Rússia entrará em negociações contra o golpe na Venezuela

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Rússia e Venezuela coordenaram nesta quinta-feira os próximos passos diplomáticos para tentar resolver a crise no país sul-americano, que se concentram no apoio à proposta de diálogo feita pelo chamado Mecanismo de Montevidéu — lançado, no início do mês, pelos governos de México, Uruguai, Bolívia e Comunidade do Caribe (Caricom).

A Rússia, que até agora tinha permanecido à margem de negociações internacionais para a resolução do impasse provocada pela queda de braço entre o presidente Nicolás Maduro e o líder opositor Juan Guaidó, defendeu a entrada de novos mediadores para um “diálogo intervenezuelano, desde que Caracas e as principais forças políticas do país deem o sinal verde”.

— Se os nossos serviços são necessários, então estamos dispostos a estudar essa possibilidade. Acreditamos que alcançar a paz na Venezuela só é possível através de um diálogo multilateral baseado no respeito — disse Maria Zakhárova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo.

A proposta será discutida nesta sexta-feira pelo chanceler russo, Sergei Lavrov, e a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, que chegará a Moscou. A visita é a de mais alto escalão do país desde que Guaidó, presidente da Assembleia Nacional venezuelana, se proclamou presidente interino em 23 de janeiro e foi reconhecido por 50 países. A oposição argumenta que Maduro é um “usurpador”, uma vez que seu segundo mandato, iniciado em 10 de janeiro, foi obtido em eleições realizadas sem condições mínimas de participação democrática.

Na véspera da chegada de Delcy à capital russa, Lavrov denunciou as tentativas “flagrantes” de criar “pretextos artificiais” para a intervenção militar na Venezuela, entre outras coisas, com a oferta de uma operação humanitária.

— Não é por acaso que as autoridades brasileiras, por exemplo, já declararam que não vão participar ou emprestar seu território para a agressão dos EUA contra a Venezuela.

Desde o início da crise, o presidente russo, Vladimir Putin, vem apoiando Maduro contra o que ele chamou de “interferência destrutiva” dos EUA, e defende o diálogo para resolver a crise. Além disso, a Rússia anunciou que irá vetar o projeto de resolução dos EUA na ONU sobre o tema.

— Hoje os Estados Unidos estão tentando se vingar da plataforma do Conselho de Segurança da ONU. Um projeto de resolução sobre a Venezuela será submetido a votação. Não há nada de novo lá. A mesma mistura de demagogia, acusações recorrentes e ultimato. A Rússia não pode apoiar esse projeto — afirmou Putin.

Em resposta, o país irá apresentar uma resolução alternativa, discutida em Genebra pelo chanceler venezuelano Jorge Arreaza e o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Vershinin. De acordo com a agência Interfax, o texto russo argumentará que devem ser os próprios venezuelanos a resolverem a crise no país através de um processo político pacífico.

No início da semana, Guaidó negou que Maduro tenha o “amplo apoio” do Kremlin, em entrevista ao jornal de oposição russo “Novaya Gazeta”. “Não houve nenhum novo crédito ou nenhum grande investimento. Simplesmente declarações públicas. Eu não vejo amplo apoio”, disse.

A Rússia e a China são hoje os principais parceiros comerciais e credores da Venezuela.

De O Globo