Suspeitas contra Flávio Bolsonaro fortalecem Renan no Senado

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Não há como o governo Jair Bolsonaro escapar ileso da confusão que envolve seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, e seu ex-assessor Fabrício Queiroz. Ela se fará sentir tanto na eleição para as mesas do Legislativo quanto na votação da reforma da Previdência.

É possível que Flávio se livre das garras da Justiça. São, para empregar um termo dele próprio, até “plausíveis” as explicações que deu ontem aos depósitos fracionados de R$ 96 mil em sua conta, ao pagamento de R$ 1 milhão em título da Caixa e à movimentação de R$ 7 milhões em três anos, apontada em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Flávio alegou que todas as movimentações são resultado de transações imobiliárias realizadas entre 2014 e 2017 e dos limites de depósito impostos pelo caixa eletrônico da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir sobre o destino da investigação, caberá à instância competente analisar seus argumentos, aceitá-los ou rejeitá-los.

Enquanto isso, Flávio não se livrará do custo político associado ao episódio. Sua força no Parlamento, como filho do presidente e um dos senadores mais votados, encolheu diante das suspeitas de envolvimento de seu entorno num esquema clássico de desvio de dinheiro público na Alerj, conhecido como “rachadinha”.

O aceno do senador Renan Calheiros é um primeiro sinal disso. Renan parece insinuar que, se eleito presidente do Senado, poderia garantir algum tipo de proteção a Flávio caso as investigações avancem. Em troca, precisa se não do apoio explícito, pelo menos da concordância tácita com sua candidatura à presidência da Casa.

O minueto acabará por resultar, no início da nova legislatura, com o Congresso sob o comando de dois nomes associados à velha política: Rodrigo Maia na Câmara, Renan no Senado. Maia é citado em delações da Operação Lava Jato como beneficiário de dinheiro sujo; Renan responde a uma dúzia de processos no STF.

O PSL, partido do presidente Bolsonaro, já deu apoio a Maia, praticamente garantindo sua vitória. Embora Renan seja repelido pelos governistas e tenha sido alvo de protestos nas ruas e nas redes sociais, o caso Queiroz muda o cálculo político para o governo.

A maioria governista no Senado é bem mais frágil que na Câmara. Basta o voto de 33 senadores para fazer naufragar qualquer proposta de reforma da Previdência. Partidos de oposição já somam 20. Não seria nada difícil para uma raposa da política como Renan reunir em torno de si outros 13, em partidos anfíbios como MDB, PSDB ou PSD.

Desprezar o fator Renan ou enfrentá-lo poderia ser, para Bolsonaro, o equivalente à rejeição do nome de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara no início do governo Dilma Rousseff. Cunha venceu e foi, dali em diante, decisivo para a desmontar a agenda legislativa do governo. O enfrentamento culminou no impeachment de Dilma.

O caso Queiroz pode, por uma dessas ironias da política, ter trazido a Bolsonaro uma oportunidade de afastar o risco de que Renan se transforme no Eduardo Cunha de seu governo. Bastaria, para isso, ele aceitar a mão estendida pelo senador alagoano. De quebra, garantiria proteção a Flávio.

A maior ironia não está em Bolsonaro precisar da ajuda de figuras como Maia ou Renan para se garantir no Congresso. Isso era sabido desde a campanha eleitoral.

Irônico mesmo é, em apenas duas semanas, um presidente eleito brandindo a bandeira do combate à corrupção e seu ministro da Justiça, o maior herói da Lava Jato e especialista em desbaratar esquemas de lavagem de dinheiro, já terem de lidar com as suspeitas que cercam Queiroz e Flávio. Verdade que nada têm a ver com o caso. No plano da imagem, porém, a contradição com o discurso da campanha é tão flagrante, que será impossível se dissociarem dele.

Do G1