso na história da sociedade e sobre a memória da humanidade e uma imagem da escultura “Amnésia”, que retrata um menino negro jogando um balde de tinta branca na cabeça. Para professores de cursinho, a prova não trouxe surpresas.
Eva Albuquerque, professora de redação do Cursinho da Poli, afirmou que a proposta da redação é “contemporânea” e não deve ter trazido dificuldades para os candidatos. “A proposta não prendia o aluno para falar apenas sobre o Museu Nacional ou racismo, mas pedia que ele explicasse a importância de se compreender o passado para entender o presente. Ele podia abordar questões sociais, políticas, culturais”, diz Eva.
Para Gabriela Carvalho, a Fuvest aproveitou um tema “relativamente esperado” pelos candidatos – o incêndio do museu, que já havia sido usado na primeira fase do vestibular do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) – para propor uma reflexão sobre uma situação mais ampla e contemporânea que a sociedade brasileira vive.
Alguns candidatos, no entanto, relataram ter se surpreendido com o tema. No texto, eles se dividiram entre citações de exemplos históricos. A estudante Geovanna Gabriela de Jesus Barbosa, de 17 anos, citou a relação entre o impacto da escravidão para o racismo atual. Ela quer cursar Gestão de Políticas Públicas. “Achei difícil porque era muito aberto e podia fugir muito fácil do tema.”
Já Gabriel Afonso, de 19 anos, citou a queda do Muro de Berlim e a preservação de pedaços da estrutura até hoje como forma de lembrança histórica. “Foi um tema que abriu margem para muitas reflexões, com todo tipo de referência”, diz.
Natália Santos, de 18 anos, diz que aproveitou o tema para cobrar as autoridades. “Foquei no caso do incêndio que destruiu o Museu Nacional, para cobrar que os governantes valorizem mais nosso passado e a cultura. É algo que está faltando.”
Segundo a Fuvest, foram convocados 35.371 candidatos para essa etapa, quantidade 62,3% maior do que em 2018. O primeiro dia de exame apresentou um índice de abstenção de 7,7%.
Do Estadão