João Chaves: Moro se tornou fiador jurídico de um governo de lunáticos

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De João Chaves:

Entre Jesus na goiabeira e o jornalista infiltrado pela KGB, há pouca gente que passaria no psicotécnico no time de primeiro escalão de Bolsonaro. O ministro Sergio Moro pode ser acusado de muita coisa, mas certamente não está entre aqueles sob risco iminente de uma interdição judicial.

Enquanto juiz, Moro foi alvo de diversas acusações de parcialidade, sobretudo por frequentar eventos e posar sorridente para fotografias ao lado de opositores políticos de alguns dos acusados sob sua jurisdição.

Entretanto, ainda que a conduta social do juiz possa ser entendida como um indício, ela não representa uma evidência conclusiva de sua parcialidade. Um argumento mais contundente, embora pouco mencionado por seus críticos, está nos frequentes comentários de cunho político para ganhar manchetes, realizados no corpo de suas decisões, de maneira bastante inusitada. Os processos em questão ganhavam ares de espetáculo ou de circo, a depender do ponto de vista.

O uso constante de medidas intimidatórias, como conduções coercitivas e prisões abusivas, reflete o perfil do juiz, ainda que frequentemente contrário aos direitos e garantias constitucionais.

O pacote anticrime apresentado por Moro nesta segunda-feira (04/02) possui algumas medidas demagógicas e outras, pouco efetivas. O chamado “populismo penal” ajudou a eleger Bolsonaro, sobretudo porque o discurso de endurecimento de medidas contra o crime ignora o papel das desigualdades sociais e do crescimento exponencial da população carcerária no aumento da violência urbana.

Não se ignora que grande parte das medidas propostas pelo Ministro da Justiça já fossem aplicadas na prática pelo Judiciário. O discurso entoado pelo governo, entretanto, tende a encorajar decisões que comprometam ainda mais o sistema carcerário e os índices de violência no país.

O pacote de Moro é a antessala do banho de sangue prometido há anos por Bolsonaro.