Os tempos do populismo de direita são estranhos e sombrios
Alguém pode argumentar com certa razão que talvez tenhamos todos enlouquecido. De tal maneira que nem mais separamos loucura e realidade. Como Ismalia, estamos na torre a gritar. Talvez seja este mesmo o caso. A coisa é tão grave que talvez ter enlouquecido nem seja o pior cenário.
O que vivemos hoje seria impossível imaginar algumas poucas décadas atrás. A realidade, afinal, nunca se deixou superar pela ficção. A vida sempre foi mais matreira que a arte. E jamais imitou-a, como muitos queriam.
É neste estado de coisa que o mundo e todo mundo vai balançando. Seria inimaginável que, na maior potência mundial, Democratas, e Republicanos sejam capazes de aceitar a paralisação do governo em função de um muro, seja de metal, seja de concreto.
É obvio que estas são apenas posturas políticas visando as eleições de 2020. Mas jamais se imaginaria que políticos estariam dispostos a pagar tão caro pelo protagonismo ou pela ilusão da opinião pública de que saíram por cima. Espantoso.
Do outro lado do Atlântico, a loucura também anda solta. Depois de um referendo para sair da União Europeia, o Reino Unido se divide sem achar solução sobre o que isto quer dizer. Há quem diga até que mudaram de opinião. Vai saber.
Por trás de cada uma destas trapalhadas, emerge a realidade de que, globalmente, os políticos e os sistemas políticos democráticos tem perdido sistematicamente a capacidade de representar os interesses dos eleitores.
Em outras palavras, os políticos não mais são capazes de traduzir os votos que recebem em uma agenda que represente minimamente os interesses da maioria da população. O mundo parece navegar a deriva a espera de algo que não vem. De uma liderança que não aparece.
Vai erodindo a democracia aos poucos. E tomando o veneno silencioso ou as vezes estridente em excesso, do populismo. Tempos estranhos. E muito perigosos.
Da Veja